Sábado, 20 Abril 2024

Entrevista???Eu quero um candidato que diga que vai virar a cidade de frente para o mar???

Entrevista???Eu quero um candidato que diga que vai virar a cidade de frente para o mar???

 

Rogério Medeiros e Renata Oliveira
 
 
“Em política é preciso curar os males e nunca vingá-los”.
 
(Napoleão Bonaparte)



    Fotos: Apoena
A deputada estadual Luzia Toledo (PMDB) tem um trabalho voltado para a cultura e o turismo no Estado. Mas como liderança política, corre o interior apoiando diversos prefeitos e candidatos a prefeito nas diferentes regiões do Estado. Nesta entrevista, Luzia fala sobre suas caminhadas e a impressão que tem sobre os pleitos em vários municípios. Em relação à Capital, seu domicílio eleitoral, a deputada critica a falta de políticas que utilizem a condição paisagística e o potencial turístico da cidade. Nesse sentido, destaca a importância de “virar a cidade para o mar”. A deputada faz um recorte sobre sua trajetória política, perpassando por vários governos de diferentes ideologias, sempre adotando um perfil conciliador, o que lhe permitiu se adaptar às mudanças políticas no decorrer desses sete mandatos que já cumpriu.
 
Século Diário – A deputada já teve muitos mandatos, como vereadora, secretária municipal, estadual, senadora e agora deputada já pelo terceiro mandato. Como avalia sua trajetória?
 
Luzia Toledo – Eu atribuo a minha caminhada principalmente à minha lealdade. Isso é um marco na minha vida. Não sou leal a pessoas, sou leal por convicção, que começou com Vitor Buaiz. Fui vereadora e tive dificuldades no início porque era a primeira vez que eu entrava na política e em uma coligação com o PT. E, no entanto, fui a maior defensora na Câmara da administração Vitor Buaiz, por ter sido convencida pelos atos e compromisso da administração com o povo. Fui professora e diretora em Mimoso do Sul e, também na minha trajetória como educadora, tive a lealdade como marca. Na política, é a explicação por ter conquistado grandes lideranças do Estado com o meu trabalho.
 
– Sua trajetória política começou como vereadora em Vitória?
 
– Comecei como vereadora por dois mandatos, vinda de Mimoso do Sul e, você sabe que não é fácil para quem vem do interior ganhar da eleição. Fui secretária do governador Vitor Buaiz, em Brasília. Fizemos uma secretaria lá e foi muito importante, tanto que continuou depois dando suporte a todos os prefeitos do Espírito Santo. Fui vice-prefeita de Vitória em uma composição puro-sangue, com Luiz Paulo Vellozo Lucas e Luzia Toledo, e tivemos um embate muito forte com duas importantíssimas lideranças naquela época, que foi a Rita Camata, considerada musa do Congresso Nacional, e o Dr. Luiz Buaiz, que é um mito. Mas o que aconteceu? Chegou Luiz Paulo com toda a empolgação, novo, e uma vereadora que conhecia a cidade, porque conheci a cidade com a administração Vitor Buaiz e, posteriormente, na gestão de Paulo Hartung. Trabalhei com essas duas figuras com as quais eu aprendi muito. E mesmo como vice-prefeita, não larguei a Secretaria Extraordinária em Brasília. E não pretendia me desincompatibilizar, mas me uni ao grupo do Paulo Hartung e do José Ignácio e fui compor a chapa representando o grupo de José Ignácio, quando ele estava no Senado. Então renunciei dois anos para assumir a vaga, quando José Ignácio se elegeu governador. Fiz um trabalho no Senado muito importante para o Espírito Santo. Quando eu vi a atriz Beth Faria falando da luta para ver a neta...
 
– A senhora abordou esse tema na Assembleia essa semana...
 
– Pois é, sobre o direito dos avós. Quando eu era senadora, recebi uma carta de um casal de avós aqui do Espírito Santo para que eu fizesse uma lei para que eles tivessem o direito de visitar os seus netos, porque com a contenda do casal, eles é que estavam sendo prejudicados, não podendo ver os netos. E agora, em 2011, a presidente Dilma sancionou a lei e muitas outras, eu estou citando esta porque a conhecidíssima atriz Beth Faria, amparada na lei de Luzia Toledo, está lutando pelo direito de ver a neta porque a filha não permite. E por isso, por minha trajetória, a sociedade passou a me ver como uma pessoa séria, comprometida com as causas sociais e uma pessoa que não vacila. Eu devo muito à sociedade capixaba, porque onde eu vou sou tratada com muito respeito e muito carinho. Acho que por isso estou no sétimo mandato.
 
