De 2008 para cá, o Tribunal de Contas do Estado (TCE), a exemplo do Tribunal de Justiça, Ministério Público e Assembleia, vem fazendo um forte trabalho de revitalização da imagem da instituição.
Nessa nova roupagem, a corte de contas se “vende” como um instituição austera, ilibada, transparente, imparcial e outros adjetivos congêneres que a colocam acima de qualquer suspeita.
Apesar de todo o esforço, algumas “coincidências”, no mínimo curiosas, levantam suspeição sobre as decisões da corte, que ainda parece estar vulnerável à ingerência política. Sabendo da importância estratégica do tribunal, não foi à toa que o então governador Paulo Hartung influiu na escolha de cada um dos conselheiros. Ele sabia que a corte poderia ter papel decisivo para fazer “vistas grossas” a aliados e acompanhar com mais “atenção” adversários. Hoje, dos seis conselheiros (um está afastado), pelo menos quatro são próximos do ex-governador.
O episódio envolvendo o ex-prefeito de Vila Velha Neucimar Fraga (PV) dá margem para pôr em suspeição as movimentações do TCE. Sem entrar no mérito da questão — se Neucimar pagou mais caro ou não para contratar uma dupla de cantores em show promovido pela prefeitura, mesmo porque não é nosso interesse fazer o papel de advogado do ex-prefeito —, o fato é que o caso aparece em um momento bastante oportuno para quem “torce” contra o candidato do PV.
Neucimar está negociando com o PSB de Renato Casagrande uma possível candidatura ao Senado, ao mesmo tempo em que mantém aberta a disputa à Câmara, seja qual for o caminho, o ex-prefeito já decidiu que irá com o governo. A partir do momento em que fez a escolha, Neucimar passou a ser automaticamente adversário de Hartung. Não custava nada o ex-governador usar de sua influência para fazer andar mais depressa o caso de Neucimar no Tribunal de Contas. Ou alguém acha que esse tipo de manobra não cabe mais no atual TCE?
Frisamos, independente do mérito das irregularidades levantadas pela corte de contas, é estranho que alguns casos venham à tona em “momentos tão especiais”. Mesmo porque, existe um sem-número de casos de represados na corte que não desencalham nem por reza brava.
Talvez o caso de Neucimar sirva de exemplo para outros ex-prefeitos que também têm alguma pendenga na corte. Com os prefeitos com as popularidades em queda, os ex-prefeitos passam a ser peças-chave no processo eleitoral. Muitos deles gozam de grande prestígio junto ao eleitorado. Logo, são importantes indutores de votos, sobretudo nos municípios do interior.
Dentro dessa lógica, as escolhas dos ex-prefeitos podem significar uma boa blindagem ou um linchamento público cruciante.

