Sábado, 27 Abril 2024

A flor do tempo

Não é fácil tentar rabiscar estas escassas linhas enquanto a TV lá na sala informa ao mundo que Neymar perdeu a chance de marcar um gol. Tá russo! grita a pequena audiência se apertando nas poltronas. Deu pra entender que não assisto jogo de futebol, jogo nenhum na verdade. Mas é realmente impossível não se deixar contaminar por um evento que, até poucos meses atrás, era a alegria dos brasileiros. De repente, tem brasileiros e brasileiras torcendo contra.

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Os tempos mudam, disse Confúcio, quando a flor de lótus de seu jardim não emergiu, como deveria. Estranha flor, a do lótus: submerge em águas turvas e dorme na lama, para renascer branca e pura como neve recente (depois vira gelo e perde a graça). Por isso é símbolo de renascimento e pureza. Teimosa, mística: morre, renasce…ressurreição, renovação. Talvez seja disso que nosso maltratado Brasil está precisando: mais flores de lótus nos nossos lagos e jardins.

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Termina o tempo regulamentar, zero a zero, nada de novo no fronte. Aposto contra o relógio qual terminará primeiro: a prorrogação lá no Catar ou essas mal traçadas linhas em um laptop americano. Gritos assustadores na sala - Neymar fez um gol ou quebraram a última garrafa de vinho? A esperança baila no ar, mas o inimigo não dorme nas trincheiras e o jogo não terminou ainda. Einstein inventou que o tempo é relativo: 15 minutos devorando uma caixa de chocolates não é igual a 15 minutos de um jogo apertado e decisivo.

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A honra da nação verde-amarela está nos pés de 10 sujeitos que estão na escassa lista dos mais bem pagos do planeta. E nas mãos de um goleiro. Apesar de todo o tempo transcorrido, nunca esquecemos o final da Copa de 50, quando o mundo todo apostava no Brasil. Maracanã recém-inaugurado, lotado, o time da casa precisando apenas de um empate…a flor do lótus desperta no fundo do lago, desfaz o abraço das pétalas e sobe devagar em busca da luz. Fênix renascida do lodo.

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Mesmo se seu destino é vir à tona, ela pode encontrar obstáculos que a impeçam de emergir - no meio do caminho tinha uma pedra, ou um galho de árvore tombado pela chuva, ou um predador faminto…silêncio na sala. Que vença o melhor, disse Confúcio, sem conferir o resultado do jogo no celular. E foi ver o que aconteceu com suas flores.

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