Domingo, 05 Mai 2024

Decisão de placa

 

Ponha-se no lugar de um dos 6 mil trabalhadores da antiga Companhia Siderúrgica de Tubarão (hoje ArcelorMittal) - que esperavam o desfecho do julgamento de uma reclamação trabalhista que se arrastava na Justiça há anos - quando souberam que representantes da empresa, na antevéspera do julgamento, estavam trocando gentilezas com o presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 17ª Região, desembargador Marcello Maciel Mancilha. 
 
O pesadelo dos trabalhadores começou na segunda-feira (18), dia em que o presidente do TRT-ES participou de uma solenidade na sede da Arcelor. Mancilha queria agradecer a um dos altos executivos da empresa, Benjamin Baptista Filho, o apoio institucional da siderúrgica ao Programa Trabalho, Justiça e Cidadania, do TRT-ES. 
 
Mancilha, que achou pouco agradecer a parceria com um simples aperto de mão, mandou fazer uma placa para homenagear a empresa. Na foto, postada na página principal do site institucional do TRT-ES, Mancilha aparece com um sorriso largo ao lado do CEO da Arcelor (figura mais alta na hierarquia da empresa - Chief Executive Officer) rendendo a “merecida” homenagem. 
 
Se fosse questionado pela imoralidade do ato, provavelmente o presidente do TRT diria que uma coisa não tem nada a ver com a outra. Afinal, seria uma bobagem os trabalhadores pensarem que o ato festivo teria qualquer influência na decisão do processo que seria julgado nas próximas horas. 
 
Mancilha diria com todas as letras que a decisão do TRT seria completamente isenta. Acrescentaria, para não restar dúvida aos mal-intencionados de plantão, que não seria uma singela placa de agradecimento que influenciaria a decisão de um juiz. 
 
Entretanto, não foi essa a percepção de quem aguardava o julgamento da ação. A cena imoral, estampada no site do TRT, causou grande apreensão nos trabalhadores, que interpretaram a confraternização como um mau agouro. O episódio também gerou polêmica no meio jurídico, advogados comentavam que o ato do presidente do TRT, às vésperas do julgamento de uma causa milionária – não qualquer causa, mas algo em torno de R$ 170 milhões - fora impróprio, inadequado, mesmo imoral. 
 
Como não podia ser diferente, as atenções na tarde desta quarta-feira (20) se voltaram para o TRT. Além dos trabalhadores, muita gente estava interessada em saber qual seria a decisão da Justiça. 
 
Para alívio da Arcelor, o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas Mecânicas e de Material Elétrico do Estado (Sindimetal), que representava os trabalhadores na ação, perdeu a causa para a empresa.



É importante ressaltar que o teor da ação, neste momento, não vem ao caso. Não importa se a empresa tinha ou não razão, se a causa era absurda, improcedente etc. O mais revelante é a conduta do presidente do TRT, que merece profunda análise e reflexão.
 
Mas, retomando o espírito de confraternização do episódio, para retribuir a gentileza, seria de bom tom que o CEO da ArcelorMittal mandasse fazer um senhora placa em homenagem ao presidente do TRT. Seria um gesto simbólico para festejar os frutíferos resultados dessa promissora parceria. Nada mais justo, não é mesmo?

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