Quinta, 25 Abril 2024

Luciano Rezende diz que Futura erra seus números desde 2008

O prefeito eleito de Vitória, Luciano Rezende (PPS), em entrevista a Século Diário, comentou os aspectos políticos da disputa eleitoral deste ano e das articulações para garantir sua governabilidade à frente da prefeitura. Sobre os números da pesquisa do Instituto Futura, divulgadas no domingo da eleição, mostrando uma suposta virada do adversário no segundo turno, Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB), Rezende afirmou que o instituto vem errando sistematicamente seus números desde a eleição de 2008, quando disputou a eleição com o prefeito atual, João Coser (PT).



Ele criticou setores da imprensa que ajudaram a criar um cenário político desfavorável à sua campanha, mas garantiu que manterá o respeito ao trabalho dos veículos de comunicação.



Na entrevista, o prefeito eleito fala também da relação com a Câmara de Vitória, da composição do secretariado, do fortalecimento político do PPS no Estado, da vitória do governador Renato Casagrande no processo eleitoral, e da busca da interlocução com o governo federal. 





Século Diário – O prefeito eleito disputou duas vezes a eleição. Em 2008, com o prefeito João Coser (PT), o senhor foi prejudicado pela pesquisa do Instituto Futura, que mostrava que não haveria condição de segundo turno e havia. Agora, em 2012, aconteceu o mesmo, com uma pesquisa no jornal de domingo (28), que começou a circular no dia anterior, indicando uma virada do outro candidato e com denúncias de reprodução da capa em uma outra gráfica. Como o senhor vê esse cenário?



Luciano Rezende – Nós temos essa história com esse instituto, que é um dado real. Ele [Instituto Futura] erra sistematicamente os meus números desde 2008. Isso é um dado, está aí para todo mundo ver. Nós estamos fazendo a reflexão sobre esses fatos, uma reflexão muito cuidadosa. No momento é o que eu posso te dizer.



– O senhor teve uma disputa muito dura. Dizia-se que seria uma eleição de apenas um turno, mas o deputado virou a eleição em primeiro e a partir do segundo turno o processo ganhou uma nova dinâmica, que em muitos momentos fugiu do debate da cidade. Qual a sua reflexão sobre a disputa eleitoral?



– Primeiro, o dado real da eleição. Nós terminamos o primeiro turno com 74 mil votos e terminamos o segundo turno com quase 100 mil votos. A nossa campanha cresceu desde o primeiro dia de forma consistente. A nossa campanha conseguiu duas coisas: apresentar um programa de governo pé no chão, e eu vou cumprir 100% dele; e segundo, campanha tem que ter um fato emocional que traduza toda a racionalidade da proposta para uma linguagem que o coração perceba. Quando vimos as famílias e as crianças de Vitória cantando a música e fazendo o gesto da mudança, nós percebemos que havíamos conseguido traduzir toda campanha para um componente emocional. Eu acho que em Vitória, há muito tempo, não temos uma campanha tão bonita.



 

– Mas a disputa foi dura e nem sempre bonita...



– Enquanto o meu concorrente [Luiz Paulo] estava na frente, eu só era elogiado, ele chegou a fazer o gesto da mudança em um debate, no colégio Salesiano, no primeiro turno, tamanho o ambiente agradável que estava. Quando nós passamos para o segundo turno, a estratégia mudou e passou à agressão e à desqualificação intensa por parte do adversário. Nós tomamos uma decisão, que hoje se mostra acertada, que foi a de não mudar nossa campanha, entramos na casa das pessoas na hora do almoço e do jantar de forma digna. Em alguns momentos foi difícil manter essa estratégia, mas as pessoas me pediam isso. Uma mãe me disse para não mudar, porque havia muitas crianças que assistiam e isso iria assustar as crianças. Então, apostamos no discurso da mudança. E as pessoas perguntam que mudança? Uma mudança radical na gestão participativa. Vamos colocar isso já na transição. A transição começa na semana que vem com oito audiências públicas nas regiões da cidade e o gabinete itinerante. Nossos técnicos, que vão ser qualificados e competentes, terão que acompanhar a população, que foi a forma como eu sempre trabalhei nas secretarias de Educação e Saúde.



