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Suely Bispo fala de livro sobre resistência negra no Viagem pela Literatura

Mais: inspiração; personalidades destacadas; e movimento negro na atualidade

A escritora Suely Bispo é a convidada do projeto Viagem pela Literatura, na próxima quarta-feira (26), na Biblioteca Pública Municipal de Vitória Adelpho Poli Monjardim, na Cidade Alta, Centro da Capital, às 15h. A artista, que também é um dos grandes nomes das artes cênicas do Espírito Santo, vai falar sobre o livro Resistência negra na Grande Vitória: dos quilombos ao movimento negro, uma edição revisada e ampliada da obra lançada em 2006.

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Suely Bispo é, ainda, historiadora, mestra em Estudos Literários pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e militante do movimento negro. Portanto, sua obra dialoga bastante com sua área de formação, trajetória profissional e militância, uma vez que o livro traz um panorama histórico dos processos de resistência negra desde o período escravagista, perpassando momentos marcantes do movimento no Brasil e no Espírito Santo, em especial na Grande Vitória.

Cleber Maciel, a inspiração

Uma das suas inspirações foi a obra do já falecido professor Cleber Maciel, o primeiro docente negro do curso de História da Ufes, do qual foi aluna. Cleber é referência em publicações de estudos de temáticas como religiões afrodescendentes e história cultural do negro capixaba, como os livros Negros no Espírito Santo e Candomblé e Umbanda no Espírito Santo. Foi um dos idealizadores do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Ufes e dá nome ao Centro Acadêmico (CA) de História da universidade. Além disso, recorda Suely, o professor foi um dos apoiadores na criação do Grupo Raça, primeira organização estudantil negra da Ufes, na qual a escritora militou.

Do macro ao micro

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Para falar do Espírito Santo, Suely, em sua obra, traz, primeiramente, um resgate histórico em nível nacional, com temáticas como a escravidão; os movimentos de resistência, como os que deram origem aos quilombos; a criação da Frente Negra Brasileira, na década de 1930, primeira entidade do movimento negro; além da imprensa negra, nos anos 1920, que denunciava o racismo.

Movimentos

Suely aponta uma lacuna histórica no que diz respeito a qual foi exatamente o primeiro movimento negro no Espírito Santo no século XX, que é o recorte temporal do qual seu livro trata. De acordo com ela, a obra se concentrou mais no período do final da ditadura e pós regime de exceção. Na primeira versão, publicada em 2006, destacam-se, por exemplo, Movimento Negro Unificado (MNU), Instituto Elimu Professor Cleber Maciel, Movimento Negro de Mulheres, Pastoral do Negro e manifestações artísticas com foco na cultura negra, como o grupo de dança Negra Ô.

Ampliação e revisão

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Na edição revisada e ampliada, a autora afirma manter o texto original, mas com informações mais recentes, inclusive, com um destaque maior para a arte, como a literatura e o cinema negros, que, salienta “estão mais em evidência”. Há um capítulo específico sobre isso, o qual escreveu com Mirtes Santos, advogada quilombola da comunidade de Angelim, no Sapê do Norte, que abrange os municípios de Conceição da Barra e São Mateus, e que hoje leciona em uma faculdade de Cabo Verde, na África.

Quem são?

Um dos nomes mencionados por Suely Bispo na literatura negra capixaba são de pessoas há mais tempo no ramo, como a falecida Vera Viana, considerada uma pioneira no teatro de temática social no Espírito Santo, com assuntos como a população LGBT e as desigualdades nas suas mais diversas formas de expressão. Além disso, foi, enquanto secretária municipal de Cultura de Vitória, uma das incentivadoras da Lei Rubem Braga. Vera foi a homenageada do Festival Nacional de Teatro Cidade de Vitória (Fenatevi), em 2020.

Quem mais?

Os nomes passam ainda pela atriz e escritora Elisa Lucinda; Jorge do Nascimento, que é professor do Departamento de Línguas e Letras da Ufes; e Jurema Oliveira, já falecida, que também lecionou nesse departamento, sendo uma grande referência nos estudos da literatura africana. Entre os escritores negros da nova geração, Suely destaca nomes como David Rocha, Carlos Abelhão, Noélia Miranda e Aline Dias. No audiovisual, talentos como Edileuza Penha de Souza, cineasta capixaba que leciona na Universidade de Brasília (UNB), Adriano Monteiro e Monique Rocha, que entre os trabalhos audiovisuais, está o videoclipe da música Sou Negro.

Conquistas e recomeço

No livro, Suely traz conquistas da comunidade negra que foram concretizadas depois do lançamento da primeira edição, como as cotas raciais nas universidades e em concursos públicos. Também aborda o ressurgimento do Movimento Negro Unificado (MNU) no Espírito Santo. A escritora recorda que esse movimento, no Estado, nasceu no início da década de 1980, mas durou pouco tempo. Foi retomado em 2012. Um dos eventos de comemoração desse ressurgimento é a tradicional Feijoada do MNU, que faz parte do calendário de eventos de Vitória.

Projeto futuro

Suely Bispo prossegue na sua arte de escrever e anuncia novidade para o ano que vem: o lançamento, no primeiro semestre de 2026, do livro Híbrida. O nome faz jus à diversidade de gêneros literários contidos nele, como poema, contos e crônicas. A obra começou a ser escrita na pandemia da Covid-19, quando a autora foi convidada para escrever um conto erótico para uma coletânea que acabou não sendo publicada. Assim surgiu o conto De Pele e Olfato, que faz parte do novo livro. Suely destaca, ainda, o texto Crônica de uma Ausência, que fala sobre a menopausa, tema que, conforme afirma, tem entrado muito em voga, deixando, aos poucos, de ser um tabu.

Até a próxima coluna!

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