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Águas que correm mas não saem do lugar

Se todas as águas correrem para o mar, morreremos de sede

Se temos dia para tudo e todos os dias são santos, em 8 de junho rendemos nossa modesta homenagem às águas que nos cercam e nos servem no Dia Mundial dos Oceanos, outrora chamados os sete mares. Amyr Klink, que entendia dessas águas, disse: O mar não é um obstáculo, mas o caminho. O tema deste ano é “Despertar Novas Profundezas”, e a ação proposta é ‘Catalisar a ação para nossos oceanos e clima”. I pessimista: Se todas as águas correrem para o mar, morreremos de sede.

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O mar oceano cobre quase 70% da superfície terrestre, donde se conclui que os primeiros hominídeos deveriam ter aprendido a viver no mar, usando a parte seca do globo apenas para cultivo e meio de transporte. Dorival Caymmi cantava: É doce morrer no mar / nas ondas verdes sonhar. Essa imensa massa líquida não está aqui por acaso, e dela precisamos para subsistir – o mar produz 50% do oxigênio que precisamos para viver.

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Mas não satisfeitos em danificar o planeta terra, lá vamos nós poluindo também nosso planeta água. Os entendidos calculam que existem hoje de 75 a 199 milhões de resíduos de plástico flutuando nas águas salgadas. Sem mencionar ainda a poluição provocada por centenas de navios de cruzeiro riscando os mares diariamente, despejando nas águas azuis milhões de toneladas de dejetos.

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Nós, brasileiros, vemos o mar como um bem comum, um direito de todos. Nada como um domingo de sol e vento brando, ondas mansas e trajes exíguos para o descanso a que todos temos direito. Para isso, o bom Deus nos presenteou com 7.367 quilômetros de praias banhadas pelo generoso oceano Atlântico. O mau-caráter é exatamente o que chamaram de Pacifico. No entanto, no fim do dia e no fim de semana, deixamos nessas praias toneladas de dejetos que vão boiar nas águas por alguns séculos, matando as espécies marinhas. Consciência ecológica não é para qualquer um.

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Os alarmistas proclamam, mas tal e qual aconteceu com João Batista, eles pregam no deserto. E não ouvimos o ultimatum: a humanidade tem apenas dois anos para salvar o planeta. Após 2026, o inferno é o limite. Já os mais otimistas avisam que aguentaremos bem até 2050, e depois não tem mais jeito. Ou o jeito será encontrar outro planeta para migrarmos, e começar tudo de novo.

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Arthur C. Clarke: Como é impróprio chamar de Terra a este planeta que é de oceanos. Caminhamos sobre areia movediça, mas onde há esperança tudo se ajeita. O mar é um milagre contínuo: sua imensidão nos atordoa, e uma feiticeira chamada gravidade não permite que ele transborde. Madre Tereza disse: O que estamos fazendo é apenas uma gota no oceano. Mas o oceano seria menor se faltasse essa gota. De gota em gota o mundo vai sobrevivendo, sempre rezando por mais milagres.

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Walt Whitman: O mar é um milagre contínuo; os peixes que nadam – as rochas – o movimento das ondas – os navios com homens neles…existe milagre mais estranho? Flutuar sobre essas águas profundas é mesmo um milagre da natureza e da tecnologia: o maior navio de cruzeiro do mundo é o Icon of the Seas, que fez sua viagem inaugural em janeiro. Cinco vezes maior que o Titanic, o mastodonte custou cerca de oito bilhões de reais e pode acomodar, alimentar e divertir 7.600 passageiros, e os 2.350 tripulantes que vão servi-los.

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O subproduto desse turismo desenfreado infelizmente não é como a chama das velas, que se dissolve no ar sem prejudicar ninguém. Isak Dinesen: A cura para qualquer coisa é água salgada – suor, lágrimas, ou o mar. Vamos pois honrar essas águas que nos levam, nos banham, nos alegram e nos ajudam a sobreviver em terra firme. Ambrose Bierce disse, Oceano: Um corpo de água ocupando dois terços de um mundo feito para o homem – que não tem guelras. Mesmo assim, navegamos.

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