– Então chegamos ao ponto da discussão de seu secretariado. O PPS é um partido médio e não teria quadros suficientes para preencher todos os cargos. O senhor diz que não vai ver a coloração partidária...



– Nós vamos buscar nos partidos, na sociedade e na iniciativa privada todos os quadros qualificados que nós encontrarmos.



– Mas como o senhor vai lidar com a base nesse sentido?



– Não há problema, porque desde o início deixamos muito claro que esse projeto tinha esse comportamento. Então, não há esse compromisso, essa cobrança de nenhum partido. Vamos, evidentemente, governar com todas as forças que pudermos. Não vamos desconsiderar os aliados, mas não será o norte da montagem de governo. O norte da montagem será a competência técnica. Temos muitos partidos aliados. Por exemplo, tivemos o apoio de nove vereadores, de 15.



 

– Na prática, o sistema político brasileiro não é presidencialista, e sim um regime parlamentarista, já que o Executivo depende o Legislativo para atuar. Como vai tocar a Câmara com esse projeto?



– Volto a dizer, tivemos nove vereadores nos apoiando no primeiro turno, já começa por aí, eu me relaciono bem com todos os vereadores eleitos. Vamos a partir da semana que vem buscar o diálogo com todos os vereadores, no sentido de que eles entendam que a minha relação com a Câmara será de respeito institucional, até porque fui vereador por quatro mandatos e sei como incomoda um governo que não respeita e não sabe lidar com o Legislativo. Então, não vejo nenhuma dificuldade, muito pelo contrário, acredito que em pouco tempo a Câmara vai perceber que tem um prefeito que respeita a movimentação dos vereadores e vai ver o prefeito como um líder disposto a trabalhar na direção do fortalecimento das ações que vão beneficiar a população. E o vereador também participa disso. Ele atua no sentido de representar a população. Até quem tecer criticas ou posicionamentos contrários, nós receberemos com boa vontade, porque a critica nos ajuda, eu sempre prestei muita atenção à crítica.



– O fato de ter nos quadros do PPS o vereador mais bem votado este ano, Fabrício Gandini, ajuda na interlocução com a Câmara?



– O Gandini é uma pessoa que cresceu politicamente comigo, foi meu advogado no mandato, mas hoje ele é uma liderança importante, que tem voo próprio. Mas nós temos outros nomes importantes, o Vinícius Simões (PPS), que é uma liderança em ascensão, o Rogerinho (PHS), Max Da Mata (PSD) teve uma votação extraordinária, Serjão Magalhães (PSB), Namy Chequer (PCdoB), são todos políticos que estiveram conosco. Também tivemos outros quadros reeleitos, que não estiveram conosco, mas que serão respeitados. Isso ficou para trás, a intenção é unir toda a cidade de forma generosa em torno dos desafios.



– O Gandini pode vir a compor o seu governo?



– Nós ainda não fizemos uma reflexão sobre isso. A eleição foi domingo, passei esses dias em uma agenda muito pesada. Este resto de semana eu vou descansar com minha família e a partir da semana que vem vamos instalar as primeiras reflexões. Nós vamos tomar as decisões em conjunto, não vou tomar nenhuma decisão sem ouvir a cidade. A minha responsabilidade agora é corresponder à grande expectativa da cidade. Acho que depois de 20 anos de trabalho, consegui ter a honra de chegar onde eu gostaria de chegar, e vamos dar conta do recado.

 

 

– O PPS ganhou duas cidades muito importantes e pode se credenciar para o jogo político de 2014. Como o senhor avalia o crescimento do partido?



– Nós estamos muito felizes. O Juninho sabe da responsabilidade que tem, está preparado. Ele foi recordista em votação em nível nacional. O Juninho é um esportista, o conheci no futebol, fui eu quem filiou ele ao PPS e hoje ele é prefeito de Cariacica. Ele sabe da responsabilidade e está preparado.



 

– O presidente do partido comemorou o resultado no Espírito Santo...



