sexta-feira, julho 18, 2025
26.9 C
Vitória
sexta-feira, julho 18, 2025
sexta-feira, julho 18, 2025

Leia Também:

A República contra os bananas

O chauvinismo bolsonarista entra em curto-circuito

A reviravolta política recente no panorama brasileiro se deveu, inicialmente, à ida de Eduardo Bolsonaro, deputado federal licenciado do PL, aos Estados Unidos, na tentativa de pressionar pela anistia de seu pai, já condenado como inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e, agora, em vias de ser condenado penalmente, com as alegações finais da Procuradoria Geral da República (PGR).

Tal movimento, junto com o jornalista Paulo Figueiredo, neto do ex-presidente militar João Figueiredo, além de pleitear a anistia de Bolsonaro e seus próceres, tenta ainda atingir o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, com apelos de Eduardo Bolsonaro a Donald Trump, e o secretário Rubio por um dispositivo chamado Lei de Magnitsky Global, que pode aplicar sanções como a revogação ou negação de vistos para entrada nos Estados Unidos, além do bloqueio de contas bancárias e transações comerciais.

Agora, o Bananinha desembarca em Washington, tentando dobrar a aposta, em busca de novas sanções do governo de Trump, para viabilizar a anistia de Jair Bolsonaro. Como se sabe, um dos resultados desse pleito internacional foi o tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros que são exportados para os Estados Unidos. Tal medida levou agora às reuniões do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB), tanto com industriais como com o agronegócio, para pressionar o governo dos Estados Unidos, e se possível, junto ao empresariado norte-americano, também prejudicado pela previsão de tais tarifas, por um acordo.

Outro efeito além do tarifaço foi um discurso disparatado de Trump sobre caça às bruxas, supondo uma perseguição política contra Bolsonaro, como se episódios como o de 8 de janeiro e as outras articulações golpistas que agora estão em fase final de processo de condenação dos envolvidos no Brasil, se tratassem, na verdade, de um viés conspiratório do atual Executivo e de ritos autoritários de um lawfare brasileiro, uma ditadura de toga, em que um líder nacionalista teria sido tomado por alvo.

Contudo, o tiro saiu pela culatra dentro do Brasil, pois o governo Lula, que se encontrava numa saraivada de críticas na azáfama em torno do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), ganha sobrevida ao tomar para si a perspectiva de resistência contra uma ingerência estrangeira, em que todo o chauvinismo bolsonarista entra em curto-circuito, pela sua já conhecida subserviência bovina e até de sabujice diante da figura de Donald Trump.

Tal postura de lacaios agora se aprofunda num tarifaço antipatriótico, detonando uma crise até com empresários milionários que aderiram a todas as sanhas bolsonaristas, mas agora se veem atingidos diretamente pela trama diplomática do Bananinha. E, no meio desse imbróglio, foram registradas manobras patéticas, como a do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que, de trumpista açodado, logo correu para apagar o incêndio com o empresariado paulista.

O tarifaço favorece Lula e coloca Bolsonaro em uma posição contraditória. A direita ainda tenta responsabilizar a esquerda por tal medida de Trump, se fiando no discurso surrado de que a articulação do Brics, além de um anti-trumpismo do governo, seriam os responsáveis diretos pela tarifaço. Esse viés da direita logo desmorona quando se tem evidente e à luz do dia o ataque à soberania nacional, em meio de estultices e tiques de viralatice da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, que aprovou uma moção de louvor a Trump. Por fim, toda essa encenação aproxima o Executivo e o STF, renovando o republicanismo em face de um problema comum.

Por sua vez, nas suas alegações finais, a PGR defendeu a condenação do ex-presidente e mais sete réus na ação penal que analisa se houve uma tentativa de golpe de Estado. O procurador-geral da República, Paulo Gonet, ao falar sobre Bolsonaro, afirma que “as evidências são claras: o réu agiu de forma sistemática, ao longo de seu mandato e após sua derrota nas urnas, para incitar a insurreição e a desestabilização do Estado Democrático de Direito”.

“As ações de Jair Messias Bolsonaro não se limitaram a uma postura passiva de resistência à derrota, mas configuraram uma articulação consciente para gerar um ambiente propício à violência e ao golpe. O controle da máquina pública, a instrumentalização de recursos do Estado e a manipulação de suas funções foram usados para fomentar a radicalização e a ruptura da ordem democrática”, diz o PGR.

E Gonet continua: “as evidências revelam que o ex-presidente foi o principal coordenador da disseminação de notícias falsas e ataques às instituições, utilizando a estrutura do governo para promover a subversão da ordem”. E conclui: “portanto, cabe a responsabilização do réu pelos crimes descritos na denúncia”.

Não há, na verdade, qualquer possibilidade de uma anistia, seja dentro do Brasil, e muito menos por vias de uma ingerência trumpista através de pressões de uma guerra comercial. A fantasia de pretensos exilados nos Estados Unidos é nada mais que um viés infantilizado de meninos mimados, que se voltarem ao Brasil, estarão correndo riscos de condenação judicial, e ao fim, o que acontece e irá seguir é a fuga destes poltrões e quiçá do ex-presidente, que já pode vislumbrar um abrigo na embaixada norte-americana, caso o caldo entorne.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Blog: poesiaeconhecimento.blogspot.com

Mais Lidas