Secretaria abriu sindicância para apurar denúncias à gestão da unidade
A Secretaria de Saúde da Serra iniciou uma sindicância na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) de Serra-Sede, para apurar as denuncias de “assédio moral, perseguição, abuso de poder e favorecimentos” por parte do diretor Edilson da Vitória Júnior e da coordenadora de Enfermagem, Tatiana Passos Caetano. A medida foi comunicada após reunião com os servidores na última semana. No entanto, o Sindicato dos Enfermeiros do Espírito Santo (Sindienfermeiros/ES) alerta que, mesmo com o início da apuração formal, dois funcionários seguem afastados da unidade, enquanto os gestores continuam em seus cargos.

O Sindienfermeiros cobra o retorno imediato dos servidores aos seus postos, medida que considera necessária enquanto a sindicância estiver em curso. “A sindicância é uma avaliação, não é um julgamento. Ela serve para apurar os fatos e garantir o direito à ampla defesa. Mas com esses dois profissionais, nem isso aconteceu. Eles foram retirados do local de trabalho antes mesmo da abertura da sindicância, o que é grave”, argumenta a presidente do sindicato, Valeska Fernandes.
A postura da gestão evidencia um tratamento desigual, avalia. “Desde já, a prática de assédio deve ser cessada, ou qualquer coisa que leve à suspeita de assédio. Os dois profissionais foram transferidos sem sindicância, sem escuta. Já os gestores, que agora estão sob sindicância, seguem normalmente no cargo. Isso é claramente dois pesos e duas medidas.”
Valeska destaca que o afastamento prévio se deu justamente em razão das denúncias feitas pelos profissionais sobre irregularidades no funcionamento da unidade, o que caracterizaria retaliação. “Essa maré, essa corrente de perseguição, assédio e intimidação, começou quando os trabalhadores começaram a denunciar falhas no processo de trabalho, na assistência, na vigilância sanitária e na regulação de leitos. E aí, quem reclamou foi excluído, transferido, perseguido”, relata.
Ao longo de 2024, pelo menos 18 servidores assinaram um ofício enviado à Secretaria Municipal de Saúde solicitando providências e relataram o adoecimento de colegas em decorrência das pressões sofridas. Servidoras também registraram Boletins de Ocorrência (BO) nas últimas semanas, diante da continuidade dos episódios.
Uma das profissionais relata ter sido trancada em uma sala com o diretor e a coordenadora, sendo coagida a se retratar após alertar colegas sobre favorecimento político. Outras afirmam ter sido ameaçadas de sofrer falsas ouvidorias, excluídas de escalas e vigiadas constantemente por câmeras internas. Para os servidores, a abertura da sindicância acontece com atraso e cobram medidas mais efetivas para proteger os trabalhadores.
O sindicato alerta para os impactos do ambiente de trabalho sobre a saúde mental dos profissionais e, por consequência, na qualidade do serviço prestado à população. “Grande parte do adoecimento mental vem do assédio moral, da sobrecarga, da pressão diária. O trabalhador da saúde, especialmente do SUS, já lida com demandas enormes. Quando isso é agravado por perseguição, o risco de afastamentos e prejuízos à assistência é inevitável”, afirma Valeska.
Para ela, o afastamento de profissionais sem reposição compromete o atendimento e prolonga deficiências na rede pública. “Se um servidor adoece ou é afastado, até que a prefeitura coloque outro no lugar, passam-se meses. Isso impacta diretamente no cuidado à população. E se o ambiente de trabalho não for digno, o serviço prestado também não será”, pontuou.
A sindicalista aponta que os casos registrados na UPA de Serra-Sede não são isolados, o que reforça a preocupação quanto aos impactos à saúde pública no município. “Nos últimos dois meses, o Sindienfermeiros fez visitas a unidades de saúde, UPAs e até ao Hospital Materno Infantil da Serra. Levantamos uma série de irregularidades, que também já foram comunicadas ao secretário de Saúde [Diogo Cosme]. O cenário de sobrecarga, assédio e má gestão se repete em diferentes pontos da rede”, reforçou.
Além disso, ela afirma que a abertura da sindicância não é garantia de justiça. “Pode até ser usada como resposta formal para dizer que algo está sendo feito. Mas o que vamos cobrar é ação concreta. Queremos o retorno dos profissionais transferidos e providências para garantir um ambiente de trabalho digno, porque sem isso não tem serviço digno”.
Procurada por Século Diário, a Prefeitura da Serra não informou, até o fechamento desta matéria, sobre os prazos para a conclusão do procedimento, nem se pretende rever os afastamentos já realizados.