– A senhora perpassou nessa trajetória compondo do PT ao PSDB e sem atritos, não é?
 
– É verdade. Acho que em política você constrói muito mais quando você procura não se atritar com as pessoas. Eu tenho uma passagem nessa trajetória, que se um dia eu escrever um livro, essa parte vai constar. Quando eu cheguei à Assembleia, fui muito maltratada, e pela ala feminina. Eu estava vindo do Senado, e sou tão simples, de Conceição de Muqui. Até seis anos de idade, eu morava em um barraco de chão batido, então, eu nunca vou mudar. Mas como eu tinha sido senadora, as pessoas criaram uma implicância comigo, olha só que coisa absurda. Então, eu entendi ali. Porque quando eu fui vereadora, briguei muito, eu era brigona, mas eu briguei sempre pelas boas causas. E naquele momento na Assembleia, eu decidi que iria mudar, eu ia deixar que quem quisesse falar, falasse sozinha. E a partir daí decidi que eu seria uma conciliadora. Um articulista disse uma vez que eu era uma construtora de pontes e eu acho que sou construtora de pontes mesmo. A boa política é essa que você constrói com trabalho, lealdade e resultado social, com bandeiras sérias.
 
– Mas, vamos às eleições municipais. A deputada anda esse Estado todo, então nos diga, como estão as disputas no interior?
 
– A coisa está séria, mas eu tenho andado muito. Estou indo agora, por exemplo, a São Roque do Canaã, onde tenho o meu candidato, o prefeito Marcos Guerra (PSDB), e que está muito bem porque ele fez uma administração fantástica e o povo de São Roque reconheceu.
 
– A gente percebe que não só na Grande Vitória, onde vai haver segundo turno, mas também no interior, as disputas estão bastante acirradas, não é?
 
– Estão muito acirradas e em alguns lugares a disputa está surpreendendo. Acho que a população está muito mais consciente. Ainda não é o que nós queremos, de jeito nenhum, ainda temos que caminhar muito para a sociedade entender que é ela que produz os políticos que estão aí. Quando eu vejo o resultado das pesquisas sobre o jovem tanto nacionalmente como no Espírito Santo, eu me entristeço demais, porque nós precisamos do jovem, precisamos demais da consciência, da rebeldia, dessa busca...
 
– A deputada fala desse afastamento da juventude da política...
 
– Exatamente. Só vamos ter essa participação quando o resultado das eleições desta ou das próximas, fizer com que a população passe a acreditar mais nos seus políticos. Eu não posso falar nada em relação a mim, porque eu tenho um trato muito especial pela sociedade. E eu tento retribuir, levo uma emendinha para cada liderança que tem nesse Estado inteiro e não faço isso só para prefeito, vice-prefeito e vereador. Faço para as associações, quando elas são sérias. Mas voltando à sua pergunta, eu falei de São Roque, mas eu tenho que falar também de Santa Teresa, onde o prefeito Gilson Amaro (PMDB) tem 74% de aprovação e fez uma administração fantástica. Ele é uma pessoa extremamente simples, mas de uma sensibilidade que eu não conheço na maioria dos políticos. Tem uma preocupação com o meio ambiente, com a Educação. Ali mesmo nas “santas”, eu tenho que chegar a Santa Leopoldina. Santa Leopoldina é uma das “santas” que não conseguiu sair do casulo.
 
– Santa Leopoldina enfrentou muitos problemas políticos recentemente.
 
