Ocorrência nessa segunda na praia do Xodó reforçou alertas da categoria

O afogamento de um adolescente de 15 anos na Praia do Xodó, em Marataízes, sul do Estado, nessa segunda-feira (14), reacendeu os alertas feitos há meses pela comissão de guarda-vidas do município sobre as falhas estruturais e a precarização do serviço de salvamento aquático. O jovem estava com a família quando a irmã foi arrastada pela correnteza. Ele conseguiu salvá-la, mas logo em seguida submergiu e precisou ser resgatado em estado gravíssimo.
Em reunião com o secretário de Segurança, Áureo Falcão, representantes da comissão relataram que o ponto de salvamento na área não foi reativado nem no verão, reflexo da queda no número de contratações temporárias após a troca de governo com a derrota do grupo político do ex-prefeito Tininho Batista (PSB), que tentou emplacar como sucessor o ex-vereador Luiz Carlos Almeida (Republicanos). Desde a posse do prefeito Toninho Bittencourt (Podemos), a categoria critica que não foi recebida diretamente para tratar das demandas.
O caso desta semana aconteceu por volta de 12h30 e mobilizou uma operação conjunta envolvendo o Grupamento de Salvamento Aquático de Marataízes, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), o Corpo de Bombeiros e a Guarda Civil Municipal. O adolescente foi retirado da água já em grau seis de afogamento – o mais crítico antes do óbito. Levado à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) sem pulso, teve os sinais vitais restabelecidos graças à atuação da equipe de enfermagem e, em seguida, foi transferido para o Hospital Infantil Francisco de Assis (HIFA), em Cachoeiro de Itapemirim, onde permanece internado.
Segundo relato de representantes da comissão de guarda-vidas, que preferem não se identificar por temer represálias, a desativação do ponto de salvamento da Praia do Xodó, inclusive no verão, escancara a redução no número de profissionais em atividade nas praias da cidade. Este ano, apontam, foram contratados apenas 15 guarda-vidas temporários, somados aos 25 efetivos. Nos anos anteriores, esse número costumava girar entre 100 e 120 profissionais contratados só para o verão.
“Hoje conseguimos manter apenas seis postos abertos por dia, para uma extensão de quase 26 km de litoral. Isso é uma sobrecarga brutal para quem está na linha de frente e um risco enorme para a população e os turistas. É impossível garantir a segurança com tão poucos efetivos e postos fechados”, declarou um dos profissionais. Ele relata que o secretário reconheceu os problemas e afirmou que buscaria diálogo com o prefeito ainda nesta semana para apresentar as demandas.
Além da falta de efetivo, a comissão denuncia a precariedade da estrutura de trabalho. Um dos principais problemas citados é a ausência de viaturas próprias, o que teria atrasado o atendimento no caso da Praia do Xodó. A categoria afirma que, muitas vezes, é obrigada a utilizar veículos particulares para os deslocamentos, o que compromete a agilidade e a segurança da operação.
Outro ponto citado é a ausência de materiais básicos, como roupas térmicas e de mergulho, que garantem a integridade dos profissionais durante longas exposições à água, especialmente no inverno. Os guarda-vidas também mencionam que as chamadas escalas especiais, que permitiriam a abertura de mais postos de forma emergencial em feriados prolongados ou eventos pontuais, deixaram de ser implementadas.
Há ainda, segundo os servidores, uma desvalorização institucional da carreira, com o rebaixamento do plano de cargos e salários logo no início da atual gestão. A carreira, alertam, “foi desestruturada, as condições pioraram e ainda precisamos implorar por atendimento”.
A mobilização da categoria também defende a implementação de um número direto de emergência local para situações de afogamento. Atualmente, o acionamento do socorro se dá pelo número estadual do Corpo de Bombeiros (193), o que gera um tempo de resposta maior. “Se houvesse um canal direto entre a população e a central da guarda-vidas ou da Secretaria de Segurança, poderíamos agir mais rápido”, propõe.
Outro ponto levantado pelos profissionais é que, apesar de a Praia do Xodó não figurar entre as mais movimentadas do município, como Areia Preta ou Lagoa do Siri, ela ainda assim apresenta riscos, por ser perigosa e já ter registrado ocorrências anteriores. “Mesmo com menor fluxo, precisa de atenção”, ressaltam.
A equipe de salvamento, familiares e amigos do adolescente iniciaram uma corrente de orações e apoio, e profissionais da saúde informaram que ele segue em estado grave, mas estável. A comissão espera receber uma resposta formal da prefeitura ainda nesta semana. Caso não haja retorno, novas ações não estão descartadas.