Sexta, 03 Mai 2024

Vale se diz a 49ª empresa mais sustentável do mundo, mas desculpa não cola

Espaço publicitário disfarçado de jornalismo, comprado no site de notícias G1, classificou a Vale como a 49ª empresa mais sustentável do mundo.
 
Eraylton Moreschi, presidente da entidade SOS Espírito Santo Ambiental, referência na luta contra as poluidoras e a negligência ambiental dos órgãos públicos, só tem um questionamento sobre o fato: Por que a mineradora não reduz logo suas emissões ao invés de fazer jogo de cena?
 
Certamente o estudo, desenvolvido pela empresa canadense Corporate Knights e publicado na 9ª edição da Global 100, lista com as cem empresas mais sustentáveis do mundo, não levou em consideração as condições de trabalho e de vida da população que vive nos arredores das instalações da mineradora aqui, no Brasil.
 
Basta um olhar por Vitória para saber que os quesitos ambientais mal são cumpridos. Os moradores não só da capital, mas das cidades da região metropolitana, convivem diariamente com a sujeira provocada pelo pó preto em suas casas. Mas não só: está comprovado que 98,6% dos moradores da Ilha do Boi, área de interferência direta dos ventos que levam a poeira, estão incomodados com a situação.
 
Além disso, a eficiência de placas solares é notoriamente reduzida pela cobertura de material particulado que se forma nos painéis. Em alguns casos, para suprir a redução na captação de energia, chega a ser necessária a instalação de um novo painel. Sem contar os altos índices de crises alérgicas e doenças do aparelho respiratório, como asma e bronquite, na população da Grande Vitória. 
 
Na capital, o GTI Respira Vitoria, grupo de trabalhos que envolve representantes da sociedade civil e membros de órgãos públicos, está prestes a entrar em sua reta final sem que o Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema) tenha apresentado detalhes do funcionamento e composição do plano de ação para o controle da qualidade do ar. O último relatório sob o mesmo tema foi feito em 2007.
 
Aliás, não é a primeira vez que o Iema decepciona em sua atuação. Relatório da Associação de seus servidores (Assiema) divulgado no ano passado relata casos de desestímulo à aplicação de multas a infrações ambientais e casos freqüentes de assédio moral por parte das empresas fiscalizadas.
 
Outro caso, ainda sem solução, é sobre a retirada do passivo ambiental da ponta de Tubarão, na Praia de Camburi. O minério depositado na região na década de 70, segundo a própria empresa, segue se degradando e alterando as condições marinhas.
 
A Vale ofereceu duas opções de amenização do poluente. Uma é a dragagem do material com recuperação da área degradada. A outra, um simples aterro, que somente cobre a região afetada. A Associação dos Amigos da Praia de Camburi (APPC), principal entidade militante desse processo, logicamente prefere a primeira opção.
 
Fato notório da atuação duvidosa da empresa foi o arquivamento da CPI do Pó Preto, pasta que queria investigar e encontrar os reais causadores da poluição atmosférica, após a retirada das assinaturas dos deputados Josias Da Vitória e Luiz Durão, ambos do PDT; Marcos Mansur (PSDB), Dary Pagung (PRP) e Jamir Malini (PTN).
 
O autor do projeto, deputado Gilsinho Lopes (PR), exibiu na sessão em que a CPI foi derrubada um vídeo do relações públicas da empresa, Luiz Soresini, visitando a Assembleia Legislativa em três ocasiões nessa mesma semana.
 
Gilsinho também denunciou que o secretário-chefe da Casa Civil, Luiz Carlos Ciciliotti, teria convocado o presidente da Comissão de Meio Ambiente da Casa, deputado Gildevan Fernandes (PV), para conseguir a retirada das assinaturas.
 
O próprio G1, em janeiro do ano passado, publicou uma matéria sobre o campeonato da Vale, em votação aberta ao público, no "Public Eye People's", premiação que escolhe as piores empresas com relação a direitos humanos e meio ambiente feita pelo Greenpeace da Suíça e pela ONG Declaração de Berna.
 
A tragédia não se resume ao Estado: no norte e nordeste do país, entre a Serra de Carajás, no Pará, e o porto de Itaqui, no Maranhão, a Vale é acusada de provocar devastação ambiental, trabalho escravo na cadeia de produção do aço, exploração sexual infantil e invasão de terras indígenas, quilombolas e camponesas.
 
Fora do Brasil, a Vale acaba de divulgar que vai trabalhar para uma redução de 85% nas emissões de dióxido de enxofre e para uma redução significativa na emissão de metais e partículas na cidade de Sudbury, em Ontário, no Canadá. A previsão de conclusão do projeto é o ano de 2016.
 
“Em países sérios, se fala em redução de valores percentuais. Em países do tipo ‘me engana que eu gosto’, falam em investimentos financeiros, como os milhões que foram gastos nas windfences e, mesmo assim, não adiantaram nada”, conclui Moreschi.

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