Sexta, 19 Abril 2024

Médicos não atuam no interior por falta de políticas públicas

Baixos salários e ausências de um plano de carreira e de condições para diagnósticos adequados são os principais fatores que afastam os médicos que atuam no Estado do interior. A afirmação é do vice-presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM), Oswald Luis Pavan, que alertou: a concentração de médicos em Vitória é o retrato da falta de uma política pública adequada para o setor.

 
A declaração de Pavan repercute a divulgação dos dados do Conselho Federal de Medicina (CFR), que apontou Vitória como a cidade com maior concentração de médicos do país. Com taxa de 2,17 profissionais por 1.000 habitantes, o Estado se posiciona acima da média nacional, ocupando o décimo segundo lugar em números absolutos de médicos registrados em todo o País (388.015) e o quinto em termos proporcionais. Apesar disso, 49% desses profissionais se concentram na Capital.
 
“Os médicos têm dois principais atrativos para atuar em Vitória: uma boa condição de trabalho e um salário diferenciado. E se a concentração de médicos em Vitória está entre a mais densa do País, faltam políticas públicas que atraiam esses profissionais para o interior”, disse ele. 
 
Segundo Pavan, as prefeituras no interior pagam de R$ 3 a 5 mil, porém, há algumas que chegam a pagar R$ 2 mil, o que é incompatível com o que é demandado do profissional, e isso inclui os esforços para ser aprovado no curso, especialização, residência e atualização profissional. 
 
Além disso, faltam condições para a realização de diagnósticos adequados, como equipamentos para a realização de tomografias, endoscopias, entre outros exames. “O médico está ele pode dar um diagnóstico de qualidade”, ressaltou. 
 
Outro ponto que afasta o médico do interior é a falta de um plano de carreira. Pavan aponta que o Programa Saúde da Família, por exemplo, é o que paga melhor entre as possibilidades oferecidas pelo governo. Porém, quem trabalha para o programa não é efetivo. “Então o médico se muda para o interior, tem um salário que varia de R$ 8 a 12 mil, mas quando o prefeito sai, ele perde o emprego”. 
 
Para mudar esse quadro, garante Pavan, é preciso que sejam realizados concursos públicos que garantam um plano de carreira adequado ao exercício da profissão. Outro ponto que influencia são os vínculos dos pacientes com planos de saúde. “Essa clientela faz com que o médico tenha um pouco mais de estabilidade e está mais concentrada nas grandes cidades".
 
As severas distorções na distribuição de médicos pelo país, segundo o CFM, reforça a preocupação das entidades médicas com as condições para o exercício da medicina, especialmente no interior dos estados. Para a entidade, a alteração deste quadro passa pela adoção urgente de medidas estruturantes na assistência em saúde.
 
 “As áreas que apresentam melhores condições de atração de médicos e demais profissionais também são as que possuem vantagens de infraestrutura, estabelecimentos de saúde, maior financiamento público e privado, melhores condições de trabalho, remuneração, carreira e qualidade de vida”, ressaltou o presidente do CFM, Roberto Luizd’Avila, um dos idealizadores da proposta de carreira de estado para o médico do Sistema Único de Saúde (SUS).
 
Médicos formados no exterior 
 
O estudo do CFM também avaliou que os portadores de diplomas obtidos no exterior em atividade no país se concentram em estados do Sudeste, justamente naqueles com maior concentração de médicos. 
 
Segundo o levantamento, São Paulo é de longe a cidade que concentra o maior número de médicos formados no exterior. Do total de 6.980 profissionais com estas características e que possuem CRM, 16,30% têm endereço de domicílio ou de trabalho na capital. Outros 836 estão no interior paulista. Juntamente com Rio de Janeiro e Minas Gerais, em São Paulo se concentram 42,22% dos egressos de outros países.
 
No Espírito Santo foram registrados 25 médicos com diplomas estrangeiros, sete atuam na Capital, enquanto 18 desenvolvem suas atividades do interior do Estado. 

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