Segunda, 06 Mai 2024

Câncer em metástase



Nem as decisões mais rigorosas da Justiça, que agiu exemplarmente no caso do mensalão punindo políticos e empresários de primeira casta, parecem ter assustado àqueles que carregam o DNA da corrupção.



Duas reportagens publicadas nesta terça (27), além da série que revela o tamanho dos tentáculos da Delta, do contraventor Carlinhos Cacheoira, no Espírito Santo, mostram que a câncer da corrupção está em plena metástase no Estado. À busca ensandecida por dinheiro, prestígio e poder parece não ter fim nem limites.



A reportagem sobre o esquema das placas do Detran-ES, por exemplo, revela uma prática bastante corriqueira na administração pública. Um grupo de pessoas bem articuladas, contando com informações privilegiadas, antecipa uma jogada para se dar bem e encher, rapidamente, os bolsos de dinheiro.



O esquema é simples. Dependendo do ponto de vista, é até legal, embora passe longe da ética. O grupo que articulava a operação tinha conhecimento de que o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) regulamentaria o uso de placas refletivas. A oportunidade estava criada, bastava ter as pessoas certas nos lugares certos para pôr o plano para funcionar na hora “H”.



A manobra para beneficiar meia-dúzia de empresas que forneceriam a nova placa era a garantia de dinheiro certo. Afinal, a frota estadual é de mais de 1,4 milhão de veículos. Mais cedo ou mais tarde, os proprietários desses veículos precisariam cumprir à resolução do Contran e comprar a nova placa. É uma aposta praticamente sem risco.



O risco estava, justamente, no fato de alguém identificar e obstruir o esquema. Foi o que aconteceu. O governo percebeu ou foi alertado sobre a manobra e acabou exonerando os dois principais articuladores, que já estavam infiltrados na autarquia para pôr o plano em andamento. Desta vez não deu. Mas como quase ninguém é punido no Brasil quando o crime de corrupção é consumado, a tentativa então... Bem, foi só uma tentativa. Deve ficar tudo por isso mesmo.



O caso do Instituto de Atendimento Socioeducativo (Iases), sempre ele, é mais, digamos, amador. O gerente de Segurança da autarquia, de acordo com a reportagem, diga-se, bem sustentada em fatos, recorreu à prática de falsificar um histórico escolar do ensino médio para participar de um processo seletivo para agente socioeducativo.



Fora a fraude, que acontece aos montes com históricos escolares e até diplomas universitários, chama a atenção a carreira relâmpago do funcionário na autarquia. Só isso já fornece elementos de sobra para comprovar que há “alguma coisa estranha no ar”. O funcionário entra como agente, em seguida é promovido para subgerente e, logo depois, gerente de Segurança. Tudo num piscar de olhos. 



Preocupa mais nessa história o fato de o delegado da Defraudações ter alertado o diretor-presidente do Iases, Leonardo Grobberio, sobre outros casos de documentos fraudados por servidores da autarquia. Ele até sugere ao diretor-presidente que convoque a Corregedoria da autarquia para apurar as “diversas” denúncias. Só um parêntese: se no Iases é assim, imaginem na Secretaria de Justiça do ex-secretário Ângelo Roncalli. Que tal uma auditoria nos concursos e processos seletivos da Sejus?



Voltando ao Iases, fica a pergunta: será que o sucessor de Silvana Gallina, que permanece presa por corrupção, seguiu o conselho do delegado e promoveu uma devassa para extirpar de vez o câncer da corrupção no Iases? Ao que parece, não. Caso contrário, ele não manteria o funcionário suspeito de fraude no cargo e nem tampouco o nomearia para presidir o último processo seletivo da autarquia, que aprovou mais de 1.700 novos agentes.

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