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As balas do Brasil

A salada de frutas é coisa nossa. Come-se salada de frutas em muitos lugares, eu sei, mas não é a mesma coisa. Já tive traumáticas experiências pedindo a salada do cardápio para deparar com um pratinho de frutas enlatadas. Ou de melão com melancia, ou de banana com abacate. Come-se, claro, mas deviam ter outra denominação. Às vezes, porém, o cardápio traz uma surpresa – Salada de frutas brasileira. Quase igual.
 
Como a castanha do Pará que virou castanha do Brasil, como a depilação brasileira nos salões de beleza, a salada de frutas vai mesmo virar Salada brasileira. Tradicionalmente, a autêntica, inimitável e inigualável sobremesa de frutas frescas picadas e misturadas tem que ter mamão, manga, abacaxi, banana, maçã… Mas influências adversas forçam contantes variações, dependendo das frutas disponíveis, do local, da época do ano, da ocasião e do gosto dos comensais. Alguns põem laranja, outros não.
 
Aderindo ao modernismo e estrangeirismo arraigados na alma brasileira, hoje em dia é comum a adição de uvas e morangos, por exemplo, frutas que não eram habitués no mercado da Vila Rubim. Antigamente se usava groselha, hoje usam creme de leite. Os exagerados acrescentam leite condensado, mas que fazer? Somos todos viciados na latinha da moça.  Tem até quem põe no feijão e chama de sobremesa.
 
Acho que o Brasil é o maior consumidor dessa doçura no mundo. Subproduto do que já era bom, surgiu o brigadeiro, melhor ainda. Quem inventou devia ganhar medalha de honra. Como imaginar festa de aniversário de criança sem brigadeiro de forminha?  Antigamente o bolo era obrigatório, hoje é o brigadeiro. No aniversário de um neto errei a receita e ficou meio mole, e ouvi um pirralho perguntando ao outro, “Já comeu o brigadeiro molhado?” Mesmo assim, acabou.
 
Deu no Wikipédia que o leite condensado foi inventado pelo francês Nicolas Appert em 1820, quando pesquisava a esterilização e conservação de alimentos em embalagens herméticas.  Mas um sujeito chamado Marco Polo já era fã do produto quando de suas andanças pela China. Ele escreveu que os  tártaros conheciam o processo de condensar o leite, mas sem açúcar. Ainda bem, pois os estaríamos acusando de ter inventado o tártaro dos dentes.
 
Esses asiáticos inventaram quase tudo, sobrou pouca coisa pra nós. Não que sejam mais inteligentes, apenas chegaram mais cedo. Na Internet há muitas receitas para fazer o leite em casa, mas o caseiro precisa de muito açúcar, talvez pela falta do recipiente hermético. Em 1888, o Jornal do Comércio do Rio de Janeiro anunciava o “leite condensado suíço” à venda por 600 réis a lata. Quanto seria hoje? Um centavo ou duas latas por dois centavos?
 
Alison Spiegel, que escreve no blog The Huffington Post, diz, “Tem certos alimentos que amamos tanto que comemos diretamente da embalagem com uma colher.  O leite condensado é um deles…. Quem acha isso desagradável, é porque nunca provou do jeito certo”.  Concordo. Consumido no mundo todo, em algumas partes da Asia é usado para adoçar o café. E foi assim que o conheci, tipo café com leite.
 
E como leite condensado combina com tudo, voltamos à salada de frutas, que está ganhando a fama de ser uma criação brasileira. Que nem a bala perdida e a bala de leite condensado, entre nós popularmente chamada de brigadeiro. Não podemos esquecer que o nome vem de um militar. Assim que  for merecidamente adotado pela culinária internacional,  vão mudar o nome para Balas do Brasil. Favor não confundir…

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