Terça, 23 Abril 2024

Casagrande deve colher os frutos deste ano na disputa de 2014

Casagrande deve colher os frutos deste ano na disputa de 2014

 

Renata Oliveira e Nerter Samora





O desgaste do ex-governador Paulo Hartung (PMDB) na eleição e o papel do governador Renato Casagrande no período pré-eleitoral mudaram a configuração política do Estado. Papo de Repórter mostra como ficou o jogo político para 2014.

Nerter – Passados os dois turnos da eleição, é hora de os partidos e as lideranças refletirem sobre os movimentos deste ano e buscarem um posicionamento para a próxima disputa, que será em 2014. Evidentemente, qualquer um que for entrevistado agora sobre o futuro pleito vai dizer que é cedo para se discutir, mas as movimentações para a disputa estadual começaram ainda em 2010 e tiveram suas definições com o período eleitoral deste ano. O desempenho dos aliados do governador Casagrande e do ex-governador mostra que a configuração política do Estado mudou mesmo e deve se consolidar a partir desta disputa. 



Renata – Quando se fala na onda de mudança que varreu o Espírito Santo e o Brasil nessa eleição, é preciso estar atento para o fato de que isso mexeu não só com os nomes que estavam em análise pelo eleitorado este ano, mostra que isso é um sentimento que se espalha para dentro do jogo político de uma forma mais ampla e caberá às lideranças entender como esses sinais dados pelo eleitor podem se fortalecer e influir no debate eleitoral do futuro. 



Nerter – Até meados deste ano, a classe política apostava na capilaridade de Hartung, que deixou o governo do Estado com um índice de aprovação muito grande, mas a partir de uma pesquisa divulgada pelo jornal A Tribuna, de que Hartung teria 36% de intenção de votos e não um índice acima de 70%, como se esperava, a classe política passou a perceber que a ideia de unanimidade não colava mais no eleitorado e que o prestígio de Hartung já não era o mesmo. Essa ideia foi consolidada, agora, com o resultado das urnas. Assim que passou a caminhar com Luiz Paulo Vellozo (PSDB) em Vitória, o tucano caiu nas pesquisas, mostrando que Hartung pesava no palanque. 



Renata – Fala-se muito de Vitória, mas o governador teve outras derrotas Estado afora, com destaque para a derrota do aliado de primeira linha Guerino Zanon (PMDB), em Linhares. Em Cachoeiro, não foi Hartung quem elegeu Carlos Casteglione (PT) e sim a força de lideranças locais, como o deputado federal Camilo Cola (PMDB). Em Vila Velha, Rodney Miranda (DEM) venceu. O candidato colocou em seu material de campanha o rótulo do ex-governador, mas pesou muito mais a imagem de “rambo” criada por ele e o fato de ser um estreante nessas disputas. Novamente, a força do discurso de mudança. 



Nerter – Talvez venha daí a necessidade dessa movimentação que tentar colar na vitória de Luciano Rezende (PPS) na Capital a imagem de Hartung. É fato que Luciano foi aliado de Hartung, mas o processo eleitoral deste ano colocou os dois em palanques distintos e esse rótulo não vai colar. Tanto no Estado, quanto fora daqui, a vitória de Luciano é colocada na conta do governador Renato Casagrande, que posicionou sua base de forma a atender os candidatos que interessavam ao seu projeto político e que poderiam fazer a contenção da recuperação política de Hartung, que viria em caso de vitória de Luiz Paulo Vellozo. 



Renata – Aí reside a dúvida: qual será o futuro político do ex-governador diante dos desgastes deste ano? Rodney Miranda é um projeto de si mesmo, ele é uma incógnita para Hartung e, mesmo que trabalhe em favor do fortalecimento do ex-governador, a prefeitura de Vila Velha, até por não ser a Capital, não dará conta do projeto político de Hartung. Nesse embate, Casagrande sai em vantagem por vários motivos. Um dos mais importantes é a questão partidária. Casagrande é dono de seu partido, o PSB, que apesar de não ser grande, cresceu, conquisto uma prefeitura importante, a Serra, e conta com o fortalecimento nacional. Hartung tem dificuldades em manter o controle do PMDB depois do desempenho do partido no Estado. A intenção seria a de ir para o PSDB, mas depois do pleito deste ano, o partido não é mais um grande atrativo para quem quer criar capilaridade para 2014. 



Nerter – Outro problema para o ex-governador é o fato de que, além da derrota na disputa da Capital, o projeto paralelo de tentar descapitalizar o senador Magno Malta (PR) – seu principal desafeto – parece também ter falhado. Os ataques ao senador foram feitos pelo caminho equivocado, em vez de se discutir suas posições consideradas conservadoras, tentaram colar nele um rótulo de corrupção que seu eleitorado, que é grande, diga-se de passagem, não aceita. Com isso, por vias tortas, Hartung acabou trazendo para o centro da discussão eleitoral a figura do senador, que acabou se fortalecendo. O tiro saiu pela culatra. De quebra, ele também não conseguiu fortalecer seu Plano B para o governo do Estado, o senador Ricardo Ferraço (PMDB), que acabou tendo a imagem ofuscada nos palanques pela próprio Hartung. 



Renata – Por isso mesmo, os dados da eleição deste ano vão servir para uma reflexão profunda para quem quer se reposicionar para disputa do próximo ano. Renato Casagrande saiu muito fortalecido e dependendo de sua atuação em 2013 – sobretudo na relação com os prefeitos, que a partir do próximo ano vão se tornar dependentes do governo do Estado, por causa das perdas de recursos federais –, vai conseguir consolidar sua hegemonia no Estado. Com o capital em alta, será difícil combater sua reeleição. 



Nerter – Talvez seja a hora de Hartung repensar seu jeito de fazer política, que vem usando dos mesmos mecanismos desde 2002, sem entender o cenário político, que segue em franca mudança de lá para cá. Ou Hartung busca uma nova estratégia ou estará perdido. Não vai ter como ele usar o discurso empoeirado da reconstrução do Estado e do combate ao retrocesso, até porque esse discurso não cabe em relação a Casagrande. 



Renata – Como bem destacou a socióloga Viviane Chaia, a grande lição das urnas deste ano é de que o povo não é mais tão manipulável assim. O tempo das dentaduras, ligaduras, messias e etc está se findando. Há uma nova geração de eleitores e políticos chegando no Brasil, uma mudança geracional, de eleitores e políticos. Os políticos e marqueteiros devem rever suas práticas e estratégias.

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