Segunda, 29 Abril 2024

Cavalo de pau

 

Mal assumiu o comando da prefeitura canela-verde o prefeito de Vila Velha, Rodney Miranda (DEM), já começou espetaculizar suas ações. De cara, sem pestanejar, o novo prefeito pegou a caneta e exonerou 1,2 mil servidores comissionados de uma só vez. 
 
A medida populista tem o objetivo de causar um impacto forte na população e ratificar a imagem de “valentão” que Rodney explorou tão bem durante toda a campanha eleitoral. Parece que a iniciativa já surtiu o efeito desejado, pelo menos na mídia, que abriu amplo espaço para noticiar os primeiros atos do prefeito.
 
Na mesma linha populista, Rodney conseguiu destaque dos jornais ao anunciar o cancelamento do contrato de fornecimento de café que a prefeitura mantinha com uma empresa. Segundo o prefeito, o corte representará uma economia de R$ 700 mil anuais aos cofres municipais. Indignado, ele classificou o contrato como um “desrespeito à população”. 
 
Quanto ao cafezinho, tudo bem Rodney anunciar a medida para mostrar austeridade. Se bem que essa iniciativa de cortar café já está um pouco manjada. Muitos governantes, em início de gestão, sem saber bem o que vão cortar, começam pelo café. Passado o impacto da medida, o café volta a ser servido normalmente.
 
Com relação aos servidores comissionados, a situação é muito mais complexa. Para qualquer gestor mais sensato, cortar num só golpe mais de 1,2 mil servidores comissionados parece uma medida um tanto irresponsável. Será que alguns serviços não ficaram descobertos?
 
Para amenizar o radicalismo do ato, o prefeito afirmou que pode reverter qualquer exoneração em 15 dias, sem ônus para a prefeitura. Mas admitiu que preferiu fazer o corte de uma só vez. Só assim, segundo ele, conseguirá promover “uma limpeza geral” na administração.
 
Mas fica a pergunta: para não precisar voltar atrás e ter de reverter alguma exoneração não seria mais prudente esperar que os secretários fizessem primeiro uma avaliação dos funcionários para depois definir a lista dos exonerados? Impetuoso, Rodney não quis esperar. Preferiu mostrar que é valente e que a sua gestão será marcada por medidas “corajosas”. 
 
O jornal, para que não reste dúvida, condena as práticas clientelistas que costumam usar a administração pública como balcão de negócios para empregar afilhados e correligionários políticos. Como já defendemos aqui muitas vezes, essa é uma prática abominável que precisa ser extinta. Que isso fique bem claro. Mas também reprovamos práticas populistas, como as empregadas por Rodney, que provocam muito barulho e resultados pífios. Basta lembrar o que o prefeito fez quando esteve à frente da Segurança Pública. Muito espetáculo midiático e um rastro de cadáveres vítimas da violência sem precedentes que marcou a sua gestão.
 
Ainda com relação à demissão em massa dos comissionados, mais prudente foi o prefeito de Vitória, Luciano Rezende (PPS), que teve humildade para dizer que não sairia dando “cavalo de pau”. Disse que prefere estudar melhor a máquina pública e só passar a fazer mudanças mais estruturais a partir do quarto mês de mandato. 
 
Bem mais experiente que Rodney, Luciano sabe que quebrar a cultura política do empreguismo na administração pública não é tarefa fácil que se faz com uma única canetada. Mais para frente, Rodney pode sofrer o rebote da medida na Câmara. Só então ele perceberá que o “cavalo de pau” não foi uma manobra espetacular, e sim uma grande barbeiragem política. 

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