O impacto das redes sociais em meio à crise global de confiança institucional
No Brasil, onde a democracia é jovem e a polarização política se intensifica a cada ciclo eleitoral, a desinformação é uma ameaça real e imediata. As plataformas de mídia social, que deveriam ser espaços de troca de informações verídicas, se transformaram em difusores para teorias conspiratórias e notícias falsas. O caso de Trump nos Estados Unidos serve como um alerta para nós: estamos preparados para enfrentar a tempestade de desinformação que se avizinha nas eleições?
Desde que Musk assumiu o comando do X, as demissões em massa e o desmantelamento das equipes de moderação de conteúdo tornaram a plataforma um terreno fértil para a desinformação. No Brasil, a situação é igualmente preocupante. Com uma infraestrutura tecnológica ainda em desenvolvimento e um sistema de fiscalização muitas vezes insuficiente, as campanhas eleitorais podem ser facilmente manipuladas por notícias falsas, memes difamatórios e teorias da conspiração.
Imagine um cenário onde candidatos são alvos de ataques coordenados baseados em informações fabricadas. A confusão gerada poderia facilmente mudar o rumo de uma eleição. No caso de Trump, a desinformação chegou a sugerir que a vice-presidente Kamala Harris tinha sido baleada ou que um ator de “Esqueceram de Mim 2” estava envolvido. No Brasil, podemos esperar algo diferente?
Provavelmente, não! Com a capacidade de gerar conteúdo enganoso e direcionado, os algoritmos das redes sociais podem criar realidades paralelas onde qualquer coisa é possível e tudo é questionável.
A decisão de Musk de limitar o acesso à *API do X, dificultando o trabalho dos pesquisadores de desinformação, é outro ponto crítico. Sem a capacidade de analisar e entender como as notícias falsas se espalham, estamos desarmados frente a uma onda de manipulação digital. A academia brasileira, assim como a internacional, depende desses dados para desenvolver estratégias de combate à desinformação e para educar a população sobre os perigos de acreditar cegamente no que aparece em suas telas.
Para piorar, a desinformação tende a se propagar mais rapidamente em períodos de alta visibilidade e carga política, exatamente o que uma eleição proporciona. As eleições de 2024 no Brasil serão um importante teste para a nossa democracia e para a resiliência das nossas instituições frente à desinformação. A responsabilidade recai não apenas sobre as plataformas de mídia social, mas também sobre os próprios candidatos, eleitores e autoridades reguladoras. Precisamos de um compromisso firme com a verdade e de mecanismos eficientes para identificar e conter a desinformação antes que ela se torne incontrolável.
O atentado a Trump e a subsequente avalanche de desinformação no X são presságios sombrios para o que pode acontecer no Brasil. A fábrica de desinformação está operando a todo vapor, e só uma sociedade bem informada e vigilante poderá resistir às suas maquinações. É hora de agirmos, antes que seja tarde demais.
*API (Application Programming Interface) é um conjunto de definições e protocolos que permite a comunicação entre diferentes softwares. As APIs permitem que um software se conecte e interaja com outro, trocando dados e funcionalidades de maneira padronizada e segura. Elas são amplamente usadas para integrar sistemas, serviços e aplicações, facilitando a criação de soluções complexas a partir de componentes independentes.
Flávia Fernandes é jornalista, professora e autêntica “navegadora do conhecimento IA”
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