Além de cartazes contra obra da Prefeitura de Vitória, grupo promete parar o trânsito
Moradores de Jardim Camburi convocam, para o próximo sábado (5), o “Unidos contra o Mergulhão”, um protesto contra a obra da Prefeitura de Vitória realizada no bairro. A manifestação será às 10h, com concentração na Portaria Norte Sul do Residencial Jardins, próximo ao antigo hotel Canto do Sol. Os moradores confeccionam cartazes para demonstrar insatisfação e prometem, também, parar o trânsito.

Umas das pessoas que estão na articulação, o administrador José Bicalho, acredita que “vai ser um movimento forte”. “Essa obra é ridícula, uma afronta aos moradores”, critica. Uma das queixas é a falta de diálogo da gestão de Lorenzo Pazolini (Republicanos), que não esclarece, de fato, as dúvidas das pessoas que moram no bairro sobre o Mergulhão.
José relata que, há dois meses, o secretário municipal de Obras, Gustavo Perin, chegou a se reunir com moradores do Residencial Jardins, que solicitaram o encontro, mas as respostas não os deixaram satisfeitos. “Não respondeu nossas perguntas, disse que a obra foi bem estudada, que conversaram com a comunidade, mas na verdade não fizeram nada disso”, afirma.
A comunidade tem se articulado há tempos contra o Mergulhão. Mesmo assim, no mês passado, a Prefeitura de Vitória e a Concessionária Aeroportos do Sudeste do Brasil S.A assinaram o termo de transferência de posse da área do Aeroporto Internacional de Vitória/Eurico Aguiar Salles (SBVT) para o município, para viabilizar a obra.

A primeira fase está em andamento desde janeiro último, quando a gestão municipal colocou uma placa em Jardim Camburi com informações como o prazo de execução, que será de quase três anos, e o valor, de R$ 77,5 milhões. Nessa fase são feitas a supressão da vegetação para a instalação do canteiro de obras e o início da construção das primeiras pistas do Mergulhão de Camburi.
A gestão defende que a obra vai melhorar a circulação de veículos, pedestres e ciclistas, aumentando a fluidez do tráfego da região norte de Vitória. Contudo, a comunidade contesta os benefícios. A última gestão da Associação Comunitária de Jardim Camburi (ACJAC), que não conseguiu se reeleger no pleito ocorrido em maio último, chegou a formular uma contraproposta. Quem venceu foi a chapa encabeçada por Tercelino Leite – filho do vereador Maurício Leite (PRD), da base do governo Pazolini -, que é favorável à obra.
Embora o Ministério Público do Espírito Santo (MPES) tenha estabelecido a apresentação da contraproposta para a prefeitura, a gestão municipal não deu abertura para isso. A associação encaminhou, então, ofício ao MPES, comunicando o ocorrido. A contraproposta contempla um projeto de construção de um parque no bairro, o Parque Linear da Cidade de Vitória, com trilhas e mirante na mata nativa a ser recuperada, praça, cívica, áreas de esporte, quiosques, deques e prédios para apresentações culturais, além de uma via expressa no aeroporto.
A ideia, segundo a antiga gestão da ACJAC, era combater a verticalização e criar equipamentos públicos, “sendo importante não somente para Jardim Camburi, mas para todo o município de Vitória”. A via expressa, de acordo com a antiga gestão, “desafoga a Norte-Sul e retira o trânsito de dentro do bairro”.
Demanda antiga
Em agosto de 2023, a ACJAC já havia acionado o MPES e trouxe à tona questionamentos sobre a construção do Mergulhão de Camburi. Os moradores evidenciaram algumas dúvidas sobre a obra, como o fato de haver estudo técnico que justifique a intervenção. “Por que não há interesse em comunicá-lo com a comunidade que será impactada e não possui o mínimo de informação necessária para fazer juízo de valor sobre uma obra milionária que mudará a característica de entrada do bairro de Jardim Camburi para sempre?”, indagou.
Outra questão foi gerada por notícia veiculada na imprensa de que haverá apenas duas faixas para a saída do bairro de Jardim Camburi pela Avenida Dante Michelini. “Atualmente, o trânsito com três faixas já está saturado, duas faixas e a retirada do semáforo resolvem?”, questionou. Consta no documento, ainda, o questionamento sobre se, diante da predominância de veículos que utilizam a Norte-Sul com origem ou destino à cidade da Serra, não seria melhor privilegiar o tráfego pela Rodovia das Paneleiras.
Mais um ponto foi em relação à intervenção proposta para a “suposta fluidez da Norte-Sul”, que pode reter as saídas do bairro, mais precisamente na rua Carlos Gomes Lucas e nas avenidas Armando Duarte Rabelo e Raul de Oliveira Neves para a Norte Sul. “Em um raciocínio lógico, quanto mais carros na Norte-Sul, mais necessidade de fluidez no trânsito nesta via, dificultando, dessa forma, a saída do bairro de Jardim Camburi”, destacou.
Para a associação, “seguindo a mesma linha de raciocínio, com o trânsito fluindo melhor no cruzamento das Avenidas Dante Michelini com Norte-Sul, o tráfego ficará retido nos próximos cruzamentos, entre as Avenidas Dante Michelini e Av. Adalberto Simão Nader, bem como no entroncamento da Rua Carlos Gomes Lucas e Avenida Norte-Sul?”. A ACJAC também afirmou querer saber quais foram e onde podem ser encontrados os resultados do Plano de Mobilidade de Vitória, denominado Vix Mob. “Para além da publicidade legal, deveriam ter primado pela intenção de comunicar”, cobrou.
A ACJAC também organizou um abaixo-assinado no qual se posicionou contra a construção do Mergulhão. No documento, manifestou “preocupação e insatisfação com as obras” pelo fato de que “a comunidade do bairro não foi consultada e não lhe foi dada oportunidade de opinar e modificar a obra, porque não foram realizadas audiências públicas para tal fim”. Apontou, ainda, que a obra é de abrangência metropolitana, custa R$ 77,5 milhões, portanto, “cara”, e os recursos utilizados serão da Prefeitura de Vitória.
“Além disso, não sabemos se essa é a melhor utilização para tal recurso ou se existem opções mais baratas e eficientes”, diz o abaixo-assinado, que destaca a longevidade da obra, que “vai impactar sensivelmente a vida de aproximadamente 50 mil pessoas antes, durante e depois, afetando a qualidade de vida do bairro, sem a garantia de que a mobilidade urbana da região e da cidade melhorará com o término da obra”.