Sábado, 27 Abril 2024

​Suicídio: teorias dos modelos cognitivos

Os modelos cognitivos sobre o suicídio se detêm aos aspectos ambiental e aos acontecimentos que contribuem para o ato. Na teoria cognitiva clássica, tem-se a contribuição de Aaron Beck, que coloca os termos numa tríade cognitiva, de esquemas e distorções.

No aspecto cognitivo, é registrado o fenômeno da negatividade, que envolve uma visão negativa sobre o futuro, sobre si mesmo, e uma visão pessimista sobre o mundo, uma combinação que pode levar a uma situação de ideação suicida e, geralmente, estas três visões são fruto de uma mesma tendência, que pode ser colocada como a negatividade em si.

No aspecto de esquemas, há uma condição em que existem comportamentos de certa forma estáveis, que reúnem noções sobre si próprio, sobre os outros e ao meio em que a pessoa vive. Por sua vez, as distorções envolvem erros de interpretação, uma visão que decorre de sensações catastróficas, dicotômicas, ou ainda uma inferência arbitrária.

Na década de 1970, época em que se desenvolveu a Escola de Beck, foram utilizados instrumentos psicométricos que produziriam as Escalas de Desesperança e de Intenção Suicida, o que é bem curioso, ao fazer uma escala métrica de sentimentos subjetivos, isto é, colocar em termos objetivos as condições subjetivas da ideação suicida.

A ideia de rigidez cognitiva aparece então ligada à incapacidade do suicida de encontrar alternativas para a resolução de seus problemas, e têm noções como a de Roy Baumeister, que coloca o suicídio como escape de uma dor psicológica intensa. A fuga vem da tentativa de sair de afetos negativos, e que Roy define como desconstrução cognitiva.

No fenômeno do que se chama borderline, por sua vez, há a desregulação emocional, por exemplo, na sua definição, a terapia comportamental dialética, que vem da proposta de Marsha Linehan.

Nesta abordagem do borderline, esta terapia de Linehan tenta trabalhar os aspectos dialéticos da mente, em que se pode conhecer os déficits nas aptidões para a resolução de problemas, e uma falta de validação da esperança como fonte de mudanças. E a ideação suicida, neste contexto, tem fatores ambientais e comportamentais, pois nos fatores ambientais, são observados os modelos suicidas e nos fatores comportamentais, os aspectos afetivos e cognitivos.

Na teoria dos modos, que foi desenvolvida primeiro por Beck em 1996, e depois estendida por Michael Rudd, que é a teoria dos modos suicidas, estes que são unidades de estruturas cognitivas que se contêm os esquemas. Tais esquemas são suborganizações que tentam elencar a personalidade, e nesta se encontram aspectos cognitivos, afetivos, e também as motivações. Nestes esquemas temos convicções, crenças, que estão ligados à memórias, experiências de vida, condutas e a tão repetida capacidade para resolver problemas.

Thomas Joiner, em sua teoria interpessoal-psicológica, coloca o desejo de morrer numa perspectiva que envolve sentimento de não pertencimento, que seria um deslocamento do sujeito em relação a seu ambiente, e também a noção de o sujeito se sentir um fardo dentro da família, passando também por uma ausência de medo da morte. O suicida pode estar em isolamento social, num estado de desconexão e alienação social.

Outras concepções também passam por relações de estresse em que o suicida se encontra sem saída, numa espécie de ratoeira em que se mistura a desesperança e, mais uma vez, a incapacidade de resolver problemas. Há também o suicida que não consegue mais evocar razões para continuar vivendo, e que pode estar ligadas a traumas de infância ou de adolescência.

Por fim, uma ideia importante sobre o fenômeno suicida, nos modelos cognitivos da terapia psicológica, é a da incapacidade de resolver seus problemas, uma ausência de recursos que o coloca numa situação de vulnerabilidade em que fica sem saída e sem alternativa, numa espécie de circuito fechado delineado por sua incapacidade de discernir uma saída para a sua situação.


Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Blog: http://poesiaeconhecimento.blogspot.com

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