–  O PPS Nacional está muito feliz. Nós repetimos o que eu falei que poderia ocorrer em Vitória. Marina Silva venceu em Vitória fora da polarização PT – PSDB, ela deu esse recado lá atrás, em 2010. Sem campanha, Marina venceu em números absolutos. Aquilo me impressionou muito e me deu um sinal que eu trouxe isso para a campanha deste ano, independentemente de quem fosse o adversário.



– O PT Nacional diz que Fernando Haddad não foi eleito com o discurso de mudança, mas foi. Esse foi o diferencial de sua campanha, ter percebido a necessidade do discurso de mudança?



– Quando fizemos as pesquisas percebemos que a cidade tinha um forte sentimento de mudança, mas o novo não era o que a cidade queria. Eu percebi isso. Com quatro mandatos de vereador, com passagem por duas secretarias, ficha limpa e com a bandeira da mudança, achamos que aquele seria o nosso caminho e entramos com duas palavras: muda Vitória. Aí o Jorge [Oliveira - marqueteiro da campanha] acertou no gesto e na música e nos preparamos do ponto de vista do programa de governo para enfrentar os debates. Dialogamos com a cidade, acreditamos que a cidade iria decidir. A cidade de Vitória não tem dono. O eleitor de Vitória vota naquele que fala ao coração dele e foi nisso que acreditamos. O Haddad eu não acompanhei, mas vi algumas análises políticas no domingo  e a bandeira do Haddad foram os problemas sociais da cidade de São Paulo, e a campanha do Serra [José Serra, candidato do PSDB, em São Paulo] foi pautada na agressão, repetindo a estratégia de Vitória. Enquanto eu estava discutindo a cidade, estava sendo agredido. O eleitor percebeu isso.



– O PPS conseguiu quebrar um revezamento de PT e PSDB, que se repetia há mais de duas décadas na Capital, embora o partido tenha atuado sempre como força auxiliar do PSDB, mas agora assume o protagonismo da disputa e vence. Qual o peso político dessa vitória?



– Nós sempre rejeitamos esse termo força auxiliar e sempre os nossos aliados achavam que nós éramos força auxiliar.  Esse foi um erro estratégico, nós não somos força auxiliar, nós éramos força aliada, mas com legitimidade e com possibilidade de um dia disputar. O PPS é igual ao Líbano, pequeno demais para ser dividido e grande demais para ser anexado. Sempre disse isso internamente, que não podíamos nos dividir porque não teríamos estrutura para sobreviver. As nossas eleições internas nos últimos anos sempre foram com chapa única, isso nos uniu  e nos fortaleceu. Mas acho que o ator político que foi o grande vencedor dessa eleição foi o governador Renato Casagrande. Renato teve a percepção de estadista, ele respeitou as disputas eleitorais, principalmente na Capital, foi extremamente generoso com os três maiores candidatos na disputa, desde o início os fatos mostram isso e, por isso, saiu como vencedor. Foi equilibrado, justo, respeitou o ambiente democrático. Uma eleição de capital tem que ser decidida pela população, não pode ter ninguém tentando interferir nesse processo. Eu fui ao Palácio Anchieta, na segunda-feira (29), para novamente dar os parabéns porque ele foi extremamente justo com os candidatos e ninguém pode sair do processo e reclamar do governador, principalmente na Capital. Vai colher os frutos disso, não tenha dúvida.



– Trouxe a democracia...



– Trouxe a democracia, respeitou a democracia, somos pessoas que acreditamos na democracia e na República. Eu sou de família humilde e se não fosse a força e a beleza da democracia eu jamais teria a possibilidade de liderar a cidade. Minha mãe, professora, servidora pública; meu pai, sapateiro, motorista, mecânico. Como eu poderia liderar a cidade se não fosse a democracia? Eu quero fazer uma referência também à Justiça Eleitoral, que foi absolutamente justa e eficiente. Um equilíbrio que me emocionou em alguns momentos. Eu posso falar porque nem sempre fui beneficiado pelas decisões, nem sempre nossas teses venceram, no jurídico, mas tivemos na Justiça Eleitoral uma isenção.

