Quinta, 28 Março 2024

Mais um round na batalha entre Renato Casagrande e Theodorico Ferraço

Mais um round na batalha entre Renato Casagrande e Theodorico Ferraço

Renata Oliveira e Nerter Samora



Quando se achava que o assunto já tinha morrido, eis que a reeleição para a presidência da Mesa Diretora da Assembleia ressurgiu das cinzas, mexendo com os meios políticos. Papo de Repórter debate as ações e reações dessa discussão.





Renata – Na semana passada, lembrei que a discussão sobre a tramitação da PEC 08/2012, do deputado estadual José Carlos Elias (PTB), que garantia a reeleição para a presidência da Casa, beneficiando diretamente o atual presidente do poder, deputado Theodorico Ferraço (DEM), tinha ficado para depois da eleição. E que, passado o segundo turno, acabada a ressaca eleitoral, discutidas as perdas com os royalties, os assunto tinha morrido na Assembleia. Mas nessa curta semana, o assunto voltou com tudo na Assembleia, não é?



Nerter – Voltou e trazido por um subterfúgio. O presidente da Casa, Theodorico Ferraço, e seus colegas da Mesa decidiram conceder aos servidores da Assembleia, isso ainda na semana passada, um abono de R$ 2 mil. Até aí tudo bem. Se a casa tem recursos e vontade, tem mais é que conceder o abono mesmo. É melhor do que devolver dinheiro que sobrou do orçamento para o Executivo, isso, como já defendi outras vezes é sinal de incompetência administrativa. O problema é o combinado entre os poderes sobre um valor único para todos os servidores do Estado, prática, que acho complicada. Se cada poder tem um orçamento próprio, e diga-se de passagem, são bem diferentes, cabe a cada gestor avaliar as condições financeiras de seu quinhão e conceder o abono que convier. Afinal, se compararmos o número de funcionários e o orçamento da Assembleia, com o da administração direta do Executivo e orçamento, já é possível perceber que não dá para se ter isonomia em serviços tão distintos. É só lembrar o pagamento dos 11,98%, todo mundo recebeu, menos os servidores do Poder Legislativo. Mas voltando ao assunto principal, como havia dito no início, esse tema foi apenas um subterfúgio para a discussão que estava por vir.



Renata – Estabeleceu-se nesta semana mais um round da luta que está sendo travada desde 2011 entre Theodorico Ferraço e o governador Renato Casagrande, mas, dessa vez, acredito, diferentemente das outras, o governador saiu vitorioso. Em 2011, Casagrande esvaziou a candidatura de Ferraço à presidência da Casa e emplacou Rodrigo Chamoun na presidência da Ales, mas o movimento para eleger Chamoun contou com a valiosa contribuição de Ferraço, que foi alçado ao cargo de vice-presidente da Casa. Um ano depois, Chamoun deixava a Casa para virar conselheiro do Tribunal de Contas. Casagrande tentou emplacar Atayde Armani (DEM) na presidência do Legislativo, mas Theodorico bateu na mesa e foi eleito. A luta agora, era pela reeleição. Antes da eleição, Ferração salvou a pele de José Carlos Elias (PTB), que poderia perder o mandato, mas foi protegido pelo presidente. Em contrapartida, Elias recolheu 22 assinaturas em uma PEC para garantir a reeleição de Ferraço, mas dessa vez quem bateu na mesa foi o governador, fazendo com que a discussão ficasse para depois da eleição.



Nerter – A gente já estava achando que Ferraço não teria mais condições de disputar a reeleição, lembra? Mas aí, sua tropa de choque, com os deputados republicanos Gilsinho Lopes e José Esmeraldo começaram a cobrar o início da tramitação da PEC,que estava parada desde agosto. Aí entrou em cena um dos principais agentes da discussão sobre a reeleição. Casagrande parecia decidido a não deixar que Ferraço se reelegesse e tentava viabilizar o nome de Roberto Carlos (PT) no plenário. O petista, porém, preferiu agir como interlocutor, até porque havia um sentimento forte dos colegas de plenário em favor de Ferraço, além de um movimento de Sergio Borges (PMDB), em favor de Luzia Toledo (PMDB). Poderia ter um pleito duro pela frente e preferiu apostar em uma movimentação de futuro. Defendeu a reeleição de Theodorico Ferraço e amarrou tudo com a Casa Civil. O governo chamou então Elcio Alvares (DEM), o deputado mais antigo, para assumir a autoria da manobra. E tudo ficou costurado.



