Segunda, 29 Abril 2024

Ainda há saída?

Neste sábado (20) completa um mês que mais de 100 mil tomaram as ruas de Vitória. Proporcionalmente, a marca foi a maior do país. Essa adesão maciça às manifestações mostrou a fome de democracia do povo capixaba, que passou por um amargo jejum durante os oito anos  (2003 - 2010) nos quais Paulo Hartung esteve no poder. 
 
Sem dúvida, a ocupação dos espaços público mexeu com as multidões, criando o fenômeno das ruas.  Impressionou também o poder de mobilização das massas via redes sociais, que funcionam antes, durante e depois dos atos. Antes, porque é a ferramenta mais eficiente que se tem hoje para articular os protestos; durante, porque a divulgação das informações são transmitidas em tempo real, com riqueza de detalhes e fartura de fontes; depois, porque os manifestantes iniciam uma imediata discussão após cada protesto.
 
Todos esses fenômenos, no entanto, estão dando um verdadeiro nó na cabeça dos governantes, que o diga Casagrande, que após um mês de protestos seguidos e mais 12 dias de ocupação da Assembleia Legislativa já não sabe mais o que fazer. 
 
O governo, desde os primeiros protestos, se fechou para o diálogo. Como outros governantes, Casagrande também foi traído pela soberba. Ele apostava que os protestos eram passageiros e sumiriam das ruas com a mesma velocidade que surgiram. Engano. O número de manifestantes diminui, mas o trabalho da polícia aumentou, porque os grupos que estão nas ruas hoje são mais organizados.
 
Os manifestantes, que nos primeiros atos não tinham foco, agora têm pauta com nome, sobrenome, endereço e tudo o mais, ou seja, agora eles sabem exatamente o que querem. 
 
A presunção do governo impediu a construção de um canal de diálogo legítimo com as massas. Se observarmos o histórico dos protestos e a reação do governo nestes 30 dias, fica patente que o governo nunca esteve aberto ao diálogo. Quando teve oportunidade de estabelecer esse canal, designou interlocutores despreparados para representá-lo. Resultado, o governo esperou o bonde passar para sair correndo atrás
 
Não adianta procurar culpados a qualquer custo, como fizeram no protesto desta sexta-feira (19) Casagrande e o secretário de Segurança André Garcia. Ambos insistiram em criminalizar os manifestantes, convencer a população que aqueles que estão nas ruas hoje são bandidos, vândalos e baderneiros. 
 
Desculpas à parte, a sinuca que Casagrande se encontra foi armada por ele. Foi o próprio governador que se encurralou. Casagrande procura uma tacada perfeita para acertar na bola da vez sem bater na seguinte e, assim, se safar da sinuca. A jogada resume-se no seguinte: o governo precisa retomar o controle das ruas, mas não pode ou não deve entrar em rota de colisão com os manifestantes, como tem entrado. 
 
A polícia, por sua vez, a instituição a qual Casagrande tem recorrido sistematicamente para conter os protestos, na base de bombas de gás, spray de pimenta e muita bala de borracha, já está no seu limite. Sendo requisitada quase todos os dias para "guerrear" nas ruas, a polícia, assim como o governo, está perdida, buscando um ponto de sensatez entre a omissão e o abuso, mas não encontra.
 
O problema é que o jogador que segura o taco não está nos seus melhores dias. Nesta sinuca criado pelo próprio governador, o receio é que o taco espane é provoque uma tacada tão sórdida que leve a própria bola branca para o buraco. 

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