Sábado, 04 Mai 2024

Índios protestam em Brasília contra novas regras para processos de demarcação

Índios protestam em Brasília contra novas regras para processos de demarcação
Cerca de dois mil indígenas protestaram, em Brasília, na manhã desta quarta-feira (4), contra as novas regras apresentadas pelo Ministério da Justiça aos processos de demarcação indígena no País. Após solicitarem audiência com o ministro José Eduardo Cardozo, porém sem resposta, eles entregaram ao governo federal uma carta direcionada à presidente Dilma Rousseff.



Nela, os índios lamentam que, diante das recentes iniciativas elaboradas para inviabilizar de vez as demarcações e beneficiar setores como o agronegócio, mineradoras e empreiteiras, o governo Dilma “poderá passar para a história como um governo verdadeiramente anti-indígena: o que menos demarcou terras indígenas, e o que mais avançou na restrição ou supressão dos direitos dos povos indígenas do Brasil”.



Além de solicitar políticas públicas direcionadas a esses povos e pedir o fortalecimento da Fundação Nacional do Índio (Funai), na carta os índios também solicitam a inviabilização da publicação da nova portaria e a revogação de todas as portarias e decretos que ameaçam os seus direitos.
 
O Ministério da Justiça divulgou, na noite dessa terça-feira (3), que índios, entidades indigenistas, órgãos governamentais e associações de agricultores poderão sugerir mudanças na redação final da portaria que define as novas regras das demarcações de terras indígenas no País. O comunicado, segundo a Agência Brasil, também explica - porém sem convencer -, que a portaria tem o objetivo de solucionar os conflitos com produtores rurais nos processos de demarcação. 
 
Atentam contra os direitos indígenas o PLP 227/2012, que permite concessões a latifundiários de terras demarcadas em áreas de fronteira e define como de "relevante interesse da União" projetos desenvolvimentistas, como dutos, estações logísticas e empresas extrativistas que, sendo implantados sem conhecimento dos indígenas, afrontam sua soberania constitucional sobre suas terras demarcadas; a PEC 215/2000, que transfere do Executivo para o Congresso a decisão final sobre as demarcações de terras indígenas, abrindo prerrogativa para a revisão de processos já homologados - que é o caso do território indígena de Aracruz, no norte do Espírito Santo - e para terras quilombolas e Unidades de Conservação (UCs).
 
Também tramita no Congresso Nacional a PEC 038/99, que dá ao Senado Federal competência privativa para aprovar processos de demarcação de terras indígenas; a PEC 237/13, que permite o arrendamento das terras indígenas para grandes produtores rurais; e ainda o Projeto de Lei 1610/96, que permite a mineração em territórios demarcados. Os índios exigem ainda a extinção da Portaria 303, da Advocacia Geral da União (AGU) que, embora suspensa, ainda é tema de articulações da bancada ruralista.
 
Os índios estão reunidos na V Conferência Nacional de Saúde Indígena, que ocorre em Brasília até o final desta semana, e a manifestação aconteceu no local do congresso, o Centro Internacional de Convenções do Brasil (CICB). Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), durante a manifestação houve um confronto no qual três índios ficaram feridos e foram levados ao hospital. Eles lembram que as atuais articulações entre o Legislativo e o Executivo são os mais fortes ataques aos direitos indígenas desde a ditadura militar.
 
O ministério também declarou que a intenção da portaria é “dar poderes” à Funai para que possa “mediar os conflitos envolvendo a demarcação de terras indígenas” e permitir a participação nos processos de demarcação de outros órgãos "interessados", como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e os ministérios do Desenvolvimento Agrário e da Agricultura. “Contrariamente às alegações do governo, a dita portaria eterniza a não demarcação de terras indígenas, fragiliza por vez a Funai, e desenha um quadro assustador de acirramento", afirma a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) em nota divulgada nessa terça-feira.
 
Os índios afirmaram ainda que a iniciativa é uma tentativa de oficializar a proposta apresentada e defendida por integrantes do governo federal,  como os ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, e da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, no primeiro semestre deste ano.

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