Burarama
1.
Um jequitibá, a sombra de uma mangueira e um pouco de sol. Burarama não pediu muito a Deus. Mentira: pediu sim. Mas só a Pedra da Ema. Vai ver o representante de Cachoeiro, em audiência para a criação da Terra, apresentou a Ele uma humilde lista de requisições, provavelmente anotadas num pedaço qualquer de papel, um saco de pão, o verso de um envelope empoeirado. Tendo obtido o divino consentimento, agradeceu e seguiu caminho.
Mas estancou ao primeiro passo. A tentação do “que que custa, né? ” turvou-lhe o juízo. Esquecera-se dela. Difícil crer, mas, sim, esquecera-se. Sem hesitar, pediu mais uma graça para Burarama. Queria uma pedra. Não uma qualquer. Imaginava algo brutal e comovente.
Graça concedida. Além de pedaço de pau, mangueira e sol, Burarama ganhou a Pedra da Ema. Vocês sabem o que é a Pedra da Ema?
2.
Na lista não constavam cachoeiras.
3.
A sombra é boa sob a velha mangueira da velha casa. Estende-se um metro à nossa frente, muito embora seja parca a luz: o dia andou meio assim, caminhando entre sol e nuvens, mas abafado e calourento, indefectivelmente fiel ao cachoeirense calor de Seneg... perdão, ao senegalês calor de Cachoeiro.
4.
Não é fácil chegar ao jequitibá. Também não é tarefa para semideuses. Uma boa caminhada mata adentro e morro acima e pronto: ei-lo, Sua Majestade, o jequitibá de Burarama. Embaixo, a terra úmida e ao redor, os súditos, árvores, folhas que caem, galhos que pendem, troncos caídos e um pedacinho de céu aqui e ali lá em cima.
Mas o jequitibá, o tronco do jequitibá, jequitibamente colossal...
5.
Num ponto qualquer das pedregosas estradas de barro pode-se sentar tranqüilo que, ali, atrás, à frente, se verá uma beleza feita basicamente de árvores e flores. Na seção inferior, borboletas sobre o relvado. O que não falta em Burarama são borboletas.
6.
Eram pequenas com asas meio cor de abóbora voejando para cá e para lá. Umas cem à beira da estrada. Cada qual na sua. Coloriam o verde do mato. Engraçado é o voo: completamente desengonçado.
7.
No chão os meninos jogam bola de gude; no bar os homens jogam bocha. E assim segue o baile em Burarama.
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