Assim como aconteceu no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-ES), pode ser que o processo no Superior Tribunal de Justiça (STJ), que apura se o então candidato ao governo Paulo Hartung cometeu crime eleitoral durante a campanha do ano passado, também não dê em nada. Mas a dor de cabeça que esse caso está causando para o governador, não tem preço.
Foi muito oportuna a ação do PSOL, que em setembro de 2014, ingressou com a abertura de uma investigação judicial contra o então candidato do PMDB por violação do Código Eleitoral.
Na representação, o partido pediu a quebra do sigilo fiscal de Hartung e da mulher, Cristina Gomes, para apurar a omissão do patrimônio real do candidato. Também foi solicitada a quebra do sigilo bancário da empresa de consultoria Éconos, para apurar a suspeita de formação de uma “caixa dois” eleitoral.
Para o PSOL, Hartung teve a intenção de ocultar seus bens com o objetivo de enganar os eleitores, provocando um desequilíbrio na disputa com os demais candidatos.
Entre os bens ocultados, o então candidato “esqueceu” de informar à Justiça Eleitoral, por exemplo, que tinha uma mansão cinematográfica em Pedra Azul. O PSOL também questionou ESSE TRECHO DO TEXTO FOI EXCLUÍDO POR DECISÃO JUDICIAL
Apesar da gravidade das acusações, todas escoradas em documentos, a ação do PSOL foi vista com desdém pela classe política. A bolsa de apostas antecipava em dez contra um que o processo não daria em nada, principalmente depois que Hartung venceu as eleições.
De fato, quase oito meses depois da formalização da denúncia, o desembargador Sérgio Luiz Teixeira Gama classificou a omissão de Hartung como “mera irregularidade”, que não teve influência sobre a disputa. Gama chegou a admitir que seria “recomendável” que o então candidato declarasse integralmente seus bens. Mas, já que não o fez, paciência. Não é?
Não será surpresa que a ação, que acabou subindo para o STJ — por decisão do procurador regional eleitoral — acompanhe a decisão do TRE e também não dê em nada.
e qualquer maneira, a ação do PSOL não terá sido em vão. Ela serviu para documentar a manobra articulada por Hartung para esconder do eleitor que ele é um homem rico, muito rico. O que exatamente ele queria esconder com a estratégia continua no ar, já que a Justiça Eleitoral o poupou de dar explicações.
Seria interessante conhecer, por exemplo, a memória de operações da Éconos; por que ele não quis assumir que é dono de uma mansão em Pedra Azul e o motivo de ele ter aberto uma empresa familiar para acomodar todo o patrimônio herdado do pai justamente após deixar o governo.
Em tempos de transparência, aí está o exemplo da Lava Jato que não nos deixa mentir, seria muito oportuno que Hartung explicasse essas denúncias, não para a Justiça, mas para a sociedade.
Insistir em omitir os fatos confiando na condescendência da Justiça pega muito mal para um homem público. Já que o governador jura de pés juntos que não tem nada a esconder, por que ele não vem a público e responde de vez os questionamentos do PSOL? Seria uma atitude republicana, como ele gosta de dizer, que decantaria todo a suspeição que existe hoje em torno das denúncias.

