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A tirania sempre mira a educação

O poder da emancipação humana possibilitado pela educação sempre foi a maior ameaça à tirania, principalmente a educação integral nos moldes freireanos. São “armas” colocadas na mente humana e que nenhum recurso, nem mesmo a tortura, pode remover.

Historicamente os regimes totalitários miram na educação e, porque não dizer mais fervorosamente na filosofia, suas armas. Isso porque a capacidade de reflexão e o cultivo da dúvida, próprios da filosofia e da construção da cidadania, impedem a passividade, possibilitando ao ser humano a construção de seu mundo próprio, que nem sempre está em sintonia com o “mundo social, moral e conveniente” imperativo da sociedade.

As regras de funcionamento social estão muito mais voltadas para uma política de massificação de condutas que possibilite às classes dominantes a permanência de sua hegemonia de valores, sempre convenientes, deixando clara a colocação de cada um em seu lugar.

Naturalmente, essa construção conta com ferramentas de comunicação de massa, definidas no século passado por Theodor Adorno como “Indústria Cultural”, que através da grande mídia, de forma sutil, e às vezes nem tanto, estabelece esse “lugar de cada um”.

Transitar na sociedade, rompendo essas bolhas morais para acessar uma realidade além dos regulamentos, traz uma visão muito mais própria da imensa capacidade do ser de construir sua moral no exercício ético diário, principalmente por que, como dizia o poeta, “é preciso viver e viver não é brincadeira não…”.

Quando o ser humano cidadão descobre que em troca de sua submissão aos regulamentos, o Estado não cumpre sua parte do contrato, ele se sente enganado, aviltado, muitas vezes partindo para a subversão desses regulamentos, na construção da possibilidade de sua vida, mesmo no contexto desfavorável que lhe é imposto, uma vez que esse Estado se encontra muito distante do ideal kantiano em que o regulamento refletiria a ética social.

As consequências dessa série de equívocos proporcionam “estados paralelos”, muito comuns nas periferias dominadas pelo tráfico, onde seus chefes preenchem as lacunas deixadas pelo Estado, desde a solução de conflitos até o oferecimento de serviços essenciais, assistência social, etc.

Com isso, a chefia do crime adquire a simpatia e a proteção da comunidade que, abandonada e traída pelo Estado, se torna pelo menos conivente com o crime, quando não sua base de apoio. Também resulta dessa relação a política de segurança pública baseada em “caça ao bandido”, que é cara e ineficiente, geradora de promiscuidade e corrupção, tanto que, no geral, a localização das bocas é do conhecimento de todos, inclusive das forças de repressão e não são extintas, restando a pergunta: por quê?

Enfim, a construção social sólida só pode acontecer no exercício pleno da cidadania e esta é construída pela educação integral, que clareia ao ser humano sua liberdade e responsabilidade, nos mais diversos setores dessa sociedade. Ele precisa se sentir parte ativa dessa construção, para aí sim, sacrificar paixões pela razão, sabendo que o que está em jogo é a possibilidade de vida em grupo, com o objetivo inequívoco de facilitar a construção de sua felicidade. O que fica difícil quando a presença do Estado só é percebida na repressão e cobrança e o cidadão não se vê representado no jogo de interesses que o move.


Everaldo Barreto é professor de Filosofia

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