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As Batalhas da Caneca

Tempestade ou céu de brigadeiro

A caneca adornada com a foto do casamento foi adquirida na festa do primeiro ano de feliz união. Muitos outros anos se passaram, e a caneca continua entronizada em local de destaque, motivo de constantes conflitos. Quando um filho, por descuido ou implicância, a usa, ele briga – Tantas canecas nos armários, pega outra! Ela discorda – Pode usar! Se quebrar, a gente compra outra. Importante é o casamento, não a caneca. Ele insiste na proibição, ela deixa rolar, no que ficou conhecido como as Batalhas da Caneca.

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Os anos se acumulam sem pressa e a caneca continua inteira, quando tantas outras do uso diário chegam e partem – nos dois sentidos. Ele zeloso – Essa caneca não pode! Tem foto do casamento nas paredes, tem foto do casamento no porta-retratos ao lado da TV,  tem outra na porta da geladeira – a caneca resiste às intempéries e ocorrências: Se tem bodas, tem que ter bolo.

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Casamentos são eventos comuns, acontecem a toda hora, mundo afora, com ou sem certidão comprobatória. Ninguém checa as estatísticas antes de assinar a papelada, indiferente aos prós e contras, bons e maus momentos, tempestade ou céu de brigadeiro. Juntos para sempre, todos juram. Resistindo a filhos e netos teimosos e faxineiras descuidadas, a caneca continua em exposição em seu nicho de honra. Ele: Se eu não cuidasse!

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Caneca é só um objeto, se quebrar a gente cola. Casamento é um contrato social, se quebrar não tem cola que restaure. Se fosse bom não precisava assinar papel no cartório, na presença de testemunhas. Mesmo assim, as estatísticas são favoráveis: mais da metade cumpre o contrato até que a morte nos separe. Ela: A caneca foi dada para ser usada, não é troféu em exposição. Ele: É um símbolo da minha paciência… Aí começa outra briga.

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Quando um não quer dois não brigam, diz o ditado. Casamento é como prato bem feito – precisa de fogo lento e tempero leve. Deixa cozinhar sem pressa, pouco sal e fogo lento, mexendo sempre pra não deixar queimar. Errou no sal? Põe umas batatas…primeiro ano, bodas de papel: o primeiro carro, o primeiro filho. Dez anos, bodas de cristal: Filhos na escola, a compra do primeiro apartamento, o primeiro computador. Outro filho? 

Fim de semana em hotel de luxo para comemorar as Bodas de prata. Tem certeza que já se passaram 25 anos? Formaturas, aves que partem, os primeiros celulares. Bodas de pérolas: 30 anos, o primeiro neto. Demorou hem! O tempo corre como um trem bala: 50 anos, bodas de ouro num transatlântico sobre as águas azuis do Caribe. Rumo aos 60, bodas de diamante. Se ainda estivermos vivos.

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A caneca mudou de lugar porque os netos não respeitam as regras da casa. Ninguém reclama, afinal, é só uma caneca! Apesar das imagens já um tanto desbotadas, o que vale mesmo é o presente da presença. As fotos dos muitos aniversários vão se acumulando nas paredes – 65: bodas de platina, 70: bodas de titânio… Eu sempre disse que ela é teimosa! Não aguento mais esse futebol o dia todo!

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