Segunda, 29 Abril 2024

'Central de Espionagem' da Vale investigou até artista plástico

'Central de Espionagem' da Vale investigou até artista plástico
Um documento do Departamento de Segurança Empresarial (Dies) da Vale, encaminhado pelo ex-gerente André Almeida aos deputados estaduais Gilsinho Lopes (PR), Euclério Sampaio (PDT) e Marcelo Santos (PMDB), revela investigação da empresa ao artista plástico e ativista do Movimento Pó Preto no Estado, Filipe Borba. A Vale atribui a ele um desenho anexado em outdoor de apoio à Festa da Penha, no ano passado, que protestava contra a poluição do ar emitida pela empresa.
 
Denominado “Missão Outdoor”, com data de 13 de abril, o relatório detalha os esforços da área de Segurança para localizar o autor do ato apontado pela empresa como “vandalismo” a um outdoor localizado na avenida Dante Michelini,em Jardim Camburi, Vitória. A Vale recorreu ao Disque-Denúncia e à Polícia Militar, que se colocaram à disposição da empresa e buscaram informações, porém sem sucesso.
 
O documento relata inclusive a ida dos funcionários da área de Segurança da Vale ao Centro Integrado de Operações e Monitoramento gerenciado pela Guarda Municipal da Capital, para uma tentativa de recapturar as imagens da noite do dia 11 de abril até a manhã do dia posterior. O desenho retrata um homem cheirando pó de minério por um canudo diretamente de uma chaminé ao lado de uma logomarca da Vale e os seguintes dizeres “Pó preto Vale?
 
“Por volta das 03:18 hs a luz que ilumina a peça publicitária é apagada, provavelmente pelos autores do ataque. Porém, como a câmera mais próxima fica em frente ao Clube dos Oficiais da PMES não foi possível identificar detalhes da ação. A Guarda Municipal se colocou à disposição para colaborar e prometeu intensificar as rondas nos pontos onde a propaganda está sendo feita”, diz o relatório.
 
Não satisfeita, a área de segurança buscou informações no Hotel Sol da Praia, devido à proximidade com o local do outdoor. As respostas encontradas também não foram consideradas esclarecedoras, até que a própria Vale, segundo o denunciante utilizando seus “meios de espionagem”, descobriu o autor do protesto, em apenas dois dias.
 
Na época, uma imagem do protesto feito no outdoor da Vale foi publicada em redes sociais, inclusive do artista plástico Filipe Borba, e endereços eletrônicos de movimentos sociais que combatem a poluição do ar no Espírito Santo.
 
A empresa verificou também a integridade dos demais outdoors. “Além da própria peça ao lado do Hotel Sol da Praia, foram visitados os outdoors na entrada da Terceira Ponte (proximidade da Praça do Cauê) e na Avenida Cesar Hilal (nas proximidades do Posto Marcela), todos sem qualquer alteração física”.
 
André Almeida, que denunciou prática de espionagem da empresa a funcionários e movimentos sociais em abril deste ano, informa ainda que a empresa somente não processou Filipe Borba devido ao processo eleitoral de 2012. A Vale identificou ligações entre o artista plástico e o articular da Rede Sustentabilidade no Estado, Gustavo De Biase, que foi candidato a prefeito pelo Psol em Vitória. Como De Biase era o único a tratar abertamente da poluição do ar, a empresa teve receio de aumentar seu palanque. Dossiês revelados pela ex-gerente também aponta investigações a De Biase, que recorreu a instituições públicas pedindo apuração das denúncias.
 
“Qual a motivação de descobrir o artista que colou o seu desenho? Para quê utilizar o pessoal do Disque-Denúncia, da PM e seu pessoal próprio nessa busca de dados? Não sairia mais barato simplesmente limpar o outdoor?”, questiona Almeida no material encaminhado aos deputados.
 
Aparato do Estado
 
O documento “Missão Outdoor” foi apresentado ao plenário da Assembleia Legislativa pelo deputado estadual Gilsinho Lopes (PR), na sessão dessa quarta-feira (26). Ele “repudiou veemententemente” a investigação da Vale, que classificou como “arapongagem”, e ainda a disponibilização do aparato estatal e municipal para defender os interesses da empresa. “Utilizaram um míssel para pegar uma formiguinha”, ressaltou o deputado.
 
Gilsinho criticou ainda a interferência da empresa no 181, serviço de Disque-Denúncia, que tem caráter sigiloso”. O presidente da ONG Espírito Santo Unido Pela Paz (Esupaz), Luiz Dalvi, que mantém parceria com a Secretaria de Estado de Segurança (Sesp) para o serviço, é citado no documento.
 
“Os manifestantes estão nas ruas, com o grito de ‘acorda brasil’, pedindo a instalação da CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito] do Pó Preto. Nós também seremos cassados pela Vale? Nós estamos correndo risco de ser investigados e espionados pelo grupo de [Luiz] Sorezini [relações públicas da Vale] e companhia? Não tenho medo”. 

 
O deputado garantiu que irá continuar firmemente no seu objetivo de conseguir as assinaturas necessárias para iniciar a investigação sobre a poluição do ar na Grande Vitória e convocou os demais parlamentares à responsabilidade. “Os que assinaram sabem da sua responsabilidade, o papel desta Casa, e esperamos contar com o PT para dar respostas a esse povo que tenta tirar do cenário quem venha a falar a verdade”. 
 
O pronunciamento de Gilsinho recebeu respaldo do colega de plenário Euclério Sampaio (PDT), que reforçou sua indignação: o Estado dispõe seu aparato para proteção de outdoor de uma transnacional? E o clamor do povo, sem segurança, sem saúde? Dinheiro para proteger a Vale tem”. 

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