Quarta, 24 Abril 2024

Papo de RepórterCom nova conjuntura política no Estado, história não vai se repetir

Renata Oliveira e José Rabelo

 
A semana ficou agitada com as declarações bombásticas do presidente da Assembleia, Theodorico Ferraço (DEM). Para os meios políticos a reação foi uma demonstração de que a canoa dele faz água e que o governador Renato Casagrande não está a fim de jogar a boia para quem pode fazer naufragar sua reeleição.
 
Renata – A semana começou com o presidente da Assembleia Legislativa, Theodorico Ferraço (DEM), intensificando seus ataques ao Palácio Anchieta. Na segunda-feira, ele soltou os cachorros na sessão ordinária e na terça-feira deu uma entrevista dura na Rádio CBN Vitória, na qual apresentou como justificativa para o desgaste na sua relação com o governo o não atendimento de demandas em suas bases. Não convenceu ninguém e os demais deputados fizeram questão de deixar a crise na conta do Ferraço. Ainda na terça-feira, o secretário-chefe da Casa Civil, Luiz Carlos Ciciliotti, baixou na Casa no fim da tarde para tentar apaziguar os ânimos. Mas está difícil controlar Ferraço. Cá pra nós, essa história não tem nada a ver com demandas de deputado, não é?
 
José Rabelo – O deputado José Esmeraldo (PR), na sessão da terça-feira na Assembleia, fez o papel de procurador de Ferraço para tentar aumentar a pressão em cima de Casagrande. No inflamado discurso do republicano, ele repetiu alguns pontos de insatisfação com o governo, mas na empolgação da sua fala acabou deixando pistas de que o descontentamento do presidente da Casa era mesmo com a PEC da reeleição. Ainda no discurso, Esmeraldo cutucou os colegas. Desafiou outros deputados a subirem à tribuna para também externar insatisfação da Casa com governo. Mas parece, como você disse, que essa não é uma demanda de todo o plenário.
 
Renata – É verdade que a relação de Casagrande com os deputados estaduais não é só de amor. Mas também não é desse ódio todo. O governador, desde sua chegada ao governo do Estado, tem tratado os parlamentares com muito diálogo. Protela o atendimento às demandas, mas também não faz igual seu antecessor, determinando os comportamentos do Legislativo, seja no âmbito institucional ou no campo político. Casagrande já deixou claro que não quer Theodorico Ferraço na presidência da Casa. O presidente tem um requerimento em mãos com 22 assinaturas para colocar a PEC para tramitar, se ele vai conseguir efetivar isso no plenário, cabe a ele fazer a campanha.
 
José Rabelo – Eu acho que Casagrande já partiu para essa estratégia. Nessa quinta-feira (9), o governador declarou que não iria comentar as críticas de Ferraço. Ele fez questão de frisar que essa decisão sobre reeleição cabia exclusivamente à Assembleia e não ao Executivo, deixando claro que não vai cair na armadilha do Ferraço, que queria justamente tornar o embate público. Inclusive, o deputado ao incluir no bojo da polêmica os 11.98% de retroativo da reposição salarial dos funcionários da Casa, na verdade queria jogar os servidores contra o governador.
 
Renata – Fica evidente para os meios políticos que Ferração está tentando repetir uma estratégia usada no final do governo José Ignácio Ferreira de tentar desgastar o Executivo em favor de um outro projeto político. O problema é que o ambiente político era outro. Ignácio vinha sofrendo com desgastes com a classe política e a imprensa. Ferraço, com uma pasta recheada de denúncias contra ele, caiu como uma luva para a imprensa capixaba, que encampou os ataques de Ferraço na época, criando uma situação política muito favorável ao governo que viria a seguir: o de Paulo Hartung (PMDB). Agora, dadas as devidas proporções, Ferraço tenta novamente desgastar o governo, ao mesmo tempo em que protege Hartung. Faz isso na Assembleia, ao evitar que desafetos do ex-governador como Max Mauro (PTB) e Euclério Sampaio (PDT) venham a integrar o Plenário, desferindo críticas a Hartung em um momento em que o ex-governador está fragilizado. 
 
José Rabelo – Você tem razão. Acho que é mais uma estratégia errada de Ferraço, inclusive, essa semana ele deu outras demonstrações de que está perdido. Como diz popularmente, trocando os pés pelas mãos. Estou me referindo à tentativa de Ferraço de consertar o discurso feito na semana passada no lançamento da candidatura à reeleição, o prefeito de Guarapari, Edson Magalhães (PPS). Depois de pedir publicamente a ingerência do ex-governador no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) para livrar a cara do apadrinhado, o deputado, diante da repercussão do episódio, enviou ofício ao presidente do Tribunal, Sérgio Bizzotto, para explicar que havia confundindo o ex-governador com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Para mais de 70% dos leitores de Século Diário, que responderam a enquete sobre o imbróglio, a emenda saiu pior que o soneto.
 
Renata – Pois é. Ferraço estaria muito irritado com o desenrolar desta eleição. Seus aliados não vão muito bem das pernas e ele se uniu a Hartung em uma empreitada, buscando espaço político para se recolocar no cenário eleitoral em 2014. Daí a importância de Ferraço se reeleger para a Presidência da Assembleia. É importante para o grupo ter o controle do Legislativo no período da eleição estadual. Com o perfil de Ferração, a ideia seria ele ter força para alicerçar o palanque de Hartung, que provavelmente não estaria à frente da campanha, sobrando espaço para o filho de Ferraço, o senador Ricardo Ferraço (PMDB), retomar o projeto de chegada ao poder, interrompido no fatídico abril sangrento de 2010.
 
José Rabelo – Apesar da articulação armada pelo trio Ferraço, Hartung e Ricardo para conquistar território nesta eleição, projetando o campo para 2014, o governador Renato Casagrande, que não é bobo, também se movimenta. O recado está dado e só não lê as entrelinhas quem não quer. Em tempos de fim de Fundap (Fundo de Desenvolvimento das Atividades Portuárias) e iminente perda de royalties, os deputados que se elegerem, e temos 13 parlamentares na disputa, precisam manter uma boa relação com o governo estadual, que será o grande provedor dos municípios em 2013. Temos que considerar que Casagrande, a exemplo do que aconteceu nas articulações pré-eleitorais deste ano, costuma agir discretamente, mas isso não quer dizer que ele está parado. Muito pelo contrário.
 
Renata – Hoje na Assembleia o clima é bem diferente daquele de antes do recesso. Ferraço foi para casa com um requerimento com 22 assinaturas e achou que a reeleição para a presidência da Mesa estava garantida. O governador o chamou para conversar e mandou engavetar a proposta para depois da eleição. É claro que o recado chegou ao plenário, que ficou surpreso ao saber que a coisa foi feita sem o conhecimento do Palácio. Isso causou um enorme desgaste nessa campanha de Ferração. Até porque existe uma fila sucessória, que diga-se de passagem, Ferraço já furou no primeiro semestre deste ano, quando assumiu o mandato tampão. É claro que Ferraço fortalece a Assembleia, mas chegar chutando a porta não vai levá-lo a lugar nenhum. Hoje pouca gente acredita que ele será reeleito para a presidência da Casa.
 
José Rabelo – Resta saber se ele vai engolir isso facilmente.

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