Quinta, 02 Mai 2024

A avó da Europa

Reis e rainhas sempre existiram pelo mundo, em qualquer tempo e circunstância, alguns mais alguns menos. No entanto, a casa real britânica, por algum motivo que nossa vã filosofia não percebe, está sempre sob os impiedosos holofotes dos intrometidos olhares da plebe. Esses bafejados pela sorte não tiveram tanta sorte assim - mesmo ricos e charmosos e vivendo em uma bolha de regalias, tem sempre um paparazzi correndo atrás. Será que eles se reúnem para assistir ao seriado Crown?
*
Uns mais outros menos, uns poucos menos ruins que alguns outros, todos deixaram sua marca na história, não apenas do chamado Reino Unido, que de unido nada teve. Como você se sentiria se tivesse que passar todas as noites por um corredor exibindo uma extensa galeria de cabeças coroadas eternizadas por pintores famosos? São os nobres antepassados, e os descendentes não dormem direito ao perceber os olhares de censura naqueles rostos sisudos: Como vocês deixaram o reino desandar desse jeito? O passado é um fardo terrível.
*
Reis, rainhas e suas longas proles tiveram que fazer escolhas radicais: o nome de família era Saxe-Coburgo-Gota, de origem alemã. Depois da Segunda Guerra decidiram mudar para Windsor, mais inglês do que o chá das cinco. Por que um nome tão simples para uma coroa tão pesada? Aqui entre nós: Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Bragança e Habsburgo. Imagina assinar tudo isso. Foi então que inventaram os carimbos. Toda manhã, ao acordar, o imperador deveria escolher: Qual nome usarei hoje? Nós também temos que fazer escolhas radicais: Meghan ou Katie? Diana ou Camilla?
*
Os anos correm e muitos costumes ainda em uso no nosso tempo foram ditados por eles. A tradicional Marcha Nupcial tocada em 9 entre dez casamentos dos dias de hoje, sejam de plebeus ou da mais pura realeza, foi composta por Mendelssohn, um compositor alemão, e tocada no casamento de uma das muitas filhas da Rainha Vitória. Escolha da noiva. Os casamentos arranjados entre as monarquias para estreitar alianças e influências, e expandir o território tornavam as princesas reais peças de alto valor no jogo do poder. Costurando casamentos estratégicos para suas filhas, a Rainha Vitória entrou para a história como a "avó da Europa".
*
A humanidade pagou um alto preço por esses casamentos arranjados entre as famílias reais. As relações consanguíneas geraram monarcas doentes, loucos, tarados, tiranos prepotentes, cruéis e sanguinários. Agentes passivas, quase todas essas princesas criadas no luxo e no alheamento aos problemas sociais que incrementaram, tiveram destinos trágicos ou no mínimo melancólicos. Mas quando tiveram o poder não se saíram melhor que os homens que moldaram nossa sociedade.

Veja mais notícias sobre Colunas.

Veja também:

 

Comentários:

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Visitante
Quinta, 02 Mai 2024

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://www.seculodiario.com.br/