Sábado, 11 Mai 2024

Casagrande mostrou firmeza ao enfrentar o primeiro ataque eleitoral na Assembleia

Casagrande mostrou firmeza ao enfrentar o primeiro ataque eleitoral na Assembleia
Nerter Samora e Renata Oliveira
 
A semana foi movimentada pela repercussão do tal estudo sobre os gargalos fiscais do governo Renato Casagrande. Papo de repórter analisa a posição do governador e as consequências para no contexto eleitoral. 
 
 
Nerter – Um estudo (reportagem de A Gazeta, 09/03/2014) mostrando o aumento de gastos do governo do Estado em tom alarmista, logo depois da bronca judicial do ex-governador Paulo Hartung (PMDB) sobre o "Posto Fantasma" ser rejeitada na Justiça e na véspera da prestação de contas do governador Renato Casagrande, que sofreu um ataque duro do deputado Paulo Roberto (PMDB), cobrando explicações com base nos dados do tal estudo de dois "teleguiados" de Hartung: Ana Paulo Vescovi e Haroldo Rocha. É muito coincidência, não é? 
 
Renata – Coincidência... tá bom, vamos dizer que é coincidência. Desde o início do ano estou ouvindo que depois do Carnaval a coisa ia apertar e tal, mas não imaginei que fosse um ataque assim tão claro ao governador Renato Casagrande. Aliás, não sei por que essa coisa de tentar dizer a todo custo que isso não tem viés político, que não tem relação com o grupo do senador Ricardo Ferraço (PMDB) e Paulo Hartung. Gente, pode dizer, não tem problema! É um grupo político que quer erguer um palanque alternativo. Nada mais natural que, em tendo especialistas em números (e como os números servem a interpretações diversas, não é?), o grupo se arme de argumentos para o ataque eleitoral. Tá tudo dentro da normalidade...
 
Nerter – Mas o grupo não age assim. Eles não querem se passar por políticos e ponto. O grupo do ex-governador quer pregar a excelência, a transparência. Mas neste caso, não dá. Evidentemente o grupo defende uma política de estado minimalista. Todo mundo sabe que Hartung tinha horror a gerar gastos permanentes. Não colocou ninguém pra dentro do governo. É uma forma de governar, que deve ser respeitada. Renato Casagrande tem outra forma. Ele se elegeu com uma plataforma de serviços, queria dar respostas. O diferencial de sua gestão deveria ser o atendimento às demandas sociais. 
 
Renata – E na verdade, cobramos isso de Casagrande desde o início de sua gestão. Está fazendo agora. Acho que demorou muito a fazer. Um governo que se diz socialista, tem que ter uma visão socialista, embora eu, particularmente, acredito cada vez menos em governo iluminado por bandeira partidária. Hartung era e é desenvolvimentista, adorava um investidor estrangeiro, enxugou o que pôde e o que não pôde da máquina e fez um governo alicerçado em uma promessa de desenvolvimento voltado para a iniciativa privada. Aí os economistas ligados a ele criticam do ponto de vista de sua gestão o governo que o sucedeu. Como eu disse, não vejo problema nisso. É o debate, é o jogo político, só não consigo entender por que tudo tem de ser disfarçado. E pior, disfarçar o indisfarçável. Que coisa chata. 
 
Nerter – Mas Casagrande driblou bem o que poderia pegar como um problema de seu governo. Este foi efetivamente o primeiro embate eleitoral que ele sofreu na construção de seu palanque de reeleição. Por mais que haja essa tentativa inócua de dizer que o episódio não tem viés político. Conta outra. Casagrande defendeu justamente essa imagem de governo que gasta porque tem de gastar. Na verdade, a coisa já estava bem saturada. Todo mundo sabe que funcionalismo público é uma coisa complicada, mas não houve contratação em áreas essenciais no governo passado, como na segurança, educação e saúde. O número de contratados em designação temporária nas duas últimas administrações é muito grande ainda, mas já é um começo. Casagrande aumentou o gasto porque fez investimentos e contratou. Também teve de socorrer os prefeitos por causa da perda de recursos federais. É preciso entender que o cenário hoje é completamente diferente do de oito anos de Hartung. 
 