– Enfrentou todos os problemas do mundo. E você vê o que é a má política. Ela traz um resultado tão negativo para a sociedade. Meu projeto da Rota Imperial começou em Santa Leopoldina, por conta daquela vila austríaca que existe lá. Não foi para frente. Consegui que meu projeto fosse abraçado de uma forma completa, em Ibatiba, que era uma cidade onde as pessoas não paravam nem para abastecer o carro. Era empoeirada, feia, e hoje é um destino turístico e cultural. Eu levei uma emenda parlamentar para lá, o governo fez um museu, o museu Fadlalah, que foi um comerciante que levou tudo para Ibatiba. Eles deram o casarão e nós fizemos o museu. O pessoal que vem de Minas pára porque tem uma tropa, no meio da BR-262, e ficou bonito, porque poderia ficar uma coisa caricata e não ficou, ficou muito bonito. Rose de Freitas (PMDB) fez uma bela praça. O que está acontecendo no Espírito Santo: os prefeitos que têm muito dinheiro não trazem um grande arquiteto para fazer um projeto bom para a cidade, um projeto que agregue a sociedade. Ibatiba tem. Tem uma praça com os bancos todos buscando a época imperial. Tem hoje uma festa do tropeiro, com o maior feijão tropeiro do mundo, que atrai 10 mil pessoas para comer. Tem a caminhada do tropeiro e hoje a cidade saiu do esconderijo. E politicamente, voltando a Santa Leopoldina, que não foi para frente. Este ano o município tem dois candidatos, o prefeito Romero, que é candidato à reeleição, e tem o ex-prefeito Fernando e está uma campanha surpreendente, porque o Romero Endringer (PP) ficou pouco tempo, mas conseguiu avançar, sobressair. Mas eu acredito que o Fernando (Fernando Rocha, do PMDB) ganhe.
 
– Fale sobre outros municípios.
 
– Em Itaguaçu, distante do que eu esperava, porque o prefeito do município tem oito anos e bem avaliado, a campanha está completamente indefinida. Ibatiba, o prefeito Lindon Johnson (PMDB), que fez esse trabalho todo que eu falei, não quer ser candidato. Não consegui entender. Vai apoiar o vice e o outro candidato é o ex-prefeito Zé Alcure (PP).
 
– Deputada, e Mimoso?
 
– Em Mimoso a nossa candidata, Flavia Cisne (PSB), está bem na frente. O problema de Mimoso é complexo, porque lá prefeito não se reelege. Nunca reelegeu. O povo é renovador. Flavia foi uma excelente prefeita e eu gostaria que ela voltasse da mesma maneira que eu queria que Lindon Johnson fosse prefeito novamente em Ibatiba. Eu sou capaz de ficar com uma pessoa que não é do meu partido, mas que mostra trabalho e comprometimento, em detrimento de ficar com pessoas que não mostram os resultados que a população precisa. Mimoso precisa de uma administração vigorosa. Tudo que tem em Mimoso tem minha mão, até porque muita gente me ajudou. O ex-governador Vitor Buaiz fez o asfalto. Eu pedi tanto o asfalto na avenida que leva o nome do meu pai de criação, Rubens Rangel, que já foi governador do Estado. Então tudo lá tem meu minha ajuda.
 
– E porque não se candidatou a prefeita?
 
– Pois é, eu tenho meu título aqui. – Mas isso é uma questão de mera formalidade. É só transferir.
 
– Houve muita especulação de eu ser candidata em Santa Teresa ou Mimoso do Sul. Mas esse momento é da Flavia. Porque ela já mostrou que é boa gestora. E o povo a conhece, por isso ela está na frente. Mas como eu tenho medo de outras coisas, eu sei que lá a eleição é muito acirrada.
 
– Mas por que não ser prefeita de Mimoso?
 
– Porque eu acho que esse é o momento da Flavia, isso não quer dizer que um dia eu não seja. Eu tive oportunidade várias vezes, mas cada vez tem uma história. Quando eu sai do governo, poderia em vez de ser candidata a deputada, ser candidata a prefeita, mas aí era meu sobrinho do afeto que era o candidato. Eu tinha que apoiar Ronan Rangel.
 
– Que é ex-marido da Flavia.
 
– Que é ex-marido da Flavia. Ronan está apoiando a Flavia. Estamos com 13 partidos na nossa coligação. A minha vida é muito norteada por Deus.
 
– Pode ainda ser?
 
– Posso. Quem sabe?
 
– E em Muqui? Dizem que Frei Paulão (PSB) está muito bem.
 
– Frei Paulão é literalmente povo e uma paixão muito grande pela cultura. Aquela folia de reis, que é neste fim de semana, quando vocês me falam em Frei Paulão, eu só vejo ele no altar da Igreja São João Batista, em Muqui, comandando a folia de reis. É ele quem faz absolutamente tudo. E faz com um desprendimento e com uma sintonia com o povo...é por isso que todo mundo quer votar nele.
 
– Ao todo a deputada está apoiando quantos candidatos no Estado?
 
