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A cobra trocando de pele

Os principais indicadores econômicos confirmam que o Brasil enfrenta um período de estagnação que os críticos do governo já transformaram em “recessão técnica”, como se o país tivesse entrado irremediavelmente num buraco sem fim por tempo ilimitado.
 
Mesmo sabendo-se que há aspectos positivos como as boas safras, os investimentos em infraestrutura e os avanços nos indicadores sociais, o fato é que, a um mês das eleições para presidente e a renovação do parlamento, o cenário ficou bastante negativo para o governo, atacado como omisso e incompetente pelos candidatos de oposição.  
 
Deixando de lado o tiroteio eleitoral, podemos fazer uma dupla leitura da situação econômica. Em primeiro lugar, os dados conjunturais indicam que a inflação escapou um pouco ao controle, mas está apenas 1,5% acima da meta anual considerada razoável – 5%. Mexendo nos juros básicos da economia e no câmbio, o governo vem levando a situação com a barriga, sem trocar o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que está no cargo desde o governo Lula. Por conta disso, as indústrias reduziram um pouco suas atividades e perderam parcialmente a disposição de investir, enquanto os consumidores tiraram um pouco o pé do acelerador. Um pouco, mas foi o suficiente para mexer nos índices de desemprego e reduzir o nível de confiança no potencial de crescimento da economia.
 
Em segundo lugar, o maior problema está nos dados estruturais, que indicam uma rigidez preocupante na economia brasileira. O valor do endividamento do Estado (nos níveis federal, estadual e municipal e, ainda, nas empresas estatais) supera o valor dos orçamentos públicos. Paga-se mais de juros do que se investe em educação, saúde e segurança. Na prática, o chamado serviço da dívida é a prioridade governamental. Colocando como ponto de honra a garantia da remuneração do capital financeiro (que abrange os bancos, as financeiras, as corretoras, as seguradoras e os investidores particulares do país e do exterior, que podem ser individuais ou grupais, por exemplo, bancos, fundos ou empresas), o governo se mantém submisso ao jogo das finanças globais. Medidas como a criação do banco dos BRICS acenam como uma esperança longínqua de libertação.
 
Como maior arrecadador, planejador central e maior investidor, o governo amarra e condiciona a realização de investimentos ao manter uma lista enorme de projetos prioritários para os quais faltam detalhamentos técnicos e, também, os respectivos recursos econômicos. A transposição das águas do rio São Francisco se arrasta como cobra vadia, gerando um enorme descrédito na capacidade de gestão do governo. Planejada pela Petrobras em sociedade com a PDVSA da Venezuela, a grande refinaria de petróleo do Nordeste paira no horizonte como uma gigantesca interrogação. Enquanto isso, falta dinheiro para ferrovias, rodovias e portos. Mas felizmente não falta para tapar o buraco dos investimentos sociais.
 
Na face externa, retratada pelo balanço de pagamentos, houve uma erosão dos indicadores, como o desequilíbrio da balança comercial em favor das importações e o déficit no balanço de pagamentos, que desde 1822 tem sido o calcanhar-de-Aquiles da economia brasileira. Caminhamos para 200 anos de independência política e submissão econômica aos capitais internacionais.
 
Com tudo isso, seis anos depois da crise financeira que provocou a quebra de bancos nos EUA, na Europa e na Ásia, a economia brasileira está de pé. A maioria das pessoas já nem se lembra dos fatos de 2008, quando saíram de cena algumas grandes empresas brasileiras como a Aracruz e a Sadia, cujas atividades entretanto foram mantidas sob outras identidades.
 
Tudo indica que a economia brasileira está trocando a casca, como os ofídios e os sáurios. Será conveniente, necessário e/ou prudente trocar (o)a mágic(o)a de plantão no Grande Teatro Político do Planalto?
 
Não importa muito se no momento o Brasil está com baixo crescimento, em estagnação ou em recessão técnica: o fundamental é que, no próximo quadriênio (2015-2018), o país mantenha o foco na redução das desigualdades socioeconômicas, que há de ficar na história como a marca dos governos do PT.   
 
LEMBRETE DE OCASIÃO
 
“As principais formas de governo são as ruins e as muito piores”
 
Millôr Fernandes

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