Domingo, 28 Abril 2024

Empresa capixaba foi a 3ª que mais ???lavou??? dinheiro da Delta

Empresa capixaba foi a 3ª que mais ???lavou??? dinheiro da Delta

As ligações entre a empresa Delta Construções S/A e o Espírito Santo vão muito além dos contratos firmados no governo Paulo Hartung (PMDB). De acordo com o relatório final da CPI do Cachoeira, que investiga o tráfico de influência da empreiteira com políticos, a empresa laranja Garra Transportadora e Locação Logística de Veículos Ltda, registrada no município de Viana, foi uma das principais operadoras do sistema de lavagem de dinheiro pela empresa carioca.  A Garra foi a terceira empresa laranja investigada com maior movimentação financeira oriundas da Delta: R$ 23,507 milhões dos R$ 173 milhões registrados em transações feitas pela empresa.



Nos últimos dois anos, a empresa laranja capixaba foi responsável por 25% do repasse de dinheiro, que somaram pouco mais de R$ 92 milhões, para empresas classificadas pela CPI como “suspeitas” (confira mais detalhes sobre a empresa abaixo). 



No texto, o relator dos trabalhos, deputado Odair Cunha (PT-MG), sugere o aprofundamento das investigações em relação aos repasses. No relatório final, o parlamentar sugere que as 77 empresas laranjas identificadas teriam sido utilizadas para lavar o dinheiro da Delta Nacional no pagamento de propinas a políticos, financiamento de campanhas eleitorais e repasses para a organização criminosa encabeçada pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira. 







As relações comerciais da Delta Construtora no Espírito Santo giram em torno do governo estadual e o mercado imobiliário local. A estrutura da empresa no Estado passa pelo engenheiro José Maria Oliveira Filho, irmão do atual sócio do ex-governador, o ex-secretário de Fazenda José Teófilo de Oliveira. José Maria responde como gestor comercial da Delta Incorporação – um dos braços da empresa que era chefiada por Fernando Cavendish, um dos indicados pelo relator da CPI. 



No organograma do grupo, o irmão do sócio de Hartung aparece abaixo apenas do diretor regional Luiz Henrique da Cunha Borges, responsável pelos estados do Espírito Santo e Minas Gerais. No entanto, as principais atribuições pela atuação do Grupo Delta em solo capixaba ficavam com o engenheiro. Tanto que a empresa iniciou sua relação com o governo capixaba ainda no primeiro mandato do peemedebista, no final de 2005. 



A empresa foi a principal beneficiária dos contratos para obras do programa de pavimentação de estradas vicinais, batizado como Caminhos do Campo. Até o encerramento dos acordos, em 2007, a Delta faturou cerca de R$ 23 milhões com os serviços. Apesar das denúncias da baixa qualidade na execução das obras, conhecidas popularmente como “asfalto sonrisal”, em alusão ao rápido desgaste do asfalto utilizado, a empresa carioca só ampliou a sua participação no governo Hartung. 



Entre os anos de 2006 e 2010, a Delta faturou lucrativos acordos no Departamento de Estradas de Rodagem do Estado (DER-ES) e a Companhia Espírito-Santense de Saneamento (Cesan), relações que foram explicitadas no relatório da CPI. No primeiro órgão, a empresa arrematou seis contratos de obras de pavimentação e reabilitação de trechos das rodovias estaduais, no total de R$ 118 milhões. 



Desde 2008, a empresa figura em contratos na Cesan para a prestação dos serviços de manutenção das redes de esgoto na Grande Vitória. Ao todo, os ganhos do acordo com a empresa ultrapassam R$ 90 milhões com a companhia. Nem mesmo a mudança de governo influiu nessa relação comercial entre a Delta e a Cesan, que é dirigida por aliados de primeira hora do ex-governador. 



Em abril deste ano, o diretor-presidente da Cesan, Neivaldo Bragato – que foi secretário de Governo na gestão passada –, assinou um novo aditivo com a empreiteira carioca, ignorando o desenrolar das investigações pela CPI em Brasília. O atual número dois na companhia é o diretor administrativo e de Meio Ambiente, Anselmo Tozi, que foi titular da pasta de Saúde no governo Hartung. 