Renata – E o que Roberto Carlos ganhou com isso? Bom, o petista Rodrigo Coelho (PT) está voltando para a Casa, o que faria com que Esmael Almeida (PMDB) perdesse o mandato. Você se lembra que o PMDB não queria abrir mão da cadeira dele de vereador na Câmara de Vitória, temendo justamente isso, não é? Pois bem, o vereador não assumiu um risco, o governador deu garantias de sua permanência no cargo. Junte a isso, a insatisfação dos deputados com o atual secretário-chefe da Casa Civil, Luiz Carlos Ciciliotti, mais a demonstração de habilidade de articulação de Roberto Carlos entre governo e deputados, mais as mudanças previstas no secretariado e, voilà, teremos um novo titular na Casa Civil.



Nerter – Mas o próprio Roberto Carlos teve que enfrentar a fúria dos colegas de plenário nesse processo. Esmeraldo chegou a atacá-lo durante as sessões, no afã de defender Ferração. O petista tentou manter o controle e fez um discurso conciliador, defendo a reeleição de Ferraço, assim como Luzia Toledo. Naquela altura, ninguém mais tinha dúvidas de que a reeleição de Ferraço já estava assegurada, mas dessa vez com o aval do governador Renato Casagrande.



Renata – Por isso eu digo que Casagrande saiu vitorioso desse embate. Ferraço que sempre conseguiu tudo no grito, usando de manobras bem próprias e que deixavam a classe política sempre de boca aberta, dessa vez precisou de interlocutores para garantir sua reeleição. Da interlocução de um deputado novato, de primeiro mandato, imagine? Ficou evidente nessa movimentações, que o governador não foi colocado contra a  parede, que aceitou a reeleição de Ferraço, mas apresentou condições.





Nerter – Isso é um reflexo do processo eleitoral também. Ferraço perdeu no sul do Estado. Não elegeu Glauber Coelho (PR), em Cachoeiro e nem fez o sucessor da mulher dele, a prefeita Norma Ayub (DEM), em Itapemirim. Em Guarapari, a derrota veio no tapetão, mas ele ainda tem chances na nova eleição. A parceria de Ferraço com o ex-governador Paulo Hartung não logrou êxito, nem para ele e nem para o projeto de credenciar o filho, o senador Ricardo Ferraço (PMDB) para a disputa ao governo do Estado em 2014. Já o governador Renato Casagrande saiu como grande vencedor, não só nos 21 municípios que o partido dele, o PSB, venceu a disputa municipal, mas, principalmente, pelas costuras de bastidores que fez apoiado indiretamente ou reforçando com partidos da base, os palanques de seus aliados.



Renata – Essa movimentação para a presidência da Assembleia estabelece uma nova relação entre Assembleia e governo. Depois que Hartung deixou o governo do Estado, os deputados parecem ter ficado perdidos, já que a dinâmica era bem diferente. Casagrande ouve demais, não reage com os mesmos artifícios a demonstrações de insubordinação, por isso, abriu espaço para que os deputados se movimentassem de forma dura. Ferraço faz alguns movimentos que, para alguns colegas, são só para irritar Casagrande. Mas agora, Casagrande parece ter realinhado as coisas e se estabelecido como liderança política.



Nerter – Casagrande ingeriu na eleição da Assembleia, isso é fato. Em nome da garantia da governabilidade e estabilidade, forçou uma situação para enquadrar Ferraço. Não foi muito democrático, mas pelo menos não enfiou um nome goela abaixo dos deputados, permitiu que a Casa eleja quem quer, no caso, Ferraço. Mas não aquele Ferraço, um Ferraço mais manso. Se é que isso é possível. É sempre bom lembrar que uma expressão que o Ferração não se cansa de repetir: manso como um ganso, mas prudente como a serpente. Então é bom ficarmos de olho nele.

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