Segunda, 20 Mai 2024

Delegado defende tese de tiro acidental em morte de jovem em Linhares

O assassinato da jovem Arielle Martins Pardinho, ocorrido na noite de segunda-feira (3) no apartamento do namorado, Marcos Rogério Amorim dos Santos Junior, em Linhares (norte do Estado), é mais um caso que envolve controvérsias entre famílias com relativo poder no interior do Estado. O delegado que preside o inquérito, Fabrício Lucindo Lima, em declarações para a imprensa nessa terça-feira (4), afirmou que acreditou na versão dada pelo acusado do crime, que declarou que puxou o gatilho durante o ato sexual, por acreditar que não havia munição na arma. 

 
A família da jovem, que chegou do estado de São Paulo a Linhares há cerca de um ano, declarou que duvida da versão do acusado, já que a relação entre os namorados seria marcada por ciúmes e brigas. Os parentes de Adrielle acreditam que a cena do crime tenha sido adulterada e está certa de que o acusado será inocentado justamente por isso. 
 
Embora o estudante tenha se apresentado e confessado que disparou a arma – pela qual não tinha porte – e que ligou para o pai, Marcos Rogério Amorim dos Santos, e foi retirado da cena do crime por ele, Marcos Rogério não ficou detido pelo crime, já que se apresentou espontaneamente. O pai do acusado – que em primeiro depoimento afirmara que não havia dado fuga ao filho – voltou atrás e assumiu que violou a cena do crime e ainda deu fuga ao acusado. Pai e filho entraram e saíram pela porta da frente do Departamento de Polícia Judiciária (DPJ) de Linhares, como se eles fossem as vítimas.
 
Até aqui o que se apresenta é uma trama que levaria o cidadão de periferia e sem recursos a arcar com a defesa na prisão: um assassinato, cometido com uma arma sem registro, por uma pessoa sem porte, que é retirada da cena do crime (violada para que isso aconteça) e se apresenta no dia seguinte, admitindo que cometeu tal crime. A vítima, nesse caso, também foi responsabilizada pelo acusado, em tese propagada pelo delegado Fabrício Lucindo. 
 
Em entrevista exibida pelo telejornal ESTV 2ª Edição, o delegado presidente do inquérito afirmou que o acusado declarou que foi um pedido da vítima que a arma fosse colocada em sua boca durante o ato sexual. A tentativa de culpar a vítima é prática comum entre acusados de crimes que têm vítima fatal. 
 
O fato de o pai do acusado ter mentido em primeiro depoimento, dizendo que não havia retirado o filho da cena do crime e depois de confrontado com as evidências de perícia, que constatou sangue no carro da família, ter admitido que violou a cena do crime para dar fuga ao filho, não pesou para que nenhum deles permanecesse preso. 
 
Outros casos
 
Culpabilizar e desmoralizar vítimas de crimes de repercussão já foi expediente adotado por outros acusados em casos apurados pelo delegado Fabrício Lucindo. Na ocasião do assassinato de Mateus Ribeiro dos Santos, o Mateusão, ocorrido no dia 5 de abril deste ano, que era testemunha no crime do sindicalista Edson José dos Santos Barcellos, antes mesmo da prisão do acusado da execução, Vitor dos Santos Ferreira, conhecido como Vitinho, o delegado já havia afirmado que a tese mais forte para o crime seria o crime de vingança, já que a testemunha teria assassinado o pai e o primo do executor há 20 anos.
 
No entanto, “Mateusão” havia denunciado estar ameaçado de morte pelo prefeito de Conceição da Barra (norte do Estado) e acusado do mando na morte do sindicalista, Jorge Donati (PSDB) 23 dias antes da execução, à presidência do Tribunal de Justiça do Estado (TJES).
 
Outro caso envolvendo a morte do sindicalista, em julho de 2010, e apurado pelo mesmo delegado, não foi relacionado ao crime. Oito dias depois do assassinato do sindicalista, o piloto de fuga (e enteado de Mateusão), Diones dos Santos, conhecido como Porquinho, foi morto em Linhares. O inquérito também correu na Delegacia de Crimes contra a Vida (DCCV) de Linhares e foi apurado por Fabrício Lucindo, que concluiu que Porquinho havia sido vítima de guerra de gangues no município. No caso de Diones, assumiu a responsabilidade pela morte um traficante conhecido na região como Dirlei.
 
Questionado por Século Diário em abril deste ano, o delegado Fabrício Lucindo disse desconhecer a participação de Diones. “Não tenho a informação que o Porquinho tenha participado do crime do sindicalista, e sim que ele havia sido convidado”. 
 
Ao ser informado pela reportagem que o inquérito policial aponta que Porquinho era piloto do carro que levou os sequestradores ao encontro do sindicalista e que ele deu fuga aos criminosos, o delegado afirmou ser essa uma nova informação para ele, embora conste no inquérito que apurou a morte do sindicalista Edson Barcellos. 
 
Mateusão havia entendido a dinâmica do crime que vitimara seu enteado e, no momento em que recebeu a informação que estaria ameaçado de morte por Jorge Donati, por meio de um colega ex-policial militar, amigo de outro que esteve preso com o prefeito no início do ano, entre 31 de janeiro e 15 de fevereiro deste ano, se apressou em denunciar a ameaça ao TJES, perante o assessor especial da Presidência do Tribunal, o juiz Paulino José Lourenço, e o procurador de Justiça Sócrates de Souza. A execução de Mateus ocorreu em 5 de abril, mas neste caso houve quem assumisse a responsabilidade, o executor Vitinho.

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