O que você poria na sua cápsula do tempo?

Disse Santa Tereza: a imaginação é a louca da casa. A bela frase nunca foi tão atual como nos dias atuais, quando o bom senso bateu asas e já fui! Abusando do contexto, vamos imaginar que recebemos um convite de uma importante organização internacional oferecendo uma cápsula do tempo para qualquer cidadão ou cidadã sem antecedentes criminais e com algum dinheiro disponível para comprar e ali depositar o que queira preservar para além do futuro.
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Se é que o futuro existe, ou seria fabricação de mentes enlouquecidas? Quem, nesse mundo ou no outro, foi lá e voltou para contar? Olha, amigo, fui ali no futuro e você não estava…quem chegou tão longe? Mal acordamos para o próximo amanhecer e o futuro já pulou para o dia seguinte, sempre um passo à nossa frente, por mais rápido que a gente amarre o cadarço do tênis e corra atrás. O futuro é um dos eldorados da imaginação humana, como encontrar a galinha dos ovos de ouro ou o Musk dividir a fortuna com os pobres.
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O que você poria na sua cápsula do tempo? A opção é sua, mas tendo que respeitar limitações de espaço físico e peso em quilogramas. Portanto, não inclua barras de ouro ou as jóias herdadas de uma tia distante, pois além do excesso de peso, você não vai reaver sua cápsula – pelo menos nessa existência. Teremos outras? Como disse Santa Tereza, use sua imaginação…
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Ponha coisas leves, como a receita do manjar da sua avó, o primeiro caderno do primeiro dia de escola, um abraço apertado, um sorvete gelado. A primeira palavra que aprendeu a ler, o primeiro amor ou o primeiro brinco quando furou a orelha. O vestido do batizado da filha, um poema do Bilac ou da Cecília, a música-poema Construção, do Buarque, que flutuou no ar como se fosse um pássaro. A Lua Branca, da Chiquinha Gonzaga: Ai vem matar essa paixão que anda comigo. As alianças do casamento, que duram mais que as assinaturas no Registro Civil.
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O susto do primeiro beijo, o encanto da primeira história do primeiro livro. Um sonho inconsequente que ficou gravado na memória, um inesperado momento feliz, um dia de chuva, um dia de sol. Um email de quem não dava notícias desde antes de inventarem a Internet. Se o tempo não acabar, sua cápsula vai dançar eternamente no azul do infinito, passando por estrelas ainda não alcançadas pelos telescópios da Nasa, preservando a emoção do primeiro amor e da primeira decepção.
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Nas asas da imaginação podemos alcançar o infinito, e além dele tudo que não aconteceu porque os acasos da sorte se intrometeram: como teria sido se…antes de lacrar as portas da sua cápsula, inclua uma frase do Dalai Lama: “Tem apenas dois dias no ano em que nada se pode fazer: um é chamado ontem e o outro amanhã. Então hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer, e principalmente, viver”. Olha pra cima, lá vai ela…flanando ao vento como sua imaginação.