Quinta, 02 Mai 2024

Espionagem é denunciada em dossiê que revela impactos da Vale no mundo

Espionagem é denunciada em dossiê que revela impactos da Vale no mundo

As práticas de espionagem e infiltração praticadas pela Vale contra movimentos sociais foram denunciadas pela Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale, como contraponto à assembleia de acionistas da mineradora realizada anualmente para tentar provar que a empresa é responsável social e ambientalmente. Além dos casos registrados no Brasil, com violações de direitos humanos e ambientais cometidas nas regiões onde estão localizados os empreendimentos da mineradora, a entidade apresentou os graves impactos da Vale no Peru, Moçambique e Canadá. A entidade divulgou ainda contrapropagandas às publicidades da mineradora, mostrando os reais impactos causados em todo o mundo pela empresa, ao contrário do que é vendido à sociedade.



A Articulação lembra do escândalo que veio à tona no início de 2013, após denúncia do ex-gerente da empresa André Almeida, que apresentou dossiês que revelam monitoramento de lideranças de movimentos sociais, inclusive no Espírito Santo. O documento aponta a espionagem a membros do Movimento Xingu Vivo para Sempre, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da Justiça nos Trilhos; o acesso da mineradora às informações do Infoseg e da Receita Federal; além da infiltração de espiões em reuniões e encontros de entidades que representam obstáculos aos interesses da mineradora.

“A empresa afirmou que ia fazer uma investigação e se posicionar publicamente sobre o caso, mas isso não ocorreu. Assim como também não há informações de que ela abandonou esse tipo de prática”, ressaltou o pesquisador Gabriel Strautman, da Justiça Global. Apesar da gravidade das denúncias, o caso até hoje não foi devidamente apurado. 

Também consta no panorama feito pela Articulação dos Atingidos pela Vale o caso da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), implantada no distrito de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, em modelo semelhante ao projeto da empresa programado para Ubu, em Anchieta, com a Companhia Siderúrgica de Ubu (CSU). Os impactos do empreendimento da Vale em parceria com a alemã Thyssenkrupp motivaram a criação da “Campanha Pare TKCSA”.



A CSA funciona sem licença de operação desde março deste ano e, desde sua instalação, já foi embargada pelo Ministério do Trabalho, multada por órgãos ambientais após pressão da sociedade e alvo de dois processos criminais movidos pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), por sucessivos prejuízos sociais ambientais, econômicos e de saúde pública. 
 
Entre os casos mais graves promovidos pela Vale citados no documento está o da ampliação da produção de ferro da mina e de duplicação da Estrada de Ferro Carajás (EFC). O trem que circula pela ferrovia já causou sucessivas mortes de pessoas por atropelamentos, já que não há travessias para passagem seguras de um lado a outro da ferrovia. O investimento é o maior da Vale em todo o mundo: US$ 19,5 bilhões previstos na ampliação da exploração do minério de ferro, cuja cadeia produtiva causou dezenas de mortes no Pará e no Maranhão. Para conseguir realizar a obra, a Vale se valeu de manobra e pediu várias licenças ambientais, uma para cada trecho da ferrovia. 
 
Também há o caso de Piquiá de Baixo, bairro em Açailândia (MA), onde cinco usinas processam o ferro da mineradora e lançam no ar uma fumaça tóxica que provoca mortes constantemente, além dos diversos e graves problemas de saúde nas mais de 300 famílias da região. Os moradores, agora, lutam para serem reassentados em outro local.
 
A contaminação no ar também foi o motivo de uma multa no valor de 370 mil soles (US$ 132 mil ou R$ 309 mil) aplicada à Vale no Peru. A poluição foi provocada por falhas no processo de carregamento de fosfato no porto que a empresa possui na Baía de Sechura, na província peruana de Piura. Segundo operários da Petroperu, que trabalham no porto vizinho ao da Vale, o pó em suspensão resultante das operações de embarque de fosfato afeta a saúde e o ambiente de trabalho. Além disso, a Vale está sendo denunciada pelos pescadores de Piura por causa da contaminação do mar pelo fosfato, que está destruindo o ecossistema e a economia local.
 
 
Em Moçambique, após destruir casas de moradores por causa de uma mina de carvão, a Vale afirmou, em janeiro deste ano, que os indenizaria. Entretanto, até então, os moradores sequer foram procurados pela empresa para falar do pagamento, como informa a Liga Moçambicana de Direitos Humanos, e ainda foram reassentados em casas de péssima qualidade em regiões onde sequer podem desenvolver a agricultura, sua fonte de sustento.



No Canadá, quatro operários das operações de cobre em Sudbury morreram em menos de três anos devido à falta de segurança.

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Sexta, 03 Mai 2024

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