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​Democracia à prova de dados

Desafios e oportunidades da governança em uma era de tecnologias avançadas e desinformação

No século XXI, a intersecção entre tecnologia e política tem se tornado um campo de batalhas éticas e ideológicas. A ascensão das Inteligências Artificiais (IAs) como possíveis candidatas a cargos políticos não é uma questão de ficção científica, mas uma realidade tangível que nos obriga a reavaliar os fundamentos da democracia. O advento de IAs capazes de processar vastas quantidades de dados e formular políticas com base em análises precisas promete eficiência, mas também levanta questões profundas sobre a integridade e a representação democrática.

A Organização das Nações Unidas (ONU), ciente dos desafios informacionais contemporâneos, recentemente lançou cinco princípios globais para a integridade da informação. Estes princípios visam criar um ambiente digital mais seguro e confiável, combatendo a desinformação e promovendo a transparência. A confiança e resiliência social, incentivos saudáveis, empoderamento público, meios de comunicação independentes e transparência são fundamentais para garantir que a informação que circula no espaço público seja confiável e que os cidadãos possam tomar decisões informadas.

No entanto, a proliferação de tecnologias digitais não regulamentadas tem efeitos devastadores, especialmente sobre os mais jovens. Crianças e adolescentes estão expostos a um ecossistema digital que muitas vezes prioriza o engajamento sobre o bem-estar. Estudos revelam que a ansiedade e os distúrbios alimentares entre jovens têm aumentado significativamente devido ao uso excessivo de redes sociais. Propostas emergentes, como o Movimento Desconecta e a implementação de um feed seguro para crianças, buscam mitigar esses efeitos, pressionando as grandes empresas de tecnologia a repensarem seus modelos de negócio.

A possibilidade de uma IA governar, por mais tentadora que pareça em termos de eficiência, colide com a essência da governança democrática. A capacidade de uma IA de processar dados e tomar decisões objetivas não substitui a necessidade de empatia, compreensão de contextos sociais complexos e discernimento ético – qualidades intrinsecamente humanas. Além disso, a imparcialidade das IAs é frequentemente questionada, dado que algoritmos podem ser manipulados para favorecer determinados interesses, distorcendo assim o processo democrático.

Em meio a essas transformações, a ONU destaca a necessidade de meios de comunicação livres e pluralistas como pilares da integridade informacional. Uma imprensa independente é fundamental para um discurso cívico informado e para a sustentação do Estado de direito. A transparência das plataformas tecnológicas e o acesso à pesquisa são igualmente essenciais para compreender e mitigar os riscos informacionais.

Portanto, enquanto navegamos pelas águas turvas da inovação tecnológica e suas implicações sociais, é essencial que não percamos de vista os valores democráticos que sustentam nossa sociedade. A implementação de IAs na política e as transformações nas redes sociais devem ser acompanhadas por um debate robusto e regulamentações que protejam a integridade do processo democrático e o bem-estar dos cidadãos. A tecnologia pode ser uma aliada poderosa, mas nunca deve substituir a complexidade e a profundidade da liderança humana.

Então, diante dessas mudanças iminentes, a pergunta que se impõe é: estamos preparados para confiar nossas escolhas mais significativas a máquinas que, embora precisas, carecem da essência humana que fundamenta a verdadeira democracia?

Flávia Fernandes é jornalista, professora e autêntica “navegadora do conhecimento IA”
Instagram:
@flaviaconteudo

Emal: [email protected]

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