Após tragédia de dois alunos mortos em acidente, comunidade cobra projeto parado

Após a morte dos estudantes Raysla Hérlem Rangel de Oliveira e Jessé Araújo Martins dos Santos, em um acidente de carro no último sábado (10), a comunidade escolar do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), campus Santa Teresa, na região serrana do Estado, intensificou a mobilização por melhorias na rodovia que dá acesso à unidade de ensino. Os dois jovens, estudantes do ensino médio integrado aos cursos Técnico em Informática para Internet e Técnico em Agropecuária, perderam a vida quando o veículo em que estavam despencou em uma ribanceira na rodovia ES-261.
Diante da tragédia, o diretor-geral do campus, Ednaldo Miranda de Oliveira, declarou luto oficial de três dias na instituição. No entanto, Ana Luíza Frasson, representante do Grêmio Estudantil, ressaltou que a insegurança na rodovia não é uma preocupação recente e há mais de uma década existe a demanda por melhorias na via. “Existe um projeto para que haja ciclovia, acostamento, melhor iluminação e radares, que foi licitado, mas até agora não foi executado”, afirmou.
Ela destaca que a rodovia é estreita e sem acostamento, redutores de velocidade, ciclovia ou iluminação adequada, o que coloca em risco os estudantes que transitam diariamente entre o campus e suas residências, muitos a pé ou de bicicleta, especialmente entre o campus e o distrito de São João de Petrópolis, conhecido como Barracão, onde o instituto está localizado e parte significativa dos alunos reside em repúblicas estudantis.
Patrícia Seibert, representante da Comissão de Pais do Ifes, que têm se mobilizado para exigir medidas preventivas, compartilha da mesma preocupação. “O espaço escolar não tem nem redutor de velocidade, não tem sinalização que há ali uma escola. É o tempo inteiro correndo risco”, alertou.

Ela também reforça que a preocupação não é nova. O governo estadual chegou a anunciar uma obra de infraestrutura que incluiria recapeamento da via, instalação de radares, ciclovia, calçada para pedestres e sinalização adequada, destaca, mas apenas o novo asfalto foi entregue. “Eles recapearam, mas não fizeram nenhuma melhoria real para a segurança dos estudantes. A estrada segue sem acostamento, sem redutor de velocidade e sem qualquer sinalização de que há uma escola no local”, denuncia.
A representante da comissão conta que acompanhou a filha, aluna do segundo ano do curso técnico em Meio Ambiente, nos primeiros dias de aula em 2023. “Eu mesma caminhei por aquele trecho. Você divide o corpo com o vento que vem dos caminhões. É assustador. E agora, com o recapeamento, o fluxo aumentou – e com ele, o perigo. No interior, infelizmente, muitas pessoas dirigem alcoolizadas”, alerta.
A via citada é a ES-080, que liga Colatina a Santa Teresa e passa próximo ao campus. O trecho entre Santa Teresa e o distrito de São João de Petrópolis é especialmente crítico, segundo os relatos.
Diante disso, o Grêmio Estudantil busca sensibilizar o poder público e a sociedade sobre a urgência das melhorias na rodovia. “Os alunos estão reclamando muito, demonstrando essa insegurança quanto ao acesso ao nosso campus”, afirmou Ana Luíza. Ela ressalta que, apesar de pedidos para que os ônibus escolares façam paradas no distrito de Barracão, a solicitação também não foi atendida. “Infelizmente, não aconteceu, e nós não pedimos uma vez só”, lamentou.
A comunidade acadêmica e as famílias dos estudantes aguardam respostas e ações das autoridades competentes para que a segurança na rodovia seja efetivamente garantida, evitando que novas tragédias ocorram, reforça Patrícia. “O governo do Estado precisa olhar para isso”, reivindica. A representante do grêmio estudantil fez coro. “Queremos sensibilizar o poder público e a própria sociedade, para que nenhuma tragédia venha a acontecer novamente e para que essa rodovia receba uma melhoria”, ressalta.
A ausência de infraestrutura mínima transforma o trajeto diário em um risco constante, especialmente para estudantes que vivem longe de casa. “Para nós, como família, ter um filho no Ifes é motivo de orgulho. Mas, ao mesmo tempo, a principal preocupação é a segurança. Recentemente, passamos pela perda de dois colegas dos nossos filhos. Isso nos mobilizou para buscar soluções para toda a comunidade do Ifes”, afirma Sheila Casagrande, também integrante da Comissão de Pais.
Entre as principais demandas da comunidade, estão a construção de ciclovia e calçadas para pedestres; implantação de sinalização e redutores de velocidade; iluminação pública ao longo da rodovia; e inclusão de Barracão na rota dos ônibus escolares.
“Gritamos por segurança, porque você cuidar do adolescente não é apenas dentro da instituição, quando se fala que muitos moram na localidade durante a semana. Então, a via também é um espaço que precisa de segurança. Uma escola não pode ficar desassistida”, enfatiza.