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Mergulhão: “há formas mais inteligentes de pensar a mobilidade urbana”

Moradores de Jardim Camburi organizam novo protesto contra obra da prefeitura

Moradores de Jardim Camburi, em Vitória, convocam um novo protesto contra o projeto do Mergulhão. Será no próximo dia 16, às 9h, em frente ao canteiro de obras. “Há formas mais inteligentes e mais baratas de pensar a mobilidade urbana”, diz o ambientalista e pesquisador da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Leandro Bonesi Rabelo, que mora no bairro.

PMV

Os moradores, no material de divulgação, convidam as pessoas a levar “sua faixa, sua indignação e sua esperança”. Leandro afirma que a manifestação busca chamar atenção para o fato de a obra ser “irregular do ponto de vista ambiental”. De acordo com ele, o rito correto no que diz respeito à legislação ambiental, em obras que aumentam a capacidade de via, contempla a realização de uma audiência pública, o que não foi feito.

Ele explica que a audiência pública deve ter ampla divulgação, com publicação no Diário Oficial e meios de comunicação de grande circulação, sendo presidida pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semmam). O ambientalista e pesquisador destaca, ainda, que a obra vai contra o Plano Diretor Urbano de Vitória (PDU), que prevê um sistema de mão única com nova via dentro do aeroporto.

A Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), relata Leandro, doou parte de um terreno para Prefeitura de Vitória, contudo, o PDU estabelece que a obra contorne a ZPA3, ou seja, a Zona de Proteção Ambiental que se encontra ali. Conforme aponta Leandro, a obra do Mergulhão não está seguindo esse critério, o que pode causar impactos ambientais e atingir espécies em extinção, como o guaiamum.

Outro problema apontado por Leandro é que a gestão do prefeito Lorenzo Pasolini (Republicanos) afirma que os carros que passam pela Avenida Norte-Sul para a Serra terão, com a obra, redução de 60 segundos de seu tempo no trânsito. A redução de um minuto é vista como algo que não faz diferença no fluxo de veículos. Além disso, ele defende que o Mergulhão vai contra a necessidade de “desincentivar o uso de veículo particular”.

Algumas alternativas, aponta, são a melhoria do transporte público, o investimento em outros modais, como as bicicletas, e a implantação de semáforos inteligentes, que identificam o fluxo, abrindo e fechando de acordo com essa identificação. Leandro também salienta que o Mergulhão é uma obra de impacto metropolitano, mas que está sendo feita pela Prefeitura de Vitória por um valor de R$ 77,5 milhões.

A obra vai durar três anos. O primeiro protesto dos moradores foi em cinco de julho, intitulado “Unidos contra o Mergulhão”. A gestão municipal defende que a obra vai melhorar a circulação de veículos, pedestres e ciclistas, aumentando a fluidez do tráfego da região norte de Vitória. A comunidade contesta os benefícios. A última gestão da Associação Comunitária de Jardim Camburi (ACJAC), que não conseguiu se reeleger no pleito ocorrido em maio último, chegou a formular uma contraproposta. Quem venceu foi a chapa encabeçada por Tercelino Leite – filho do vereador Maurício Leite (PRD), da base do governo Pazolini -, que é favorável à obra.

Embora o Ministério Público do Espírito Santo (MPES) tenha estabelecido a apresentação da contraproposta para a prefeitura, a gestão municipal não deu abertura para isso. A associação encaminhou, então, ofício de contestação ao MPES. A contraproposta contempla um projeto de construção de um parque no bairro, o Parque Linear da Cidade de Vitória, com trilhas e mirante na mata nativa a ser recuperada, praça, cívica, áreas de esporte, quiosques, deques e prédios para apresentações culturais, além de uma via expressa no aeroporto.

A ideia, segundo a antiga gestão da ACJAC, era combater a verticalização e criar equipamentos públicos, “sendo importante não somente para Jardim Camburi, mas para todo o município de Vitória”. A via expressa, de acordo com a antiga gestão, “desafoga a Norte-Sul e retira o trânsito de dentro do bairro”.

Demanda antiga

Em agosto de 2023, a ACJAC já havia acionado o MPES e trouxe à tona questionamentos sobre a construção do Mergulhão de Camburi. Os moradores evidenciaram algumas dúvidas sobre a obra, como o fato de não haver estudo técnico que justifique a intervenção.

Outra questão foi gerada por notícia veiculada na imprensa de que haverá apenas duas faixas para a saída do bairro de Jardim Camburi pela Avenida Dante Michelini. “Atualmente, o trânsito com três faixas já está saturado, duas faixas e a retirada do semáforo resolvem?”, questionou. Consta no documento, ainda, o questionamento sobre se, diante da predominância de veículos que utilizam a Norte-Sul com origem ou destino à cidade da Serra, não seria melhor privilegiar o tráfego pela Rodovia das Paneleiras.

Mais um ponto foi em relação à intervenção proposta para a “suposta fluidez da Norte-Sul”, que pode reter as saídas do bairro, mais precisamente na rua Carlos Gomes Lucas e nas avenidas Armando Duarte Rabelo e Raul de Oliveira Neves para a Norte Sul. “Em um raciocínio lógico, quanto mais carros na Norte-Sul, mais necessidade de fluidez no trânsito nesta via, dificultando, dessa forma, a saída do bairro de Jardim Camburi”, destacou.

Para a associação, “seguindo a mesma linha de raciocínio, com o trânsito fluindo melhor no cruzamento das Avenidas Dante Michelini com Norte-Sul, o tráfego ficará retido nos próximos cruzamentos, entre as Avenidas Dante Michelini e Av. Adalberto Simão Nader, bem como no entroncamento da Rua Carlos Gomes Lucas e Avenida Norte-Sul?”. A ACJAC também afirmou querer saber quais foram e onde podem ser encontrados os resultados do Plano de Mobilidade de Vitória, denominado Vix Mob. “Para além da publicidade legal, deveriam ter primado pela intenção de comunicar”, cobrou.

A ACJAC também organizou um abaixo-assinado no qual se posicionou contra a construção do Mergulhão. No documento, manifestou “preocupação e insatisfação com as obras” pelo fato de que “a comunidade do bairro não foi consultada e não lhe foi dada oportunidade de opinar e modificar a obra, porque não foram realizadas audiências públicas para tal fim”.

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