Quando o golpista cai, quem se levanta é o Brasil
Por José Carlos Pigatti
Pela primeira vez em mais de dois séculos de República, o Brasil assiste a algo que sempre pareceu impossível: militares de alta patente da Marinha e do Exército e um ex-presidente da República sendo responsabilizados, julgados e presos por atentarem contra a democracia. Não é pouco. Não é cotidiano. É histórico.
E para a sociedade brasileira, para o povo trabalhador, para quem sempre esteve na linha de frente da defesa das liberdades, da soberania popular e da Constituição, este momento tem um significado profundo: a verdade finalmente alcança aqueles que, por muito tempo, se colocaram acima da lei.
O Brasil sempre carregou uma ferida aberta: golpes militares, quarteladas, intervenções autoritárias, presidentes depostos, torturas, censura – e nenhuma punição.
Os responsáveis pelos ataques à democracia, desde a República Velha até a Ditadura de 1964, sempre escaparam pela porta dos fundos da história.
A impunidade se naturalizou. A farda virou esconderijo. O silêncio virou regra.
Agora, pela primeira vez, o país rompe esse ciclo. Agora, o recado é outro: quem tenta derrubar o voto do povo, responde por isso.
Por que isso importa tanto? Para a povo trabalhador, democracia nunca foi uma palavra bonita para discurso – foi, e sempre será, condição de existência. Sem ela não há trabalhador organizado, não há movimento social nas ruas, não há sindicato, não há direitos, não há liberdade de pensamento.
O golpe que tentaram não foi contra um governo, foi contra o povo, contra o direito de decidir, contra a soberania popular. Por isso, ver militares e líderes civis finalmente pagando pelo que fizeram, é mais do que justiça: é reparação histórica.
A esquerda sempre disse que instituição democrática não combina com tutela militar. Que quartel não pode mandar no voto. Que arma não substitui urna. Que soldado não é dono da nação.
Quando oficiais da ativa e da reserva conspiram, tramam e atacam o Estado de Direito, eles não traem um governo, traem o Brasil. E pela primeira vez, são tratados como qualquer cidadão: investigados, julgados, condenados. A farda, enfim, deixa de ser escudo. O militar, enfim, deixa de ser intocável.
Responsabilizar não é revanchismo – é democracia. Alguns tentam pintar a punição como perseguição. Não é. Perseguição foi o que a ditadura fez com operários, estudantes, sindicalistas, jornalistas, camponeses.
O que vemos agora é Justiça funcionando. É institucionalidade. É Constituição viva. A democracia não está se vingando. A democracia está se defendendo.
A esquerda sempre defendeu que os militares devem estar subordinados ao poder civil, como em qualquer democracia madura. Este momento abre a porta para algo que o Brasil sempre adiou: reestruturação das Forças Armadas; fim da tutela velada; formação republicana; foco em defesa nacional, não em política. O país começa a colocar cada um em seu lugar: político na política, povo no poder, militar nos quartéis.
O que estamos vivendo é a prova de que o Brasil não está condenado a repetir seu passado. De que o golpe não é destino. De que a democracia, quando protegida pelo povo e por instituições firmes, pode vencer a sombra.
A sociedade brasileira, principalmente o povo trabalhador, olha esse momento com esperança ativa, aquela que não espera sentada: é esperança que faz a luta; que aprende; que ensina; que cobra; que organiza; que constrói o futuro com as mãos calejadas do povo trabalhador.
Porque quando a democracia vence, todo trabalhador vence. Quando o golpista cai, quem se levanta é o Brasil.

