Segunda, 29 Abril 2024

Elon Musk e a soberania digital

A recente controvérsia envolvendo Elon Musk e a plataforma X no Brasil coloca em xeque não apenas a soberania digital de uma nação, mas também a ética de grandes corporações tecnológicas que dominam esse ecossistema. Com aproximadamente 19 milhões de usuários, o Brasil se posiciona como um dos maiores mercados da empresa e tal relevância motivou questionamentos sobre as verdadeiras intenções de Musk ao desafiar decisões do Supremo Tribunal Federal (STF).

A estratégia de Musk parece ser uma manobra calculada para perturbar o cenário político e jurídico, evitando que o Brasil avance nos esforços de regulamentação das redes sociais, um movimento que, se bem-sucedido, poderia inspirar outras nações a seguir o mesmo caminho. As big techs têm um histórico de resistência à regulação externa, preferindo um modelo de autonomia digital, em que elas ditam as regras e os usuários finais carregam o peso da responsabilidade. Essa postura estrategicamente desvia a atenção do papel das plataformas na propagação de conteúdo ilegal e prejudicial, como deep fakes.

A realidade é que a internet de hoje é um multiverso globalizado, em que as regras domésticas dos países são frequentemente ignoradas, criando um limbo jurídico. Apesar disso, a Europa avança com regulamentações pioneiras na governança da Inteligência Artificial. Esse movimento audacioso reflete um compromisso com a ética digital e a proteção dos direitos dos cidadãos, estabelecendo um precedente para que outras nações possam seguir. A regulação da IA na Europa, portanto, surge como um contraponto à tendência de autorregulação das empresas de tecnologia, propondo um modelo onde a responsabilidade não recai apenas sobre os usuários, mas também sobre os criadores e distribuidores de tecnologias de IA.

A confusão entre liberdade de expressão e crime é outro ponto crítico. As empresas de tecnologia frequentemente gritam em defesa da liberdade de expressão quando confrontadas com a possibilidade de regulação, mas essa defesa é falha quando usada para justificar a difusão de crimes como pornografia infantil, tráfico de armas e outros conteúdos ilegais. O Marco Civil da Internet, em vigor desde junho de 2014, é um exemplo de tentativa de regulamentação que, apesar de suas boas intenções, possui lacunas significativas e não aborda os problemas atuais do ambiente virtual.

O caso de Musk e X é um lembrete de que as big techs não têm um lado ideológico; elas operam em função de seus interesses comerciais. A ilusão de que defendem a liberdade é desmascarada quando se observa que, na prática, buscam apenas mais controle e poder. A cada dia sem ação regulatória, essas empresas ganham mais força para moldar a vida dos usuários conforme seus interesses.

O episódio atual é um alerta para a necessidade urgente de discussão e ação sobre a regulação da internet. É fundamental proteger a soberania nacional e os direitos dos cidadãos frente ao poder crescente das big techs. A verdadeira liberdade em jogo não é a de expressão, mas a de viver em uma sociedade onde a privacidade, segurança e soberania não são comprometidas pelas motivações de poucos.


Flávia Fernandes é jornalista, professora e autêntica "navegadora do conhecimento IA"
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