Renata – Eleitoralmente falando, deu para sentir que o grupo de Hartung não está para brincadeira. O ex-governador não parece disposto a abrir mão tão facilmente de seu assento na mesa de decisões sobre o jogo político do Espírito Santo. Mais do que um cargo, Hartung quer a garantia de que seu DNA continuará impresso nas paredes do Palácio Anchieta. Mas o leitor deve estar pensando: por que esse ataque, se Casagrande já deixou bem claro que quer Hartung em seu palanque? 
 
Nerter – De fato Hartung tem lugar garantido no palanque de Casagrande como candidato ao Senado. Mas quem disse que Hartung quer o Senado? Ou quem disse que Hartung quer só o Senado? Ele ainda não disse, e nem vai dizer abertamente, o que quer das eleições 2014. As pessoas estão colocando ele nos lugares e ele continua sua rotina de palestras, encontros, telefonemas e mantendo aquele ar que pode disputar tudo ou nada. 
 
Renata – Hartung não quer só 2014. Quer 2018 também. Quer emplacar o vice de Casagrande para garantir a retomada do Palácio na sucessão do socialista. Isso não significa necessariamente que ele precise disputar qualquer cargo. Livre de qualquer processo judicial, o ex-governador não precisa de mandato, pode perfeitamente se movimentar nos bastidores e comandar seus aliados na frente dos holofotes. Mas para isso precisa retomar o poder de grande liderança do Estado. Precisa diminuir o capital político de Renato Casagrande e mostrar que seu sucessor é mais fraco que ele. 
 
Nerter – E isso já está dando problema não é? Em 2010, Casagrande foi eleito com o apoio de 16 partidos, hoje tem 22 em sua base. O governador quer manter o núcleo duro com PT, PSB e PMDB e nunca escondeu isso. O problema é que ele está sentado à mesa de negociação apenas com esses dois partidos. Os demais estão na arquibancada assistindo. Se discute vice e vaga de senador entre esses dois aliados apenas. Mas todo mundo quer um pedaço. Neste início de debate eleitoral, os grandes partidos e os grandes aliados de Casagrande também querem lugar na mesa. E aí não tem essa de Hartung ter a preferência porque é ex-governador. Ex não quer dizer nada. A classe política dialoga com a cadeira e quer cobrar de Casagrande o apoio em 2010 e conseguir um espaço bom para 2014.
 
Renata – A maioria desses partidos está de olho na disputa proporcional. Engraçado, que este ano ela é que é o fiel da balança para os partidos. Não que nos outros anos não fossem, os partidos de médio e pequeno porte têm como prioridade nacional eleger deputados federais. Mas este ano a discussão é diferente, por causa da possibilidade de diminuição do número de votos e, sobretudo, por causa da profusão de nomes fortes na disputa. Só para se ter uma ideia, os partidos grandes, que tem apenas um ou dois puxadores de votos – tem cabeça, mas não tem corpo – podem levar mais da metade da bancada federal. O grande número de bem votados em 2012, de ex-prefeitos, de novas lideranças está atiçando ainda mais a discussão. A expectativa de mudanças de mais da metade dos plenários aqui e em nível nacional é uma preocupação dos partidos que têm hoje mandato e a esperança do aumento da representatividade dos pequenos. 
 
Nerter –  Além do enfraquecimento da democracia, que e uma consequência dessa política de grupo, a acomodação no palanque de unanimidade é um problema com o qual Casagrande tem até junho para lidar. 
 
Renata – Diante da pressão dos aliados, o governador vai ter de fazer concessões e terá de escolher entre manter os grandes partidos e correr o risco de não ter um segundo mandato tão tranquilo. Se não acomodar as lideranças agora, vai ter de acomodar depois. A questão é: terá lugar para todo mundo?

Veja mais notícias sobre Política.

Veja também:

 

Comentários:

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Visitante
Sábado, 11 Mai 2024

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://www.seculodiario.com.br/