Proposta encontra divergências dentro da própria diretoria e oposição da Amacentro
Os sócios do Clube de Regatas Saldanha da Gama discutirão, em assembleia a ser realizada na próxima terça-feira (9), a possibilidade de venda da área total do local, que abrange espaços como a garagem dos barcos de remo e o ginásio Wilson Freitas, próximo à Casa do Turismo, em frente à baía de Vitória. Contudo, a ideia não é unânime dentro da própria diretoria do clube e encontra resistência por parte da Associação dos Moradores do Centro (Amacentro).

A Assembleia Geral Extraordinária será às 18h30, e também tem como proposta discutir a possibilidade de compra de “um ou mais imóveis para atender todas as necessidades do clube”, conforme consta no edital publicado no último dia 29 de agosto.
A Amacentro demonstrou, em nota, preocupação com a possibilidade de venda. O presidente da associação, Walace Bonicenha, aponta que o local é patrimônio arquitetônico, histórico e cultural, e que o remo, uma das atividades esportivas desenvolvidas pelo clube, faz parte da identidade capixaba. Ele defende que “é preciso preservar a memória da cultura marítima do barco, do remo”.
Walace questiona: “se o clube sai dali, qual será nossa ligação com a baía de Vitória?”. De acordo com ele, com a possível saída do clube, seria somente com o porto, ou seja, “uma relação econômica, comercial, e ficaremos a ver navios”. O líder comunitário relata que, historicamente, “o uso da baía de Vitória sempre foi marcado por barcos”.
“Os portugueses chegaram a Santo Antônio no dia 13 de junho de 1535 após navegar a baía de Vitória, vindos de Vila Velha”, diz. Ele recorda também as Regatas de Santa Catarina, promovendo a disputa entre peroás e caramurus, e que em 1902 foram criados o Clube de Regatas Álvares Cabral e o Saldanha da Gama, com disputas na baía de Vitória.
Walace teme que, com uma possível venda, se abra espaço para a especulação imobiliária no local. Ele rememora, inclusive, que Wilson Freitas, que dá nome ao ginásio que fica na área que pode ser vendida, era um dos maiores remadores do Espírito Santo. O líder comunitário informa que o argumento para a venda é a crise financeira do clube, mas para ele, a alternativa é procurar recursos, por exemplo, com o poder público.
O presidente do Conselho Deliberativo do Clube, Bruno Dessaune, é contra a venda. De acordo com ele, as condições financeiras não são boas, mas é possível se manter sem deixar dívidas. Ele informa que uma incorporadora tem interesse na área, que tem cerca de 11 mil m². “O clube tem uma história naquele local, está ali há 94 anos”, ressalta.
Assim como Walace, Bruno defende que a alternativa é angariar recursos. O presidente do Conselho Deliberativo relata que há dois projetos em andamento. Um é por meio da Lei de Incentivo ao Esporte Estadual, por meio da qual já conseguiram uma empresa interessada em patrocinar um projeto, faltando somente o Governo do Estado repassar para o clube o valor do Imposto sobre Circulação e Mercadoria (ICMS) encaminhado pela empresa.
O outro projeto é da Lei de Incentivo ao Esporte Federal, para captar recursos com empresas, sendo que, de acordo com Bruno, as negociações estão avançadas. Além disso, afirma, há startups buscando o clube para fazer projetos para empresas. Bruno destaca, ainda, a importância social do Saldanha da Gama, já que atende 350 crianças e adolescentes, inclusive de comunidades populares da região, como Forte São João e Romão, com atividades como basquete, vôlei, futebol de salão, remo e atletismo.
Já o presidente do clube, Marcos Hilário Perini, é favorável à venda. Ele alega que o Saldanha enfrenta, há tempos, problemas financeiros, além de problemas de infraestrutura que não podem ser resolvidos diante da falta de recursos. A garagem dos barcos de remo, afirma, está com estrutura comprometida, portanto, “perigosa”, e o ginásio já foi interditado pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Espírito Santo (Crea/ES).

Marcos informa que já há uma proposta de valor para o terreno, a qual não pode informar. Caso a venda seja aprovada, ele acredita que será possível comprar um outro imóvel “e fazer o clube voltar a ser bastante grande”.
Quanto ao fato de ser patrimônio histórico, Marcos defende que a área considerada patrimônio não pertence mais ao clube, que é o imóvel onde hoje funciona a Casa do Turismo.