Nos meios políticos, essa relação entre a Delta e o governo estadual reforça a necessidade do aprofundamento nas investigações sobre a Garra Transportadora, como sugerido pelo relator. Durante os trabalhos da CPI, o deputado federal Paulo Foletto (PSB) chegou a anunciar que pediria a convocação de José Maria, mas a solicitação não foi levada a cabo pelo deputado – que pediu afastamento dos trabalhos da CPI sem uma justificativa clara. 



Enquanto o socialista recuava na intenção de aprofundar as apurações das relações da Delta Construtora no Espírito Santo, outro membro da bancada capixaba na CPI passou a ter uma atuação mais aguda: o senador Ricardo Ferraço (PMDB), que chegou a ser apontado pela imprensa nacional como um dos integrantes da comissão com ligações com a Delta. Já que na época da chegada da empresa ao Estado, o peemedebista – então vice-governador – ocupava a pasta de Agricultura, que era responsável pelas obras do Caminhos do Campo. 



Conheça uma “empresa de fachada” 



No relatório final da CPI, a Garra Transportadora foi apontada como uma das principais companhias que receberam dinheiro vindo das contas da Delta Construtora. No entanto, a movimentação de R$ 23 milhões entre 2011 e 2012 parece não ter chamado atenção dos vizinhos do local onde está registrada a suposta empresa, na rua Coronel Laurentino Pimentel, número 170, no centro de Viana (região Metropolitana da Grande Vitória). 



Nos últimos meses, a reportagem de Século Diário visitou o local apontado como a sede da empresa que recebeu o dinheiro da Delta. No endereço, ao invés de um prédio comercial ou galpão de uma transportadora, a suposta sede da Garra se resume a uma residência com dois pavimentos, espaçosa garagem no térreo, em uma rua pouco movimentada, com calçamento de paralelepípedos – ao lado da rua que dá acesso à Igreja Matriz do município. 



O imóvel denunciava a presença de moradores por conta de um lençol pendurado em um varal no terraço, porém, ninguém atendeu  a campainha. Poucas pessoas circulavam pela rua. Moradores das casas ao lado não faziam ideia que o local seria a sede de uma empresa que movimentou R$ 23 milhões nos últimos dois anos.



Uma vizinha que mora no local há mais de 25 anos relatou que o prédio nunca serviu como sede de qualquer empresa. Segundo ela, o imóvel pertence a um casal de irmãos – Carminha e Enoque – que vivem do aluguel dos prédios da família na mesma rua. Ela afirmou também que sequer ouviu falar de Eliandro Paula da Conceição ou Gláucio Barcelos, nomes dos laranjas que foram registrados como sócios da empresa de fachada. 


A reportagem do jornal Folha de S. Paulo, que revelou a existência do esquema das empresas laranjas pela Delta Nacional, localizou Gláucio Barcelos no subúrbio do Rio, distante mais de 500 quilômetros da sede da Garra. Ela declarou à Folha que trabalhava como pedreiro e não quis dar mais detalhes sobre o fato de aparecer como sócio da empresa laranja. 



De acordo com o relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão ligado ao Ministério da Fazenda, a empresa enviou R$ 7,27 milhões, no período de 01/02 a 30/04/2012, para a Conta Corrente nº 176905, na agência 525 do banco HSBC, na cidade do Rio de Janeiro, titulada pela empresa Garra Transp. e Loc. Logística de Veículos. 



Segundo o registro na Junta Comercial do Espírito Santo (Jucees), a Garra iniciou suas atividades no dia 25 de outubro de 2010, com um capital social de apenas R$ 10 mil. Eliandro aparece com R$ 9,9 mil das cotas sociais, enquanto Gláucio fica com apenas R$ 100. O objetivo social lista como atividades: transporte rodoviário de carga, exceto produtos perigosos e mudanças; intermunicipal, interestadual e internacional; locação de automóveis sem condutor, e locação de veículos com equipamentos de movimentação de carga com operador.

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