Terça, 23 Abril 2024

Papo de RepórterPor que Paulo Hartung tem tanto medo de Magno Malta?

Papo de RepórterPor que Paulo Hartung tem tanto medo de Magno Malta?

 

Renata Oliveira e Rogério Medeiros





Os aliados do ex-governador Paulo Hartung (PMDB) em Vitória e Vila Velha passaram a atacar o senador Magno Malta (PR/foto), já visando o risco que corre o sistema político dele para 2014. Papo de Repórter analisa o desempenho dessas duas lideranças na eleição deste ano. 
 
Renata – Rogério, tem uma coisas que ficam claras nesta reta final de eleição no Estado, com mais força em Vitória e Vila Velha, que é o discurso dos candidatos do Hartung contra o senador Magno Malta. Há poucos dias Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB) fez referência ao fato de que o senador no palanque de Luciano Rezende (PPS) prejudicava o candidato, e nessa quinta-feira (27) Rodney Miranda (DEM) disse que Neucimar Fraga (PR) estaria escondendo o senador de sua campanha. Por que Hartung tem tanto medo de Magno Malta?
 
Rogério – Primeiro porque o Magno Malta não tem papas na língua. Ele não se alinhou à classe política do Espírito Santo e aos oito anos de seu governo, o Paulo Hartung morreu de medo dele. Depois, ele sempre falou o que quis sobre o Paulo. É importante assinalar que nesses oito anos Hartung dirigiu sua metralhadora para cima dos Mauro, que agora cometem um êxito porque fizeram uma meia composição na eleição e sobrou o Magno. É complicado porque ele é um encantador de serpentes, com o microfone na mão convence a baixa renda. Ele fez tudo para evitar que Magno se elegesse senador e ele se elegeu. Esse é o que sobrou para o Paulo...

 
Renata – Acho que a coisa se intensificou depois  que Magno parou de dizer que não será candidato ao governo. O grupo de Hartung, no período pré-eleitoral, para tentar afastar o governador Renato Casagrande do senador, veio com essa história de que ele era uma ameaça à reeleição do Casagrande em 2014. Paulo chegou a ir ao gabinete do governador para “alertá-lo”, que se ele deixasse o Magno solto, ia ser um adversário dele no governo. O governador não mordeu essa isca e não fez nenhum movimento contrário ao Magno. O senador, por sua vez, que sempre disse ter um perfil parlamentar, surpreendeu recentemente em entrevista a Século Diário, dizendo que pode, sim, vir a disputar o governo do Estado. 

 
Rogério – Temos que sinalizar que Paulo é brilhante nas articulações dele, principalmente nas perseguições que consegue mascarar, não deixando transparecer que é perseguição, e está se utilizando muito bem das principais vitrines para ir para cima do Magno Malta: Vila Velha e Vitória. Ele quer criar uma sensação de que é preciso esconder, porque a classe média não votaria no candidato. Que Magno prejudica o candidato. Estamos acostumados na política do Espírito Santo que as elites decidem as eleições e o Paulo sabe conduzir essas elites, mas não conseguiu evitar uma pessoa com perfil popular e com o eleitorado na mão. Esse é o grande pavor, não do Paulo, mas da elite capixaba, quem está conduzindo o voto da pobreza, como no passado, essa elite se assustou com Solon Borges, que ganhou o que quis. Foi prefeito, deputado e não foi senador porque roubaram o mandato dele. Magno precisa ser combatido porque ele ameaça a manutenção das elites no poder.

 
Renata – Magno Malta não agrada à elite. E vamos falar a verdade, o discurso dele não agrada quem tem um pouco mais de esclarecimento. Nós mesmos, aqui do jornal, somos contrários a quase tudo que ele defende. É um discurso ultra-reacionário. Mas o eleitorado capixaba é conservador e essa faixa em que ele navega é mais conservadora ainda, sobretudo, pela influência de boa parte das igrejas evangélicas, parte essa que vem crescendo a cada ano no Espírito Santo. Com um cenário de degradação de determinados costumes e o aumento galopante da violência, Malta consegue introduzir um discurso de fácil assimilação no público despolitizado. Só que esse discurso é conduzido com uma oratória incrível, ele é um grande orador. Tanto que quando ele chega nesses bairros pobres, é abraçado como ídolo, principalmente na periferia da Grande Vitória. Enquanto a classe política se volta para o discurso da elite, que é uma fatia cada vez menor da população, com a defesa do Fundap (Fundo de Desenvolvimento das Atividades Portuárias) e royalties, o campo fica aberto para Mágno discursar sobre a família, os valores e tal...

