Terça, 14 Mai 2024

A hora da verdade

 

Há exatamente um ano, na ocasião do lançamento do livro “Memórias de uma guerra suja”, dos jornalistas Rogério Medeiros e Marcelo Netto, o site IG publicou uma série de reportagens sobre o conteúdo bombástico da publicação, que desvela os bastidores dos anos de chumbo da ditadura militar, contados pelo ex-delegado do DOPS (Departamento de Ordem Político Social) do Espírito, Santo Cláudio Antônio Guerra – um dos principais executores do regime militar. 
 
Entre os episódios de execuções narrados por Guerra, o ex-delegado revelou que o jornalista José Roberto Jeveaux, dono do jornal Povão, fora morto a mando do empresário e deputado federal Camilo Cola (PMDB) que, à época, classificou as acusações de Guerra como “sem pé e nem cabeça”. 
 
Apesar de Camilo Cola negar qualquer participação no crime, ocorrido no início dos anos de 1980 - quando o empresário se lançava na política -, Guerra voltou a acusar o deputado de ser o mandante do crime. Camilo Cola estaria sendo chantageado pelo jornalista, que ameaçava divulgar “podres” do empresário. 
 
Na última sexta-feira (10), em depoimento à Comissão da Verdade do Sindicato dos Jornalistas do Estado (Sindijornalistas-ES), o ex-delegado deu novos detalhes sobre a execução de Jeveaux. 
 
Guerra esclareceu que Camilo Cola era um dos principais financiadores das ações da ditadura militar de repreensão à esquerda brasileira. O ex-delegado revelou que a morte do jornalista foi encomendada por Camilo Cola numa das reuniões com os chefes do Serviço Nacional de Informações (SNI), que aconteciam no Edifício Iapi, em Vitória. 
 
Cláudio Guerra teria sido convocado a participar do crime, mas teria se recusado a fazê-lo, alegando uma proximidade de amizade com o jornalista. A amizade, arrepende-se o hoje pastor da Assembleia de Deus, não foi suficiente para pelo menos alertar o jornalista do crime que estava sendo premeditado para tirar-lhe a vida. 
 
Esse novo depoimento de Cláudio Guerra à comissão instalada pelo Sindijornalistas para apurar casos de violações de direitos humanos e crimes cometidos por agentes da ditadura militar contra profissionais de comunicação, apesar de não ser inédito, continua sendo muito grave, pois o ex-delegado dá novos detalhes sobre todo o processo de premeditação do crime e reafirma a participação de deputado do PMDB como mandante. 
 
Caro leitor, ponha-se no lugar dos familiares de José Roberto Jeveaux. Imagine a sensação de impotência da família ao ouvir o testemunho contundente de um dos homens que operou para o aparelho repressor da ditadura, apontar, sem vacilar, quem é o autor do mando do crime que tirou a vida do jornalista. 
 
Embora, há exato um ano, diante da mesma denúncia o empresário tenha dado de ombros às acusações do ex-delegado, é necessário que o crime do jornalista seja apurado e os responsáveis punidos. 

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