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A casa engraçada

A casa muito engraçada do Vinícius – que as musas o tenham – não tinha teto não tinha nada. Essa casa engraçada tem tudo, menos janelas. O motivo da inexistência desses elementos obrigatórios em qualquer arquitetura é um mistério. Talvez o  dono seja muito ciumento, ou a dona não goste de correntes de ar. Pode ser que os pilotis muito altos sejam um perigo para as crianças. Uma ou duas,  ou talvez as seis, podem despencar da janela e quebrar um  braço.
 
 
Tais situações de risco são inerentes a qualquer casa, sem a necessidade de eliminar as janelas, que, convenhamos, toda casa precisa ter para que se possa ver a paisagem ou as janelas alheias, e usufruir o ar fresco ou a poluição. Os transtornos podem ser eliminados ou minimizados com o uso de trancas, grades,  redes  e cadeados, guardando as chaves aquele ou aquela que tem fobias aos pecados do mundo que nos cerca.
 
 
 Talvez o dono não tivesse dinheiro para comprar  janelas, que com o acréscimo do vidro para permitir a passagem da luz gratuita fornecida pelo sol, custam uma nota. Eliminando as janelas elimina-se causa e efeito de uma só vez, com grande economia no valor da construção.  Ou, muito pelo contrário, o dono teria dinheiro demais, e não importa em qual fortaleza se tranque, hoje em dia o chamado elemento suspeito sempre acha um jeito de arrombar uma janela.
 
 
Mas a casa sem janelas não é nenhuma novidade, visto que as casas foram inventadas muito antes das janelas. Os gregos conseguiam captar a luminosidade natural com todos os cômodos saindo para um pátio central. Os ricos tinham jardins. Os assírios e os egípcios foram os primeiros a abrir janelas para ver e serem vistos. Assim nasceu a fofoca. Os romanos foram os primeiros a usar vidro nas janelas, o que permitiu aquecer os banheiros com a luz  solar.
 
 
Tentando dar à coluna o status de utilidade pública, digito a palavra windows (janela para os não iniciados), e o Google me brinda com 600 milhões de sites sobre o Windows da Microsoft, e um bilhão e 600 sites sobre os games Windows. Digitando janela, apenas, tenho 3 bilhões e 700 mil resultados, indicando que nem tudo está perdido – nos preocupamos mais com o lar-doce-lar do que com os apetrechos tecnológicos que nos isolam do convívio familiar.
 
 
Amontoados nesses três bilhões estão os fabricantes, os consertadores, e os limpadores de janelas. A Gang das Janelas, por exemplo, garante um serviço excepcional nas janelas residenciais e comerciais. Uma equipe de técnicos especializados valoriza cada cliente, sem os quais, eles admitem, a Gang das Janelas seria apenas um sonho. Há muito estou fora do Brasil, e aqui só os muito ricos limpam janelas, mas fico imaginando se nossas janeleiras semanais oferecem tanto apreço e eficiência.
 
 
E como nem só de madeira e alumínio se faz uma janela, tem também o Doutor das Vidraças, sejam elas de imóveis ou móveis, quer dizer, casa ou carro. Essa grande oferta de serviços faz suspeitar de uma grande demanda, comprovando o óbvio – instalar e manter janelas custa caro. E assim solucionamos o mistério da casa engraçada… a não ser, claro,  que os donos sejam gregos.

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