Proposta contempla uma avenida à margem da área operacional do aeroporto
O Instituto Penedo, que produz estudos sobre ações no campo da cultura, política, arte, cidade e inovação, vai criar um Grupo de Trabalho (GT) com arquitetos e urbanistas para apresentar alternativas ao Mergulhão. A obra, da gestão do prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos), foi iniciada em janeiro deste ano e tem gerado protestos entre os moradores de Jardim Camburi. Eles afirmam que os custos são altos e a iniciativa vai piorar o problema do trânsito no bairro.

O presidente do Instituto, Kleber Frizzera, informa que a previsão é que o GT já esteja pronto nesta semana. De acordo com ele, já foi feito um projeto, que agora, por meio do GT, será aprofundado. A ideia, explica, é fazer uma avenida à margem da área operacional do aeroporto, indo até a Serra, com ligação entre a Avenida Dante Micheline e Carapina. “Assim, se resolve o problema do acesso à Serra”, diz Kleber.
O arquiteto afirma que não precisaria de Mergulhão se essa via de passagem fosse feita. No projeto da prefeitura, os carros sairiam da Dante Michelini, passariam pelo Mergulhão rumo à Avenida Norte-Sul, aumentando o trânsito na região, o que faz parte de “uma visão ligada ao carro”, aponta Kleber. A Norte Sul, assim, não teria semáforo. Já na proposta do Instituto, seria de mais baixa velocidade, por ter muita habitação e comércio.
Kleber aponta que construção de túneis e viadutos não resolve o problema do trânsito e critica o fato de que Vitória não tem projeto de transporte coletivo de alta capacidade. O projeto do GT será apresentado ao Ministério Público do Espírito Santo (MPES). A segunda fase da obra, que segundo a prefeitura elimina a retenção de veículos no cruzamento da Avenida Norte-Sul com a Dante Micheline, começa no próximo dia 19.
Na 1ª fase, foi ampliado o trecho no sentido da Rua Gelu Vervloet dos Santos em direção à Avenida Dante Michelini (sentido Vitória-Centro), ocupando a área cedida pela Infraero, sem qualquer interferência no tráfego de veículos. A segunda envolve a escavação e a concretagem das estacas.
A obra já gerou dois protestos por parte dos moradores de Jardim Camburi. “Há formas mais inteligentes e mais baratas de pensar a mobilidade urbana”, disse o ambientalista e pesquisador da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Leandro Bonesi Rabelo, morador do bairro, quando foi realizada a segunda manifestação, em agosto último.
De acordo com Leandro, a obra é “irregular do ponto de vista ambiental”, pois o rito correto no que diz respeito à legislação ambiental, em obras que aumentam a capacidade de via, contempla a realização de uma audiência pública, o que não foi feito. Ele explica que a audiência deve ter ampla divulgação, com publicação no Diário Oficial e meios de comunicação de grande circulação, sendo presidida pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semmam). O ambientalista e pesquisador destaca, ainda, que a obra vai contra o Plano Diretor Urbano de Vitória (PDU), que prevê um sistema de mão única com nova via dentro do aeroporto.
A Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), relata Leandro, doou parte de um terreno para Prefeitura de Vitória, contudo, o PDU estabelece que a obra contorne a ZPA3, ou seja, a Zona de Proteção Ambiental que se encontra ali. Conforme aponta Leandro, a obra do Mergulhão não tem seguido esse critério, o que pode causar impactos ambientais e atingir espécies em extinção, como o guaiamum.
Outro problema apontado por ele é que a gestão de Pazoloni afirma que os carros que passam pela Avenida Norte-Sul para a Serra terão, com a obra, redução de 60 segundos de seu tempo no trânsito. A redução de um minuto é vista como algo que não faz diferença no fluxo de veículos. Além disso, ele defende que o Mergulhão vai contra a necessidade de “desincentivar o uso de veículo particular”.
Algumas alternativas, aponta, são a melhoria do transporte público, o investimento em outros modais, como as bicicletas, e a implantação de semáforos inteligentes, que identificam o fluxo, abrindo e fechando de acordo com essa identificação. Leandro também salienta que o Mergulhão é uma obra de impacto metropolitano, mas que é realizada pela Prefeitura de Vitória por um valor de R$ 77,5 milhões.
A obra vai durar três anos. O primeiro protesto dos moradores foi em cinco de julho, intitulado “Unidos contra o Mergulhão”.

