Sexta, 19 Abril 2024

Moradores querem que campo abandonado seja transformado em praça

campo_santa_Cruz1_vitor_taveira Vitor Taveira

É com carinho que muitos moradores do bairro Santa Lúcia, em Vitória, lembram do campo do Santa Cruz Futebol Clube, um dos mais antigos times do Espírito Santo, fundado em 1928. Desde 2014, o clube perdeu o espaço por dívidas por não pagar durante anos a Taxa de Marinha do terreno. De lá pra cá, o estado do campo, que passou a pertencer à Superintendência do Patrimônio da União (SPU), é de abandono, o que gera vários transtornos para os moradores do entorno.

As placas da Advocacia Geral da União (AGU), que pretendia construir sua sede ali, já estão quase ilegíveis devido aos anos expostas ao sol. O órgão desistiu do empreendimento por falta de recursos e agora o terreno, devolvido à SPU, deve ir a leilão dentro de um plano nacional de privatizações. O local certamente interessa ao setor empresarial, por estar localizado em bairro de alto valor imobiliário e possuir grande extensão, com 6,5 mil metros quadrados.

Mas os moradores temem perder o espaço que, antes do abandono, era um dos poucos pontos de socialização e atividades esportivas, culturais e sociais do bairro. Além dos jogos da equipe, havia escolinha de futebol que atendia crianças e jovens do bairro e principalmente das comunidades formadas nos morros do entorno.

Hoje, a Associação de Moradores do Bairro Santa Lúcia tem uma proposta que conta com apoio de vizinhos e do clube: transformar o espaço na Praça Santa Cruz. Num esboço apresentado pela entidade ao Século Diário, o local poderia comportar uma quadra poliesportiva, um campo de futebol society, pista de skate, playground para crianças, espaço para feiras e eventos, um espaço para cães, estacionamento, e ainda permitir a ampliação de uma rua estreita na lateral.

"A proposta de um parque urbano atenderia a comunidade em geral, não apenas o segmento do futebol. Teria lugar para levar crianças, para socializar entre os vizinhos, realizar atividades beneficentes. Outro ponto é que a ocupação do espaço com circulação de pessoas traz sensação de segurança para o local, hoje o abandono gera insegurança", diz Hector Siqueira, presidente da Associação de Moradores, que imagina que a reativação do espaço possa atrair também empreendedores como os chamados food trucks, além de poder abrigar uma feira de alimentos, aumentando a oferta de produtos para a comunidade.

Desde quando o Santa Cruz perdeu o espaço, a comunidade se preocupa com seu uso e destino, tendo realizado em 2014 um abraço simbólico ao campo. Não era sem motivo a preocupação, pois até hoje o local segue inutilizado. As duas traves continuam lá, mas a grama deu lugar à vegetação que cresce e o torna potencial ponto de lixo, foco de dengue e concentração de outros vetores como ratos e baratas.

Em 2015, um grande incêndio tomou conta de parte do campo, o que preocupou a comunidade e gerou incômodos devido à fumaça. Os vestiários em anexo compõem uma estrutura que moradores alegam servir para uso de drogas e refúgio para criminosos, localizada ironicamente ao lado do antigo posto de polícia há oito meses abandonado pela corporação.

"A comunidade sempre brigou pelo espaço do campo. Buscamos reativar a Associação de Moradores para poder ter mais força diante dos órgãos competentes. Já foram feitas diversas matérias em jornais, já pedimos à prefeitura para que entrasse em acordo com os governos federal e estadual para que a área seja doada para a prefeitura e fazer um parque urbano", aponta Hector Siqueira. Embora o local já tenha recebido visita de prefeito, vereadores e governador, o líder comunitário afirma que as promessas deles de lutar pelo local nunca foram cumpridas.

Agora, o grupo partiu para outra estratégia para tentar abrir um diálogo para evitar o leilão e conseguir a doação do espaço e o avanço do projeto do parque. Criou um abaixo-assinado online que já conta com mais de 800 assinaturas e deve ser encaminhado para a deputada federal Soraya Manato (PSL) e para o senador Marcos Do Val (Podemos), os parlamentares em Brasília mais próximos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

A estratégia é sensibilizá-los para que possam convencer o presidente a doar o espaço para que seja transformado em local de uso comunitário. A tarefa é difícil, pois implicaria enfrentar o projeto de privatizações do governo federal, que já listou uma série de empreendimentos no Espírito Santo a serem leiloados para gerar recursos à União.

Junto aos galpões do IBC em Jardim da Penha, o campo do Santa Cruz é um dos mais cotados pelo alto valor de mercado, por estar em zona muito valorizada para investimentos imobiliários. O edital está previsto para ser lançado em agosto, com valor mínimo de R$ 6,5 milhões para compra do espaço do campo de futebol. Os moradores correm contra o relógio.

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Comentários: 1

Jorge Luiz Melo Farias em Segunda, 27 Julho 2020 16:37

A incoerência das gestões públicas.
As políticas públicas são feitas para atender as necessidades do povo e não o interesse dos políticos . Quem sabe de suas necessidades são os moradores locais.
É por isso que existem em vários bairros, praças, brinquedos e aparelhos sem serem visitados e utilizados e nos locais onde deveriam ser construídos não ter nada para atender a população e as crianças. Foram feitos sem consulta popular.
Que isso não aconteça com o local do campo do Santa Cruz, uma vez que existe uma Comunidade atuante e que sabe o que é melhor para os seus moradores.

A incoerência das gestões públicas. As políticas públicas são feitas para atender as necessidades do povo e não o interesse dos políticos . Quem sabe de suas necessidades são os moradores locais. É por isso que existem em vários bairros, praças, brinquedos e aparelhos sem serem visitados e utilizados e nos locais onde deveriam ser construídos não ter nada para atender a população e as crianças. Foram feitos sem consulta popular. Que isso não aconteça com o local do campo do Santa Cruz, uma vez que existe uma Comunidade atuante e que sabe o que é melhor para os seus moradores.
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