 
Rogério –  A verdade é que o Paulo Hartung deve ter como companhia noturna em seus delírios de poder o Magno Malta. Ele conseguiu em oito anos aglomerar um arranjo institucional, colocando sob sua bota Assembleia, Judiciário, Ministério Público, e não conseguiu segurar o Magno Malta. Imagine o que deve ser isso para ele? Os pesadelos que ele passa com a possibilidade desse Magno continuar encantando serpentes e ele sem a caneta na mão. 

 
Renata – E mais. A dinâmica do senador não só nas ruas, mas na condução de seu partido, abre um precedente complicado para o Paulo. Ele não entra em palanque favorito, ele cria novos personagens, como fez em Viana, com o candidato do PV, Gilson Daniel, que reverteu uma eleição dada como certa para Solange Lube (PMDB), que é aliada do Hartung. Ele é também o principal trunfo de Marcelo Santos, em Cariacica. Ao contrário de Hartung, ele transfere voto. Em 2008, Magno foi para os bairros de Cachoeiro e virou a eleição de Casteglione para cima do Theodorico Ferraço. Ao mesmo tempo em que fortalece as lideranças, ele aumenta sua musculatura. Já Hartung vem perdendo prestígio político desde que deixou o governo. Basta ver o desempenho de um e de outro na eleição. Hartung precisa de toda uma estrutura para entrar em campo, Magno faz isso com naturalidade. Ele é um político de rua, Hartung é de gabinete e de produção de fórmulas eleitorais. 

 
Rogério – Ele esteve presente na disputa de 2002 entre Max Mauro e Hartung, que tinha a maioria dos 78 prefeitos e Max tinha três. Além disso, ele vinha de uma eleição para o governo frustrante contra Vitor Buaiz e Cabo Camata. Quando Magno entra na campanha de Max Mauro, a reação é imensa. Ele quase ganha a eleição do Paulo com todo aquele aparato. 

 
Renata – Ah! Então vem daí toda essa preocupação, não é?

 
Rogério – Não vem daí, mas a preocupação é justa com relação a ele por duas razões: o Paulo não tem hoje o exército que tinha. A veia política que ele tem é em Vila Velha e Vitória. Em Vitória a eleição tem um franco favorito. Em Vila Velha, Paulo virou eleitor porque o prefeito Neucimar Fraga (PR), que aliás também ganhou a eleição com Magno Malta, conseguiu, em um dado momento, dadas as peculiaridades da eleição em Vila Velha, tirar o Magno para sorrir para Paulo Hartung e receber o apoio dele. Mas na hora que o bicho pegou, quem foi para os bairros no segundo turno foi o Magno. Neucimar cometeu um erro grave quando chegou na prefeitura. Como ele sentou na cadeira pensando na reeleição, foi para Hartung já pensando no enfrentamento ao Max Filho em 2012. Ele quis mostrar que Max não tinha condição de ser candidato, por ser oposição. Ficou quatro anos falando isso e transformou o Hartung em grande eleitor, um verdadeiro ventríloquo  para ameaçar a reeleição de Neucimar. E pode assinalar, na "hora h" você vai ver quem vai socorrer o prefeito...

 
Renata – Essa reação que Paulo busca em Vitória e Vila Velha tem sentido próprio. É virar alternativa para 2014, como quem diz: não dá para Ricardo Ferraço (PMDB), não dá para Casagrande, porque a ameaça a ser enfrentada é Magno Malta, e só Hartung teria condições de fazer esse enfrentamento. Seria isso?

 
Rogério – Acho que não. Você tocou em um ponto que não está no script. Paulo precisa se sobressair nesta eleição por outras razões. É que a batata dele está assando. Mas isso é assunto para outro papo. 

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