– Ah, eu apoio muitos. Bom Jesus, não posso deixar de falar em Ubaldo (Martins, PDT), o prefeito. Este é o terceiro mandato que sou a mais votada em Bom Jesus do Norte e já levei para o município, principalmente na área da agricultura, porque precisamos emancipar o homem do campo. Temos que dar condições para ele trabalhar organizadamente, ter uma vida melhor. A agricultura familiar deve estar presente em todo o Estado, porque onde a agricultura familiar está presente é uma outra realidade. E eu posso falar isso porque Mimoso do Sul apareceu no Globo Rural por mais de 20 minutos mostrando a organização da comunidade de Palmeiras, com 40 famílias.
 
– E em Vitória, o que a deputada vai fazer?
 
– Em Vitória estou deixando o barco correr mais um pouco. Temos três candidaturas pelas quais tenho muito respeito, um é meu colega de Assembleia, Luciano Rezende (PPS), foi meu colega vereador, faz um grande mandato na Assembleia. Luiz Paulo (PSDB), fui vice dele em Vitória, nunca tive problema. Tive problemas depois. Mas como vice, ele me deu a representatividade que precisava, participei da Frente Nacional de Prefeitos, coloquei Vitória, na época, na vice-presidência. Não só aqui, mas também na América do Sul e fui prefeita em momentos que ele esteve ausente. Ele foi um excelente gestor e já conhecemos a empatia dele com a cidade. A ex-ministra Iriny Lopes (PT) , eu tenho o maior respeito, ela é mulher, batalhadora corajosa, teve uma coragem fantástica de enfrentar tudo e todos para ser candidata e ir atrás do sonho dela. Então tenho a maior admiração pela coragem dela, determinação e desprendimento para enfrentar esse processo. Vitória é uma cidade pronta, nós somos muito exigentes com Vitória e temos que ser porque queremos muito mais. Eu quero me comprometer com um candidato que diga que vai virar a cidade de frente para o mar. Vitória de costas para o mar. Você vai em Cascas, que é cidade irmã de Vitória, é uma cidade pequenininha, linda, toda voltada para o mar. Tem 14 marinas, nós não temos nenhuma. Marina pública, não temos nenhuma. Tem que ser uma administração que surpreenda. Em Vitória, todos foram bons prefeitos. Se você for lá atrás e pegar, por exemplo, Carlito Von Schilgen, foi um bom prefeito, tem a marca dele. Todos os prefeitos que passaram deixaram uma marca. Vitor Buaiz deixou a marca da educação. Eu lembro que foi uma briga danada porque Marcio Calmon colocou uma emenda para Vitória aplicar 35% do Orçamento na Educação, Vitor aplicou 42%. Depois veio Paulo Hartung e fez uma administração excelente, participei da administração, Luiz Paulo também. Então, eu quero um candidato que diga que vai virar a cidade de frente para o mar. Vitória não pode continuar de costas para o mar.
 
– E as ciclovias que a deputada defendia quando vereadora?
 
– Nós apresentamos na época uma lei, isso é lei, um cicloviário, integrando Vitória, Serra, Vila Velha e Cariacica. Eu tentei, como deputada, como secretária de Turismo, de Cultura, unir os prefeitos em torno do projeto. As cidades são planas, os recursos técnicos são avançados, tudo que se quiser fazer faz, é só ter vontade política. O prefeito Vitor Buaiz fez lá em Santo Antônio até Tabuazeiro. Depois, Luiz Paulo ou Paulo Hartung fez a da Orla de Camburi e só. Há quanto tempo existe a lei? Só agora estão fazendo e ainda assim não é integrada. Não estão buscando a tecnologia que nós temos.
 
– Deputada, para encerrar. Como a senhora vê a participação da mulher nestas eleições. Temos 20 candidatas, mas tivemos perdas de lideranças, como Rita Camata e Brice Bragato, que não disputam este ano. Há uma retração?
 
– Acho que essas que já estiveram na política, emprestaram bastante do seu trabalho ao Estado, mas se você sair, você não volta, porque é uma entrega muito grande. Você não tem horário para a família, não tem horário para você. Se você sair, retorna à sua vida social, e a essas coisas gostosas que todo mundo gosta de fazer e que na política você não faz. Mas, quanto às candidatas, não acho que houve retração. Acho que não estamos no número ideal de candidaturas femininas, mas estamos crescendo e disputando. Teremos cada vez mais participação da mulher nos próximos pleitos.

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