Domingo, 28 Abril 2024

ChatGPT e as profissões criativas

Professores da Universidade de Washington e da NYU revelaram, em um pré-lançamento da revista internacional Social Science Research Network (SSRN), um estudo pioneiro sobre os efeitos do ChatGPT, somando-se a uma pesquisa anterior de professores de Harvard sobre a produtividade dos consultores do Boston Consulting Group que utilizam a mesma tecnologia.

As conclusões deste estudo, embora não surpreendentes, destacam a necessidade de dados concretos sobre o impacto do algoritmo generativo ChatGPT. Há um ano, sua introdução mostrou efeitos negativos significativos em profissões criativas, como designers gráficos e redatores.

Utilizando dados provenientes da plataforma freelancer Upwork, o estudo revela que profissionais dessas áreas não apenas enfrentaram uma redução considerável na quantidade de empregos disponíveis, mas também experimentaram quedas ainda mais acentuadas em seus ganhos. Isso sugere não apenas uma substituição de empregos pela inteligência artificial generativa, mas também uma desvalorização do trabalho que ainda é realizado por esses profissionais.

O caso dos redatores e designers gráficos é particularmente ilustrativo, pois evidencia o fenômeno da substituição direta: o trabalho que costumava ser solicitado a esses profissionais pode agora ser executado diretamente pelo algoritmo generativo. Os números são expressivos, representando uma diminuição de cerca de 2% no número de empregos mensais e uma queda de 5,2% na renda mensal desde a implementação do ChatGPT.

Além disso, os trabalhadores que normalmente auferiam os rendimentos mais elevados e completavam um maior número de empregos não estão imunes à diminuição de emprego e renda. Na verdade, eles enfrentam resultados ainda mais adversos, indicando que ter mais habilidades não é uma garantia de proteção contra a perda de emprego ou renda. Estes resultados sugerem que, a curto prazo, a IA generativa está reduzindo a demanda global por trabalhadores do conhecimento de todos os tipos e pode até mesmo estar contribuindo para a redução das disparidades entre trabalhadores.

À medida que o tempo avança, é inevitável que mais trabalhos acadêmicos busquem quantificar o impacto dos algoritmos generativos. A ampla adoção do ChatGPT nos últimos 12 meses fornece uma oportunidade única para analisar os efeitos sobre profissionais individuais. O desafio de sair do campo das hipóteses não testadas para a quantificação concreta e específica representa um primeiro passo para prever os impactos em diferentes indústrias e mercados de trabalho, podendo influenciar futuras regulamentações sobre o uso dessas ferramentas.

Com o impacto do ChatGPT nas profissões criativas, o futuro do trabalho se torna uma dúvida perante a ascensão da inteligência artificial. Os números revelam não só a substituição de empregos, mas também a desvalorização do trabalho humano. Nesta revolução, no entanto, será preciso questionar como chegar ao equilíbrio da inovação considerando a preservação das habilidades humanas. Como sociedade, o desafio agora é compreender e orientar de forma proativa tal transformação.


Flávia Fernandes é jornalista, professora e autêntica "navegadora do conhecimento IA"
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