Assembleia dos sócios foi cancelada por falta de uma proposta oficial do possível comprador
Não há mais possibilidade de o Clube de Regatas Saldanha da Gama ser vendido, informa seu presidente, Marcos Hilário Perini. Nessa terça-feira (9), uma possível venda da área total do local, que abrange espaços como a garagem dos barcos de remo e o ginásio Wilson Freitas, próximo à Casa do Turismo, em frente à baía de Vitória, seria votada entre os sócios, mas a assembleia foi cancelada diante da falta de uma proposta oficial.

O presidente do cxlube relata que a proposta de compra foi feita verbalmente por uma igreja dos Estados Unidos, a qual preferiu não identificar, e que queria comprar o espaço por cerca de R$ 92 milhões. Contudo, a recusa por parte dos sócios de fazer a assembleia por falta de uma proposta oficial foi encarada como uma demonstração de desinteresse por parte deles, o que fez com que a igreja desistisse de adquirir a área total do clube.
Hilário lamenta a situação, pois, para ele, “era a chance de reerguer o clube, fazer dele um clube grande, como todos grandes clubes do Brasil”. Quando foi agendada a assembleia, ele alegou que o Saldanha enfrenta, há tempos, problemas financeiros, além de questões de infraestrutura que não podem ser resolvidas diante da falta de recursos. A garagem dos barcos de remo, afirmou, está com estrutura comprometida, portanto, “perigosa”, e o ginásio já foi interditado pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Espírito Santo (Crea/ES).
O presidente da Associação dos Moradores do Centro (Amacentro), Walace Bonicenha, esteve na assembleia. Ele considera o fim da possibilidade de venda da área uma vitória. O líder comunitário informa que durante a assembleia, moradores da região, como os do Forte São João, entregaram um abaixo- assinado contra a venda. Agora, a associação vai se unir a outras entidades para dar início ao pedido de tombamento da garagem dos remos.
Quando foi publicado o edital da assembleia, a Amacentro demonstrou, em nota, preocupação. Walace apontou que o local é patrimônio arquitetônico, histórico e cultural, e que o remo, uma das atividades esportivas desenvolvidas pelo clube, faz parte da identidade capixaba. Ele defendeu que “é preciso preservar a memória da cultura marítima do barco, do remo”.
Walace ainda questionou: “se o clube sai dali, qual será nossa ligação com a baía de Vitória?”. De acordo com ele, seria somente com o porto, ou seja, “uma relação econômica, comercial, e ficaremos a ver navios”. O líder comunitário relatou que, historicamente, “o uso da baía de Vitória sempre foi marcado por barcos”.
“Os portugueses chegaram a Santo Antônio no dia 13 de junho de 1535 após navegar a baía de Vitória, vindos de Vila Velha”, disse. Ele recordou também as Regatas de Santa Catarina, promovendo a disputa entre peroás e caramurus, e que em 1902 foram criados o Clube de Regatas Álvares Cabral e o Saldanha da Gama, com disputas na baía de Vitória.
Ele teme que, com uma possível venda, se abra espaço para a especulação imobiliária no local, e rememorou, inclusive, que Wilson Freitas, que dá nome ao ginásio que fica na área que pode ser vendida, era um dos maiores remadores do Espírito Santo. O líder comunitário acredita que a alternativa para o clube é procurar recursos com o poder público.