 

 

– Isso foi no Estado todo, a Justiça Eleitoral é a parte da justiça que realmente funciona e funciona rápido.



– E antes das 18 horas tivemos nosso resultado divulgado, que espetáculo de civilidade. Tivemos alguns pontos fora da curva, algumas coisas que não deveriam existir, mas a população foi lá e resolveu isso.



 

– Voltando à questão do segundo turno, seu adversário estabeleceu um embate em dois caminhos: o primeiro de tentar colar sua imagem no PT, para continuar com o discurso dicotômico. Outro foi o de criticar seu arco de alianças, sobretudo com o senador Magno Malta (PR).



– Nós temos uma forma de fazer oposição absolutamente educada e o nosso concorrente não conseguiu compreender isso. O PPS foi oposição ao governo Coser durante oito anos. Eu fui oposição durante quatro anos, os dois vereadores de oposição em Vitória foram os mais votados, mas a oposição que o PPS faz é uma oposição civilizada, e às vezes as pessoas não entendem, porque elas entendem que a oposição dever ser mal-educada, raivosa, na base do ódio. Nós somos uma oposição racional e bem-educada. Então, não adiantou fazer esse discurso porque a cidade nos identificou como oposição. Quem não se lembra da luta do IPTU, que eu travei em Vitória? Nós não temos cargo nenhum na prefeitura de Vitória, o PSDB tem vários cargos e o PMDB tem três secretarias e centenas de cargos, além do vice do Coser ser do PMDB. Então, os fatos não sustentaram essas acusações. Do outro lado, eu respeito todas as pessoas, mas não tenho nenhuma relação com o senador Magno Malta, o Luiz Paulo é amigo do Magno Malta. Eu não estou aqui desqualificando, mas eu não sou amigo do Magno Malta e o próprio senador veio a público no período eleitoral esclarecer o que aconteceu na pré-campanha. De certa forma, eu fiquei feliz, porque olha as acusações que eu sofri: eu não fui chamado de ladrão em momento algum, até porque não podem dizer isso, nem de incompetente. Então, tiveram que inventar factoides que foram colocados exaustivamente por alguns setores, inclusive da imprensa, que trabalharam harmonicamente dia sim e o outro também, construindo esse ambiente, mas o eleitor de Vitória respondeu, isso é que foi importante. O eleitor de Vitória disse “não, nós conhecemos o Luciano”.



– Prefeito, como vai ser sua relação com a imprensa, depois de tudo isso?



– Eu tenho um profundo respeito com a imprensa livre e soberana. A imprensa livre, mesmo quando erra, é fundamental para a democracia e para a República. Então, mesmo quando ela erra, ela tem de funcionar livremente. Ninguém vai me ver fazer qualquer ação contrária a isso. O Século Diário, mesmo, a minha relação com o jornal sempre foi de profundo respeito, e sempre o Século Diário fez matérias livremente, nem sempre concordando com o meu ponto de vista, e eu nunca liguei para vocês para fazer qualquer reparo. Então, podem ter certeza dessa garantia. A partir de agora, a cidade tem um prefeito eleito, então, a agenda é outra, o foco não é mais a disputa, o foco é a resolução dos problemas da cidade e eu aposto na responsabilidade de todos com a cidade.



– O senhor foi eleito no campo oposto do governo federal e há um cenário de dificuldades financeiras, com a perda de recursos federais. Como o governador Renato Casagrande pode trabalhar na intermediação com o governo federal, já que a prefeitura está no campo da oposição?



– O apoio do governo do Estado já está garantido porque a minha relação com o governo do Estado é a melhor possível, mas eu vou buscar o diálogo também com o governo federal. Eu quero em breve visitar a presidente Dilma [Rousseff] e dizer para ela que a cidade de Vitória precisa da relação com o governo federal. E nós vamos buscar a ajuda de todos os aliados que puderem ajudar, porque a partir de agora, a cidade de Vitória vai cobrar de mim resultados. E nós precisaremos de apoios em nível municipal, estadual, vamos buscar o apoio da Assembleia, da Câmara de Vereadores, da Câmara dos Deputados e do governo federal.

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