Sábado, 11 Mai 2024

Umas no início, outras no fim, cidades capixabas elaboraram seus Planos de Mobilidade

Umas no início, outras no fim, cidades capixabas elaboraram seus Planos de Mobilidade
Estamos falando de 2.154.395 milhões de habitantes e 1.006.293 milhão de veículos. Dados expressivos que representam cerca 60% do número total de habitantes e veículos do Espírito Santo (3.578.067 e 1.647.355 respectivamente). Em termos econômicos, o grupo é para lá de significativo: concentra mais de 60% do Produto Interno Bruto (PIB) capixaba.
 
As quatro principais cidades da Grande Vitória - Vitória, Vila Velha, Serra e Cariacica - e outras seis cidades-polo do Estado - Anchieta, Aracruz, Cachoeiro de Itapemirim, Colatina, Guarapari e Linhares - se movimentam para pôr em prática uma das principais diretrizes do Plano Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU): a obrigatoriedade de que os municípios com mais de 20 mil habitantes elaborem seus Planos Municipais de Mobilidade Urbana. 
 
Por si, os números fornecem uma dimensão da importância de se planejar a expansão urbana. Mas, a eles, vincula-se outro fator, mais palpável: o viés rodoviarista que até aqui orienta as políticas de mobilidade no Estado, seja a nível municipal ou estadual, privilegiando o transporte individual motorizado. 
 
Um quadro pronto e acabado de planejamento urbano precário está em Guarapari, cidade-símbolo de uma predatória expansão imobiliária. Em agosto de 2004, segundo o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), a cidade contava com 17.968 veículos, volume que, uma década depois, mais que triplicaria, com 58.493 veículos. 
 
Mas os demais nove municípios de 10 anos atrás não estão muito distantes: em todos, verifica-se a mais que duplicação da frota veicular, exceto a Capital, que manteve-se pouco aquém do dobro, indo de 105 para 189 mil. Como sabemos, o efeito da multiplicação dos carros causa outra multiplicação: a da extensão dos engarrafamentos, fato que a Grande Vitória vem amargando irremediavelmente há pelo menos quarenta anos. Abrir mais ruas, pontes e avenidas, no máximo, abrandou o problema.   
 
Daí a importância do Plano Nacional de Mobilidade Urbana. O documento estabelece uma série de diretrizes para o redirecionamento do conceito de cidade no Brasil. Uma de suas principais diretrizes inverte radicalmente os valores ao estabelecer a prioridade dos transportes não motorizados sobre os motorizados e do transporte público coletivo sobre o individual motorizado.   
Na Grande Vitória, os municípios ainda estão nos primeiros passos da confecção do Plano. As prefeituras de Vitória, Vila Velha e Cariacica elaboraram o termo de referência; agora, estão em fase de captação de recursos para a elaboração. 
 
A Serra é exceção: a prefeitura informa que os itens referentes ao plano estão contemplados no Plano Diretor Municipal (PDM), de acordo com o previsto na PNMU. O PDM serrano integra itens referentes ao plano de mobilidade urbana, como o plano viário, plano cicloviário, mapa de hierarquia das vias e zonas de mobilidade.
 
As outras seis cidades foram contempladas pelo Plano de Mobilidade Urbana Sustentável (PlanMob). Promovido pela Secretaria de Saneamento, Habitação e Desenvolvimento Urbano (Sedurb) e executado pela empresa Logit, os respectivos planos se limitam ao perímetro urbano dos distritos sede dos municípios e abrem um arco de planejamento do padrão de deslocamento para os próximos 15 anos.
 
Mas há, aqui, um problema. A escolha das cidades contempladas ficou a cargo e ao sabor dos estudos do Plano de Desenvolvimento do Espírito Santo 2025, documento gestado pelo Fórum das Entidades e Federações (FEF) e pela ONG empresarial Espírito Santo em Ação, ou seja, pela elite empresarial do Espírito Santo, e que se blasona uma “nova visão de futuro” do Estado. Qualquer visão que venha dali, certamente não será a da sociedade civil.  
 
O panorama dos tão grandes quanto questionáveis empreendimentos industriais que se avizinham do Espírito Santo pode ser o indício da escolha dessas cidades.
 
Em Linhares, a Manabi se movimenta para implantar um porto e um mineroduto; em Aracruz, estão desenhados os portos da Nutripetro, da Imetame, para atividades de exploração de petróleo, e está em pleno desenvolvimento o Estaleiro Jurong; em Anchieta, a Samarco acabou de receber a Licença de Operação de sua Quarta Usina; Cachoeiro, como cidade-polo da região Centro-Sul, pode receber os impactos dos portos Central, em Presidente Kennedy, para atividades relacionadas ao minério; e Edson Chouest e Itaoca Offshore, em Itapemirim, relacionados ao petróleo. Guarapari, município metropolitano, e Colatina, estão também na zona de impacto dos projetos.
 
Em Linhares, o plano caminha para o texto final. A prefeitura recebeu uma “seleção de alternativas” englobando o estudo e as sugestões colhidas em consulta pública. Em Guarapari e Aracruz, a previsão de entrega é para novembro; em Colatina, Anchieta e Cachoeiro, é para o final do ano.
 
O prazo para elaboração dos planos finda em 2015. Caso contrário, os municípios serão impedidos de captar recursos federais destinados à mobilidade urbana.  Sua aplicação é de fundamental importância não apenas para fins de planejamento urbano, como também para requerer auxílio junto à União - uma dor de cabeça para muitas prefeituras, que, como o pós-chuvas de dezembro de 2013 mostrou, não dispõem de quadros qualificados para elaboração de projetos.

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