Quinta, 25 Abril 2024

'Estigma territorial é elemento de controle da cidade'

igor_vitorino_FotoArquivoPEssoal Arquivo Pessoal

Em um período em que as denúncias de violência policial aumentam nas periferias da Grande Vitória, o historiador Igor Vitorino da Silva, que deu início a um projeto de resgate da história dessas comunidades, aponta o papel do estigma territorial nessa realidade como um "elemento de controle da cidade". É o que determina, segundo ele, quais os lugares são considerados perigosos e onde a polícia deve agir de forma "truculenta" ou não.

"É um fator que determina como a força policial irá tratar os moradores. Por mais que haja assalto na Praia do Canto [Vitória], e tem muito, ela continua sendo a Praia do Canto, não criando estigma", diz.

Foto: Arquivo Pessoal

Igor enumera outras consequências do estigma atribuído às comunidades populares, como a rejeição de seus habitantes, a desvalorização também por parte de quem é de fora, e a desmobilização comunitária.

"Há moradores que acabam rejeitando a identidade com o bairro, o que pode dificultar a mobilização da comunidade, por causa da baixa autoestima e da descrença na localidade. Eu, por exemplo, já ouvi questionamentos de pessoas que não são de Cobi [em Vila Velha] sobre o que Cobi tem de interessante em sua trajetória para ser contado", relata.

Nascido e criado em Cobi, o historiador é mestre em História pela Universidade Federal do Paraná, onde estudou a representação das ocupações urbanas da Grande Vitória nos jornais A Gazeta e A Tribuna. Atualmente, na mesma instituição de ensino e no mesmo programa de pós-graduação, cursa o doutorado, no qual pesquisa sobre o tema imprensa e crise da política habitacional no Brasil.

Agora, ele criou o projeto Morares, por meio do qual se propõe a discutir as diversas formas de morar nas cidades a partir do processo de urbanização, com foco na questão da moradia, além de criar um museu virtual da Grande Vitória. Para isso, busca reunir materiais como depoimentos orais; imagens; documentos escritos, como cartas, jornais, livros, notas promissórias e registros de propriedade, que podem ser disponibilizados pelas pessoas por meio de um site.
DPES

"O Morares recupera as memórias das comunidades periféricas, dos mais pobres, de lugares cujas narrativas estão ligadas à violência e à pobreza, buscando um outro olhar", afirma.

Os primeiros lugares nos quais o projeto será feito são os bairros Cobi de Cima e Cobi de Baixo, mas a ideia é contemplar toda a Grande Vitória. "Existem diversas formas de morar nas cidades. Cobi, por exemplo, foi aterrado pelos moradores. Hoje se vê casas de alvenaria, feitas por um 'trabalho de formiguinha', com técnicas tradicionais compartilhadas por aqueles moradores e ações de solidariedade, como mutirões", relata.

Segundo Igor, a periferia é "um processo em ebulição de construção", sendo a passagem do barraco para a alvenaria algo contínuo nas comunidades periféricas de Vitória. O historiador explica que tanto Cobi de Baixo quanto Cobi de Cima estão ligados, na história urbana, ao processo de criação da Companhia Ferro e Aço de Vitória (Cofavi) e da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), assim como São Torquato, em Vila Velha, e Jardim América, em Cariacica.

Ele recorda que essas localidades receberam trabalhadores migrantes, que buscavam oportunidade de trabalho nos grandes empreendimentos na Grande Vitória. "A história de Jardim América, por exemplo, é a história da Cofavi", diz, destacando que nos anos 70, a Vale transferiu parte de suas atividades econômicas para a Serra, causando o que o historiador chama de "desindustrialização de Cariacica". 

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